Turismo criativo
[Portal Eventos, 11/11/2014]
A palestrante Caroline Couret, CO-fundadora e CEO da Rede de Turismo Criativo (Creative Tourism Network), veio para nos dizer da nova tendência turística que se espalha pelo mundo. Segundo ela, a definição oficial da prática é de um turismo que oferece aos turistas a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo, seja pela participação ativa em cursos e aprendizados ou pela vivência do que é característico do destino a ser visitado.
Couret afirma que o Turismo Criativo chegou para seguir uma exigência natural da evolução da nossa sociedade. “Uma sociedade que está muito mais consciente do seu “poder de realizar”, que está muito mais treinada e habilitada, não só nas matérias acadêmicas, mas também em humanidades e disciplinas de formas gerais”. Ocorre que observamos a sociedade de hoje com vários lados e personalidades, muito mais informada, pois tem mais acesso à informação, e, portanto, também muito mais responsável.
Estamos a falar de uma nova geração de turistas. O turista que impõe sua nova demanda de conhecimento e a indústria de Turismo precisa estar preparada para isto. A indústria deve ser criativa e trabalhar com uma ampla gama de parceiros para atender a esta tendência, com novos setores que ela não trabalhava antes, como associações, comunidades locais, artistas, etc. e envolvê-los na criação do novo produto do turismo, criando novas histórias, novas emoções. É nisto que os destinos mais conhecidos devem focar agora, segundo Couret.
Claro que as pessoas ainda querem visitar a Torre Eifel ou passar as férias em Ibiza, mas agora elas também querem trabalhar sua criatividade e conhecimento local nos destinos visitados. “As pessoas não estão mais só preocupadas com o “o quê” das atrações turísticas, mas também com o “como?”. Propostas (não queremos dizer produtos, pois existe aí uma forte conotação) que atendam a esta nova demanda dos turistas, que impõem suas novas vontades, e façam parceria com a população local como provedora, terão sucesso”, afirma Couret.
Não precisa ser complicado. O que este turista procura é a beleza nas coisas mais simples, comuns e autênticas. Isso reflete a característica de que as pessoas hoje em suas vidas diárias estão mais envolvidas com o “treinamento de si mesmo”, com o “aprendizado ativo”, e eles querem usar dessa prática em seu lazer ou férias também. Surge assim essa necessidade de uma nova forma de aproximação com os destinos turísticos, no qual o turista quer se sentir vivenciando uma experiência singular.
Vários exemplos já estão sendo implantados pelo mundo, de acordo com a Rede de Turismo Criativo. Na Áustria, alguns hostels que já perceberam esse potencial estão oferecendo aos turistas outros motivos para ficar no local do que uma simples cama para dormir. Eles chamam artistas locais para oferecer aos hóspedes cursos dos mais variados, como pintura e dança.
Em Paris, claro que as pessoas que visitam pela primeira vez têm que ir à Torre Eifel e ao Louvre, mas elas também querem conhecer a cultura local da cidade agora. Então foi criado um programa onde o turista tem a experiência de assar um croassaint ou macarron, por exemplo, que são comidas tradicionais lá conhecidas pelo mundo todo.
No sul da França, pela história artística desta região, tendo Picasso vivido e trabalhado lá, dentre outros artistas, ainda hoje existem estúdios de arte que atraem uma concentração turística, pois as pessoas visitam para conhecer e comprar arte local. Vendo este potencial, criou-se na região a “semana da criatividade”, onde empresas enviam seus funcionários para passar uma semana lá, depois da alta temporada, e tomar aulas.
Nas manhãs, eles aprendem a assar pão tradicional, depois eles têm aulas de pintura, além de outras formas de arte. Assim, esses funcionários passam uma semana de cultura, aprendendo sobre as atividades desta região, além de ver sob o olhar turístico.
Algumas regiões da França estão criando seu turismo criativo até mesmo sem nunca terem tido vocação para turismo, seja por motivos políticos ou outros. Elas estão criando o destino do zero. Eles pensam em programas que podem ser criados com a população local e criam uma relação entre os locais e os turistas. Então eles lançam uma série de atividades de turismo criativo que acabam gerando oportunidades no final.
Ibiza também é um exemplo muito curioso, pois nós todos temos a imagem de Ibiza como um lugar de praia badalada e para sair à noite, o que realmente é verdade, mas lá também há uma herança cultural longa e muitos artistas também escolhem o local para viver e criar. Além disso, na região você também pode se juntar a cursos de, por exemplo, como fazer autênticas sandálias ou aprender a culinária local, e até experimentar ser um DJ em um workshop, produzindo sua própria música e até ser um DJ em um club por uma noite.
Na Thailândia, nós sabemos que eles têm o circuito convencional de mostrar os monumentos e a costa, mas eles também possuem uma história cultural muito interessante que os turistas não conhecem, mas que com a introdução de workshops eles estão tendo um bom modo de apresentá-la aos visitantes, os convidando a ficar por mais tempo, e conhecer a cultura local de dentro para fora.
Na Guatemala, também existe um caso similar ao da Thailândia, em um senso de que existem os circuitos tradicionais, que levam os turistas aos mercados tradicionais e pontos turísticos, mas muitos turistas não entendem a cultura. Sendo assim, os turistas são convidados a descobrir a cultura de uma forma mais profunda. Por exemplo, eles convidam os amantes do café para participar de uma série de atividades ligadas à produção da especiaria.
O Brasil não está para trás. Já vemos iniciativas do gênero em Porto Alegre. Lá, eles oferecem aos visitantes a oportunidade de tomar aulas de dança gaúcha, aprender como fazer o churrasco da região que é tradicional e renomado, dentre outras atividades locais. Os gaúchos estão sendo pioneiros neste tipo de turismo no nosso país.
Esses são todos exemplos que salientam a emersão do Turismo Criativo, que é uma diversificação das ofertas de turismo tradicionais, sem a necessidade de grandes investimentos, apenas com a otimização do potencial da história cultural dos lugares. É um turismo de qualidade, pois adiciona conhecimento de valor ao espectro dos visitantes. É um turismo que deve ser realmente bem vindo, pois nós não queremos um turismo que passa uma imagem artificial dos destinos, mas que os descobre por dentro.
A autenticidade e sustentabilidade deste tipo de turismo estão em assegurar a criatividade como sua fonte principal. O efeito positivo que estas atividades produzem na confiança da população local é imenso e essencial para reforço de sua cultura, pois recupera a intangível herança cultural. Os cidadãos ganham consciência de seu valor, quando alguém vem de fora do país e descobre o quão excepcional é fazer parte de seu universo por alguns dias.
O Turismo Criativo renova e valoriza as tradições. Outro benefício é que ele distribui a concentração turística pelo mundo. Em um futuro cada vez mais próximo, o turista não só viajará para os lugares famosos e durante a alta temporada, mas também para diferentes destinos e experiências que podem oferecer oportunidades de aprendizado humanitário.