"Promoção de eventos precisa da iniciativa pública e privada”
A cidade de Natal, mais uma vez, estará na vitrine do turismo de eventos. Dessa vez sediando um encontro latino-americano que reúne os dirigentes de entidades organizadoras de eventos e daqueles empresários do turismo. O Encontro Latino-Americano da Associação Internacional de Congresso e Convenções (International Congress and Convention Association – ICCA, como é chamado), trará para capital também um encontro reunindo presidentes e diretores das maiores associações médicas, científicas e empresariais do Conesul.
Sobre turismo de eventos, o presidente do ICCA para o Brasil, Maurício Durval Macedo fala com propriedade e se mostra um empolgado. Para ele, que dirige o centro de convenções da Federação da Indústria do Estado do Rio Grande do Sul, os eventos se revestem de grandes oportunidades para potencializar o turismo dos Estados.
Mas o que define a escolha de um lugar para sediar um encontro científico? “Acho que o maior desafio é um trabalho sinérgico entre os dois entes: público e privado. O setor privado por mais que tome a iniciativa, tenha maior agilidade na liberação de recursos, precisa do setor público para reforçar a vinda daquele evento”, Maurício Macedo responde de pronto.
O ICCA, presidido no Brasil por Maurício, é uma entidade referenciada. Fundada em 1963 por um grupo de agentes de viagens. Hoje possui aproximadamente 850 membros em 85 países, facilitando com que profissionais de eventos se relacionem. Os seus membros possuem o benefício de acessarem banco de dados, trocarem informações de eventos e contatos com clientes que estão em potencial.
O ICCA possui um ranking, no qual, anualmente, os principais destinos que realizam encontros internacionais são classificados. Ele serve de base para quem irá tomar a decisão na hora de escolher de um país para sede de um evento, ou seja, quanto melhor a posição no ranking maior a credibilidade e a confiança.
Sobre o turismo de eventos seus desafios e estratégias, Maurício Macedo foi entrevistado do 3 por 4:
Até que ponto o turismo de evento contribui para o retorno do turista de lazer?
Eu vejo um destino como Natal com essa potencialidade muito expressa, porque é um destino naturalmente do destino de lazer. Pelo perfil do destino é o tipo de local que ao sediar um congresso técnico-científico faz com que a grande maioria dos participantes desse evento queiram trazer família junto, queiram antecipar sua ida ou postergar o retorno para aproveitar o destino. Locais mais só de negócios, como grandes metrópoles, têm a movimentação que o evento gera durante sua realização, mas não conseguem realizar tão fortemente como destino com a característica de Natal essa exploração pré e pós evento.
Como o senhor avalia os investimentos que estão sendo feitos em centros de convenções? O de Natal será ampliado, João Pessoa concluiu um novo centro de convenções.
A concorrência entre as cidades vai se tornar mais acirrada. Acho que é bom porque moderniza nosso parque em termos de infraestrutura para eventos. Mas, por outro lado, vejo com cautela que esses trabalhos sejam feitos de forma inteligente, orquestrada. Não adianta que por simples vontade política um deputado, um senador, alguém construa um centro de convenções de porte mundial. É preciso um trabalho técnico, essa atividade exige um reforço político, mas se o destino tem um centro de convenções para 5 mil pessoas, por exemplo, mas a cidade não reúne uma capacidade hoteleira para atrair um evento dessa magnitude, mas tem malha aérea condizente, então dificilmente aquela cidade vai ganhar. Quando eu digo que é preciso um trabalho inteligente, quero dizer orquestrado: qual a vocação do destino, qual a capacidade, qual a infraestrutura hoteleira, turística, nossa gama de serviços de empresas do trade de negócios. Com isso, a cidade de posiciona e tem um dado real. Se o destino está longe, tem malha aérea restrita, não tem grandes atrativos, querer construir um grande centro de convenções, corre o risco de deixar aquela infraestrutura muito tempo desocupada pelo destino não reunir outras características exigidas para sediar grandes eventos. Cada vez mais congressos técnicos-científicos, dos eventos Premium, público com mais recursos, a disputa para atrair esses eventos virou grande alvo para entidades promotoras de destino.
De que forma o turismo de evento é atingido pela crise econômica. Ele sofre as mesmas conseqüências dos outros negócios ou é menor?
