ESPECIAL CARNAVAL: contribuição para economia do Brasil
[Por Último Instante, 17/02/2012]
17 de fevereiro de 2012 – Nos próximos cinco dias, os olhos do mundo se voltam para o Brasil. Estamos no Carnaval, uma das festas mais aguardadas no ano, não só pelos brasileiros, mas também pelos turistas que gostam de Sol, tem alegria e apreciam belas paisagens do País.
Apesar da festa, aparentemente descomprometida com questões econômicas, nos últimos anos passou a contribuir com os resultados financeiros do País alavancando os setores de turismo, serviços, hotelaria e gerando empregos para artesãos e até em mão de obra qualificada ( arquitetos, engenheiros elétricos, especialistas em moda, historiadores entre outros).
Um negócio que nas últimas décadas do século passado tinha como referência apenas o Rio de Janeiro, tomou grandes proporções e hoje, o Carnaval move as economias das principais cidades brasileiras, tanto das capitais como dos municípios.
Para mostrar a importância do Carnaval para o País, o Último Instante foi buscar números que os diversos setores conquistam durante os cinco dias e dá até algumas sugestões de lugares interessantes para aproveitar uma das maiores festas populares do mundo.
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro é uma das rotas preferidas dos turistas nacionais e estrangeiros. Por conta disso, a Cidade Maravilhosa será parada obrigatória, principalmente para brasileiros e sul-americanos. Apesar da crise econômica no hemisfério norte, os europeus e americanos também não deixarão de conhecer nossas belezas naturais e aproveitar o verão carioca.
De acordo com uma pesquisa da Riotur para o Carnaval 2012, são esperados 850 mil turistas na cidade, sendo 250 mil deles estrangeiros, movimentando a economia em US$ 628 milhões. Em 2011 a estimativa era de 756 mil turistas, 252 mil estrangeiros.
Segundo com o presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), Edmar Bull, o percentual de pacotes vendidos para os quatro dias do Carnaval representa de dez a 11% do faturamento anual das agências de turismo.
” O Carnaval é um evento muito importante para agências. Entre os principais eventos do ano é o segundo com maior faturamento, só perdendo para o final do ano”, explica. Segundo a Abav, no período, o faturamento das agências de turismo cresceu de 13% a 14% (em reais).
Para este ano serão realizadas seis milhões de viagens, feitas por turistas nacionais e internacionais. Entre os destinos mais procurados estão as cidades de Salvador, Recife, Fortaleza e Florianópolis. No período, a movimentação financeira pode atingir até R$ 5,5 bilhões.
A importância da festa para a economia brasileira é destacada também pela presidente da Associação Brasileira das Empresas de Eventos (Abeoc), Anita Pires. Segundo ela, o evento eleva em mais de 80% o nível de ocupação das cadeias de hotéis de todo o Brasil.
“Nesse período, a ocupação hoteleira é muito grande. Os hotéis ficam com praticamente 100% de ocupação, ninguém tem menos de 80%. Para você ter uma ideia, o sindicato de hotéis do Rio de Janeiro afirmou que, para este carnaval, 80% das vagas já estão reservadas”, afirma.
Além da rede hoteleira, a executiva destaca também a influência positiva do período nas vendas dos setores de alimentos e bebidas, comércio (em especial os estabelecimentos que vendem tecidos) e bares e restaurantes.
São Paulo
O Carnaval de São Paulo, o segundo mais importante do País, levou muitos anos para se firmar e atrair turistas. Hoje, existem na cidade 69 escolas de samba divididas em quatro grupos, além de grandes blocos.
Para atender às necessidades desse público – a grande indústria do Carnaval –, o comércio de São Paulo se preparou e aposta no faturamento.
Fantasias, confetes, máscaras e artigos carnavalescos podem dar, em apenas um mês, o impulso do faturamento de um ano inteiro para o comércio segmentado de alguns lojistas.
Fato esse que é sentido na prática pelo lojista Pierre Sfeir, que possui três estabelecimentos especializados em festas, localizados na região da 25 de março, na capital paulista.
