Trade turístico excluído da comercialização da Copa do Mundo
[Por Mercado e Eventos, 14/09/2012[
A Copa do Mundo poderia ser uma grande oportunidade para todo o setor turístico brasileiro, mas todos os fatos recentes apontam para uma enorme decepção, pelo menos para os agentes de viagem e operadores. Desde que o Brasil foi anunciado como país sede, a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Viagem) e outras entidades representativas do trade como a Abav, Avirrp e Aviesp tem atuado junto à Fifa e Ministério do Turismo ressaltando a importância da participação do trade na comercialização de ingressos e pacotes do evento.
Apesar de todos os nossos esforços, temos visto que está cada vez mais difícil atingirmos esse objetivo. A Fifa decidiu, unilateralmente, vender os ingressos diretamente aos consumidores pelo seu próprio site, através de um sistema que já está no ar. O raciocínio deles é que esse novo procedimento evitaria fraudes, falsificações e atuação dos cambistas. Por outro lado, os hospitalities (camarotes) já foram vendidos diretamente por poucas empresas credenciadas a patrocinadores que usarão os ingressos para promoções e relacionamento.
Trata-se de uma grande perda, já que é a primeira vez na história das Copas do Mundo em que o trade turístico é excluído da comercialização. Nosso intuito sempre foi o de criar pacotes organizados para oferecer experiências inesquecíveis aos nossos clientes. Comprando o ingresso conosco, eles poderiam adquirir viagens completas para não só assistir aos jogos do Brasil e de outras equipes que contam com grandes estrelas do futebol, mas também para explorar as inúmeras atrações das 12 cidades-sede, espalhadas por todas as regiões do Brasil.
Como sempre a Braztoa esteve empenhada em conscientizar os órgãos governamentais e a própria Fifa sobre a importância da nossa participação e as inúmeras vantagens para eles, para nós e para toda a cadeia turística em nos envolver nesse momento tão especial, já que a população brasileira respira futebol. Infelizmente, nossos alertas e pedidos foram ignorados.
Mobilizaríamos nossa estrutura para montar fretamentos de brasileiros para assistir aos jogos e contaríamos com todos os nossos parceiros: companhias aéreas, hotéis, pousadas, traslados, receptivos, operadores de passeios. Da forma que está, sem ingresso, não podemos nos planejar para aproveitar essa oportunidade para crescer ainda mais, gerando empregos e oportunidades de negócios. Afinal, em 2011, os nossos associados, que representam cerca de 90% do setor, venderam pacotes para seis milhões de passageiros. Para transportarmos todos esses clientes, seriam necessárias 95 aeronaves Airbus A320, com 174 lugares, operando diariamente por todo o ano.
Teremos a primeira experiência durante a Copa das Confederações, em 2013. Nesse evento, a Fifa está tomando as mesmas atitudes e não teremos acesso aos ingressos.
Portanto, há um grande ponto de interrogação para a cadeia turística brasileira. Nossos clientes terão que comprar pacotes sem ingressos ou farão idas e voltas no mesmo dia somente para ver o jogo. Não poderão contar com o apoio indispensável dos seus agentes, cujo trabalho sabemos que faz toda a diferença para quem deseja viajar com tranquilidade, aproveitando cada momento sem se preocupar com detalhes operacionais.
Continuamos fazendo a interlocução com as autoridades brasileiras no intuito de reverter a situação, mas, por enquanto, vai nos restar vender pacotes para os turistas brasileiros que querem aproveitar o período da Copa do Mundo para tirar suas férias e explorar destinos que não estejam recebendo os jogos, ou mesmo para viajar para o exterior? Sem dúvida, essa é uma das soluções para tentarmos compensar as perdas que irão atingir toda a cadeia.
Marco Ferraz é presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Viagem (Braztoa)