Rio Galeão muda nome para "Maria da Penha"; entenda
[Por Panrotas, 08/03/2017]
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o Rio Galeão passa a dr chamar Maria da Penha. O título temporário (até o próximo dia 18) faz referência a Maria da Penha Maia Fernandes, líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres e vítima emblemática da violência doméstica. O intuito é dar visibilidade à causa e provocar reflexão e discussão de temas relevantes com relação ao direito das mulheres, aproveitando o impacto que um aeroporto pode gerar, devido ao grande número de pessoas que recebe todos os dias.
Junto com o Rio Galeão, a Gol Linhas Aéreas também adotará o título de “Aeroporto Maria da Penha”, na fala dos pilotos durante os pousos e decolagens no aeroporto carioca. Durante o período, o espaço será ambientado com peças da campanha e terá a voz de Iris Lettieri dando as boas-vindas aos visitantes que utilizarem o estacionamento. A Rádio Rio Galeão vai apresentar, durante uma hora por dia, o programa “Agora é Que São Elas”, que terá um repertório com músicas de grandes nomes femininos da MPB. A programação começou hoje e fica até o final do mês, todo dia a partir das 8h.
DADOS DA VIOLÊNCIA
Desde agosto de 2006, Maria da Penha dá nome à lei que aumentou o rigor das punições aos crimes de agressão cometidos contra a mulher no ambiente doméstico. Os números mostram a severidade do problema: Estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que a cada uma hora e 30 minutos uma mulher é assassinada por um homem, no Brasil, simplesmente pelo fato de ser mulher. Este quadro totaliza 13 casos de feminicídio por dia.
Segundo o “Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil”, uma compilação de indicadores nacionais e estaduais realizada pelo Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), do Instituto de Pesquisa Data Senado, mais de 4,8 mil mulheres foram assassinadas em 2014 em todo o País. O estudo considera o número de homicídios de mulheres registrados no ano citado registrado no Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Para cada 100 mil mulheres no País, a taxa foi de 4,6% de assassinatos. Ainda, durante o carnaval, na última semana, o Rio registrou uma agressão a mulheres a cada quatro minutos, segundo dados da Polícia Militar.
BAIXA REPRESENTATIVIDADE
Um estudo divulgado ano passado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Instituto Ethos sobre o perfil social, racial e de gênero nas empresas brasileiras mostrou que apenas 13,6% dos cargos mais altos de 500 grandes empresas brasileiras são ocupados por mulheres. Estudiosos acreditam que um equilíbrio desse cenário só irá ocorrer mais de um século a frente, depois ano de 2116.
O cenário vivido hoje é fruto de um contexto histórico mundial, cujos principais personagens, líderes e heróis eram do sexo masculino. Retratos dessa situação são vistos no dia a dia. De acordo com dados dos Correios, 83% dos logradouros brasileiros que levam nomes de pessoas homenageiam homens – cinco vezes mais do que nomes de mulheres. Na Espanha, por exemplo, um levantamento revelou que só 5% das ruas no País homenageavam o sexo feminino – atualmente, o número ainda não chega a 10%.
Ainda no Brasil dos mais de 30 aeroportos espalhados pelo País, que levam nomes de personalidades da história, apenas um tem o nome de uma figura feminina, o Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia.
LUTA PELA IGUALDADE
Nos mais diversos âmbitos, a busca pela diversidade feminina tem ganhado defensores. Em 2016, a Google e a Apple liberaram aos usuários versões femininas dos emojis de profissões. Em 2017, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) apresentará a primeira mulher responsável pela sua curadoria, a jornalista Joselia Aguiar – antes dela, em 14 anos de evento, apenas uma mulher havia ocupado a posição.
Nas redes sociais, organizações que defendem os direitos das mulheres e o desenvolvimento de estudos sobre o feminismo tem atraído cada vez mais seguidores. Comunidades como o “He for She”, criado pela ONU, já atraem mais de 540 mil usuários da rede. No Brasil, o coletivo “Não me Kahlo” reúne cerca de um milhão de interessados no assunto. Estes exemplos, por outro lado, ainda representam uma parcela pequena dentro da real dimensão da falta de visibilidade da mulher. Há, ainda, os movimentos que visam combater a violência contra mulheres que viajam sozinhas, como “Vamos juntas?” e “#niunamenos”.