“O Carnaval é o campeão de vendas. É a maior festa nacional. Ele passa do Natal, da Festa Junina, do Halloween e de todas as festas. A partir de março vai começar o período difícil e nós vamos aproveitar o que tivemos de lucro para aguentar até outubro,” declara o lojista.
De acordo com o professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Nelson de Souza, para o segmento, a festa representa aproximadamente 40% das vendas de um ano inteiro destas lojas, opinião compartilhada por Sfeir, que declara ter um aumento de 40% no faturamento comparado aos outros meses.
No período carnavalesco, o proprietário afirma ter uma expansão considerável na movimentação de clientes, que chegam até a 4 mil por dia na semana de vendas mais fortes, enquanto que, em época habitual, as lojas recebem entre 150 e 200 clientes por dia.
Além do maior fluxo de vendas no período, os lojistas também movimentam as contratações, as quais são iniciadas meses antes do Carnaval, a fim de atender à demanda dos clientes.
Já para as grandes redes, que optam por disponibilizar um espaço restrito em suas lojas para o comércio de fantasias e enfeites de Carnaval, e que não têm nestes itens a força das vendas, o impacto é bem menor, conforme avalia o economista-chefe Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
“Nestas grandes redes, não chega a ser significativo o resultado. A gama variada de produtos é muito grande e não é o forte deles esses itens restritos. Eles servem mais para trazer o público à loja”, explica o economista.
Bahia
Seguindo o exemplo do que ocorre no eixo Rio de Janeiro – São Paulo, o carnaval da Bahia deverá movimentar pouco mais de R$ 750 milhões. Este montante tem como base os resultados dos últimos quatro que incrementou a economia baiana em 25%, segundo o governo do Estado.
Para este ano, o número de empregos gerados ao longo do ano, ficou dentro das expectativas, já que os grandes blocos são capitaneados pelas grandes bandas (Cheiro de Amor, Banda Eva e outras), afirmou um dos coordenadores da Usina Produções, Willian Vianna. “Todos os blocos são geradores de empregos. Para que se compreenda melhor essa indústria, nós ainda nem apresentamos o carnaval ainda e já estamos com a programação para 2013. O cronograma já está elaborado e, com isso, os empregos garantidos,” explica.
Para este ano, as estimativas de retorno econômico, apesar dos R$ 750 milhões, estão abaixo de 15%, uma das consequências da paralisação da Polícia Militar. “Mesmo com a volta dos grevistas, a Força Nacional vai permanecer em Salvador para garantir a segurança. Mas vamos ser prejudicados no retorno econômico” avalia Vianna.
Já o superintendente de Promoção Cultural da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia admite que o efeito no movimento seja pequeno. “É um público muito específico, que se envolve muito com o carnaval. São pessoas que se planejam um ano inteiro para participar da festa e têm um vínculo forte com a celebração, que não se quebra muito facilmente. O impacto existe, mas será pequeno”, garantiu
O secretário de Turismo do Estado, Domingos Leonelli rechaçou os boatos. “Isso representa um grande passo para o restabelecimento da normalidade em todo o Estado da Bahia”, disse o titular da Setur.
Para o titular da Setur, os prejuízos para a cadeia produtiva do turismo, principalmente no que diz respeito a bares e restaurantes e ao setor de entretenimento, foram bastante significativos, mas poderão ser recuperados no Carnaval, no restante do verão e na realização de uma série de eventos como o Salão de Turismo e da Feira dos Municípios, de 28 a 31 de março de 2012. “Vamos ter eventos de grande impacto cultural e econômico para o turismo”, assegurou.
O presidente do Conselho Baiano de Turismo, Silvio Pessoa explicou que todos os hotéis de Salvador estão com quase 100% de lotação, tendo registrado alguns “no show” somente esta semana.
