Fortaleza pode virar uma cidade dormitório
[Por Diário do Nordeste, 23/05/2013]
Os consultores Paulo Gaudenzi e Raimundo Peres elaboraram o Plano de Fortalecimento do Produto Turístico de Fortaleza (PFTF), a pedido da Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor). A ideia era oferecer subsídios para a cidade tornar-se apta a receber visitantes com melhor qualificação, tendo em vista, em especial, o crescimento acelerado do turismo de negócios e eventos.
Dois anos se passaram e apenas a primeira etapa do projeto, denominada Fortaleza Capital dos Eventos, foi concluída, com a vinda ao destino de grupos de decision makers (tomadores de decisões) para conhecerem a estrutura da cidade e os equipamentos disponíveis para a realização de eventos. Posteriormente, seriam implementadas as etapas denominadas congressuais ou meeting rooms e de feiras e exposições.
O cenário atual mostra que Fortaleza cresceu no segmento de turismo de eventos. Mas, o turismo de lazer e entretenimento enfrenta estagnação. Os especialistas alertam: Fortaleza pode se transformar numa cidade dormitório para o turismo, levando em conta a carência de opções culturais recreativas para os visitantes, relegados aos roteiros de praia e sol, a maioria deles, inclusive, fora da cidade. Eles destacam que o crescimento do turismo tem que ser atrelado ao planejamento prévio, aliando os diversos segmentos da atividade.
Para Raimundo Peres, em que pese melhorias efetivadas, o atendimento em hotéis, bares e restaurantes de Fortaleza continua precário, a oferta de serviços tecnológicos ainda não é a ideal e a mobilidade urbana só tem piorado na cidade. Paulo Gaudenzi reforça: “Além desses gargalos, faltam diferenciais para a Capital. Não estão sendo oferecidas opções de roteiros que priorizem cultura e história”. E completa: “Praia e sol quase todo o Brasil tem e não representam diferencial”.
Gaudenzi sugere reembalar o produto “Capital cearense”, com a criação de apelos turísticos diferenciadores, a exemplo de polos e roteiros de visita que realcem a história e a cultura locais, bem como a arquitetura, a gastronomia e personalidades históricas do lugar. Ele cita José de Alencar e os caminhos de Iracema.
História esquecida
“Por que deixar o turista gastar seu dinheiro fora da cidade e usar Fortaleza apenas como dormitório, se ele pode gastar aqui mesmo, desde que lhe sejam oferecidas boas opções de lazer e entretenimento, além de praia e sol?”, indaga o consultor. Ele entende que Fortaleza deu as costas para a sua história. E enumera equipamentos históricos da Capital que poderiam ser agregados em um roteiro cultural agradável para os visitantes, a exemplo do Passeio Público e da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Além disso, destaca o potencial turístico das barras dos rios Cocó e Ceará e sugere “uma identidade” para a Capital cearense.
Mais afeito ao segmento de turismo de eventos, Raimundo Peres reconhece que o Centro de Eventos do Ceará (CEC) alavancou o turismo de negócios e eventos na Capital. Mas, adverte que o equipamento deve funcionar como um regulador do fluxo de visitantes, priorizando grandes programações, como feiras e congressos, e deixando as de menor porte para os espaços oferecidos pela hotelaria, que iria atuar com essas demandas.
Peres reforça a importância de o destino investir em eventos corporativos, que agregam valor à cidade, além de trazerem elevado retorno financeiro para toda a cadeia produtiva. “Os outros segmentos de turismo agregariam valor ao produto final, no caso Fortaleza”, diz. Ele crê na retomada do PFTF, com a efetiva preparação de Capital para atingir o segmento de mercado turístico mais rico e representativo, além de gerar e qualificar a demanda. O consultor sugere a atração de eventos coerentes com a produção e necessidades locais, que viabilizem ganhos para a economia e não apenas para os promotores.
Raimundo Peres e Paulo Gaudenzi foram duas das personalidades do segmento de turismo que proferiram palestras durante o 43º Congresso Nacional do Skal Internacional, realizado no período de 15 a 19 deste mês, em Fortaleza e Beberibe. O evento visou apresentar os diferenciais do Ceará para os diversos segmentos de turismo, em especial de negócios.
Peres é diretor da empresa Conemar Consultoria & Marketing Ltda. e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt), enquanto Gaudenzi é consultor e, também, acadêmico da Abevt. Por quase 20 anos, ele comandou o turismo na Bahia.