Pequenos municípios
O turista que busca festejar o Carnaval em ritmo de nostalgia, ao som de marchinhas, com direito a desfile de fantasias, em cenário distante das grandes cidades verticais, tem na região do interior dos estados a alternativa para os cinco dias de festas e acaba por ser o impulso para a economia local.
Cidades do interior que oferecem opções para o período encontraram na época uma ferramenta forte para desenvolver economicamente o município, gerando empregos e movimentando grandes volumes financeiros.
Percebendo a importância da data, as prefeituras começaram a se movimentar com investimentos destinados ao Carnaval, a fim de atrair turistas e gerar renda para a cidade, fato que foi percebido pela cidade de São Luiz do Paraitinga de 10,4 mil habitantes, segundo Censo de 2000, localizada a 170 km da capital paulista.
“Em 2002, nós percebemos o diferencial da cidade, com o conjunto arquitetônico, a cultura, a musicalidade, as marchinhas, que atraíam muitas pessoas e motivou o crescimento da cidade”, declarou o diretor de turismo, Eduardo Oliveira. A percepção levou a prefeitura a investir anualmente no Carnaval, chegando a destinar neste ano R$ 600 mil para a festividade, que irá receber 150 mil turistas, segundo previsão do município.
Segundo o diretor, os frutos dos investimentos foram colhidos por toda a cidade, não se restringindo aos participantes diretos, mas também aos demais moradores, que foram beneficiados com obras de infraestrustura, realizadas a fim de atender à demanda da cidade para receber os turistas no período.
Em números, o capital empregado pelas prefeituras e empresários para o Carnaval nestas localidades não é de grande volume, comparado aos pólos do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, sendo o retorno expressivo, conforme explica o professor de administração das Faculdades Integradas Rio Branco, Guilherme Moura, que possui mestrado em turismo pela Universidade de São Paulo (USP). “É uma atração de baixo custo para a cidade e para os empresários, tendo o benefício muito bom, com um retorno considerável”, disse.
A cidade de São Luiz do Paraitinga estima movimentar neste Carnaval aproximadamente R$ 15 milhões, com um gasto médio diário de R$ 100 por turista.
Um exemplo de investimentos públicos no período é a cidade de Ouro Preto, a 96 km da capital mineira, que fornecerá R$ 1 milhão, estimando obter de retorno para a cidade R$ 15 milhões.
Diamantina, situada a 290 km de Belo Horizonte, com população de aproximadamente 45 mil habitantes, tem no período um momento forte para a economia, sendo considerada a festa de maior importância para a região. Para este ano, a previsão é que a cidade receba 50 mil foliões por dia, com expectativa que cada turista gaste uma média de R$ 900 a R$ 1,1 mil nos quatro dias de festa programados.
O setor hoteleiro do município ganhará força neste Carnaval, com um aumento de 30% na mão de obra envolvida na prestação dos serviços, fator de importância para os residentes locais.
Segundo o professor Guilherme Moura, a questão de geração de emprego tem sua relevância não só momentânea, com a criação de vagas temporárias, mas também no desenvolvimento e qualificação posterior que esta possibilita para a região.
“No período de festa popular, as cidades que têm a tradição, têm necessidade de contratar mão de obra temporária, aproveitando a local. Com isso, ela passa a ter experiência e se promove um fluxo de qualificação. O trabalhador pode ter a oportunidade de ser absorvido com um emprego definitivo. A festa gera oportunidade de qualificar pessoas que não tinham muita opção de renda”, explica o especilista.
Já na disputa por espaço com os grandes centros carnavalescos do país, Moura acredita que o destaque para as cidades do interior se dá na proporção que os turistas, após já conhecerem as festividades do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Recife, passem a buscar novos locais, experiências e modelos de Carnaval, os quais são oferecidos nestas regiões.
O professor ainda aponta que, a vantagem para estas cidades diante de demais que não possuem na festa popular uma época de fluxo intenso de turistas, se dá pelo fato de “ter um incremento econômico durante o período, enquanto as cidades que não têm o Carnaval, ficam economicamente paralisadas pelo feriado”. Para ele, “o Carnaval é um grande aporte de recursos em poucos dias, gerando um fluxo muito grande de receita, com reflexos para o restante do ano”.
Reflexos econômicos
Mesmo com alguns pontos negativos, o Carnaval permanece sendo um período de extrema importância não apenas para alguns setores da economia mas, principalmente, para cidades que veem neste período boa parte de sua renda anual, explica o professor de Finanças do Ibmec, Eduardo Coutinho.
“O Carnaval é importante para alguns setores, como o de bebidas, turismo e vestuário, mas também para alguns estados, que investem em festas tradicionais e recebem um volume considerável de turistas, aumentando a demanda, nestes lugares, por bens e serviços”.
O período, afirma o professor, eleva também o número de empregos gerados, embora alguns dos postos criados já tenha sido aproveitado pela chegada do verão. Além deste fator, o alto nível de informalidade nos quatro dias de folia também dificulta a quantificação de postos de trabalho.
“Contudo, em contraponto, temos dois dias na semana que deixam de ser úteis e onde riquezas para o país deixam de ser produzidas. Não temos como saber até que ponto isso [o Carnaval] é bom ou não para o país”, ressalva.
A falta de dados que mensurem os gastos públicos no período também é levantado por Anita Pires, que também é coordenadora do Fórum de Entidades do Setor de Eventos.
“Em Florianópolis ano passado nós fizemos um levantamento e descobrimos que a maioria dos turistas que vieram para a cidade não estava em hotéis. Eles tinham gastos mínimos, traziam a própria bebida. Então é um problema você não ter dados que mostrem o quanto é gasto com segurança durante as festas, com a colocação de banheiros [químicos]”, explica.
No entanto, Anita afirma que já estão sendo iniciadas conversas para que seja elaborado um estudo apontando os principais indicadores econômicos do Carnaval em todo o Brasil.
Porém, destaca ela, o Carnaval permanece sendo uma festa extremamente importante dado seu alcance sobre a cadeia econômica brasileira. “Essa é uma festa muito importante, uma atividade que movimenta toda a cadeia. Os eventos acontecem em todas as cidades, grandes e pequenas”.
Um sinal de que nem a falta de indicadores econômicos precisos ou a concorrência desleal dos importados sobre os produtos nacionais apaga o brilho do Carnaval para o povo brasileiro.
Indústria
Apesar do otimismo com um aumento em sua margem de lucros ser a marca registrada de diversos setores brasileiros neste período, a indústria têxtil viu diminuir ao longo dos anos seus motivos para festa.
Aquecida pela demanda por tecidos para a confecção de fantasias no passado, a indústria nacional se vê prejudicada pela entrada expressiva de tecidos vindos de outros países, sobretudo da China.
“O carnaval sempre movimentou bem o setor têxtil, especialmente no segundo semestre que antecede a festa, quando são comprados os tecidos. Contudo, a participação dos importados têm crescido nos últimos anos. A maior parte das fantasias hoje são confeccionadas com tecidos importados da China”, diz a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), em nota.
Ainda de acordo com o texto, a agressiva participação dos asiáticos no mercado brasileiro permitiu com que o setor lucrasse apenas 10% no período, impedindo que o cenário traçado em 2011 fosse alterado. No ano passado, o setor fechou o ano com queda de 14% na produção física.
Comércio
Responsável por mensurar a venda nos supermercados do Estado de São Paulo, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) informou que, ao longo dos últimos anos, as vendas no mês em que ocorre o Carnaval (fevereiro ou março) sobem 9% ante o período imediatamente anterior.
Entre os itens mais comercializados, a associação destaca a boa procura por carnes para churrasco e bebidas, sobretudo cervejas e refrigerantes. Para este ano, a entidade projeta um crescimento de 5% nas vendas durante os quatro dias de festa.
Comments (1)
essas informaçoes deveriam ser postas ao publico de forma mais direta , pois tem muito ignorante por ai que diz que carnaval é só prejuiso
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