Acho que ele (o turismo de evento) sofre um pouco como toda economia sofre. Acho que nesses momentos mais difíceis, momento de crise, os eventos mais consolidados são os que se mantém. Você tem dois eventos, do mesmo setor no período de seis meses, prevalece o evento consolidado. O setor de turismo de negócios sofre como outros setores da economia, mas eu vejo como um setor altamente gerador de recursos e emprego, seja temporário ou permanente. Os eventos continuam acontecendo, o segmento de turismo de negócios se adapta muito rapidamente as tendências, as mudanças, então, acho que é um diferencial e nós profissionais do turismo precisamos nos adequar a nova realidade e ver de que maneira se prejudicar menos ou perder menos. É preciso ver como manter o evento mesmo diante de um cenário mais difícil, desafiador. Eu gerencio o Centro de Convenções da FIERS não digo que não tive cancelamento de evento este ano, mas tive confirmação e tive surpresas boas, de eventos já consolidados que superou o número de inscritos. Mas também tive reuniões para renegociação de espaços, caso de eventos que aguardavam um número de participantes e a realidade foi menor. Essas adaptações estão ocorrendo e é hora do setor se reinventar e se adaptar a esse cenário mais difícil.
Onde fica a responsabilidade do setor privado e público para captar evento para cidade?
Acho que o maior desafio é um trabalho sinérgico entre os dois entes: público e privado. O setor privado por mais que tome a iniciativa, tenha maior agilidade na liberação de recursos, precisa do setor público para reforçar a vinda daquele evento. Toda captação de um grande evento internacional, conseguido por um convention bureau, por exemplo, precisa da assinatura do governador, de secretários, de uma prefeitura. A parte da infraestrutura da cidade é o setor público que pode prover essa questão básica. Itens como segurança, índice de criminalidade, acesso fácil, malha aérea o setor público pode ajudar. Vejo como trabalho de parceria. Não há receita pronta mundo afora, cada destino tem o seu nível de articulação entre os entes públicos. Veja o exemplo de São Paulo como divisão de responsabilidades muito bem estruturada: um faz promoção do destino São Paulo, o convention bureau faz a captação dos eventos que têm condições de vir para o destino, esse trabalho é muito sinérgico. Em outros locais a gente ver uma maior distância entre os setores. O Brasil tem uma dificuldade, em geral, de governos que não continuam, um novo governo desfaz iniciativa bacana de governo anterior, projeto que termina não sendo levado adiante por gestão seguinte. O ideal é o alinhamento entre os dois entes. O trabalho não cessa nunca e é um desafio entre dirigentes do setor público e privado.
Passado um ano da Copa, o que restou da Copa?
A Copa foi uma grata surpresa sobre um ponto de vista. Estávamos muito apreensivos que o Brasil fizesse um fiasco. Houve primeiro a euforia de captar a Copa. Depois veio a frustração da Copa estar chegando e a gente não ter se preparado bem e o medo de fazer um fiasco. Depois veio o alívio de que não houve fiasco e o pessoal saiu encantado com o Brasil. Legado quanto a pessoas que vieram para Copa e manifestaram desejo de voltar ao Brasil acho que a gente tem sim e considerável. Mas a imagem do Brasil com relação a Copa foi muito boa. O que é um pouco questionável é a proporcionalidade. A população brasileira tem vários pleitos de reivindicações junto ao Governo e nós vimos um volume muito alto de recursos investidos em estádios, arenas e complexos. Isso, certamente, é questionável. O fato de ter atraído gente do mundo inteiro, o Brasil ter ficado na vitrine é positivo. O legado é que é o desafio: construiu uma arena no Pantanal, construiu no Amazonas, e agora como movimentar? Esse é o desafio. A dúvida que eu tenho é o fato de ter construído uma arena com muito custo, mas em um Estado que não tem tradição do futebol. A dúvida que paira é saber até que ponto foi feito estudo de viabilidade técnica para essas arenas.
Por que a definição por Natal para sediar o evento do ICCA Latino-americano?
Natal é Natal, mas representa o Brasil nesse evento. A escolha se deu por uma articulação do Convention Bureau de Natal que no comitê brasileiro da ICCA, que reúne os 18 membros, somos 81 membros na América Latina, pelo fato do Brasil representa o maior número de membros entre os países latino-americanos, foi definido que o evento seria no Brasil. Nós desenhamos ações estratégicas para o nosso pais ganhar mais destaque junto a ICCA e uma das ações que a gente identificou seria postular o Brasil para sediar o encontro latino-americano. Natal manifestou o interesse em sediar e nós definimos que o bloco único do país seria Natal. Nesse evento que ocorrerá aqui (em Natal) estaremos diante de clientes diretos, pessoas que definem o local onde ocorrerão os eventos. É uma oportunidades que os membros do ICCA têm de se aproximarem diretamente do seu cliente, dirigentes de associações que realizam congresso e, por sua vez, parceiros de outros lugares da América Latina, dirigentes de centros de convenções, por exemplo. Esse é um evento de público restrito, mas um público altamente influenciador e formador de opinião.
Bate volta
Na hora de definir um evento, o que conta: são duas coisas, cada vez mais o componente técnico está presente nessa decisão. É uma análise técnica mesmo, de uma comissão. É preciso também analisar a estrutura do destino, malha área, a infraestrutura do local e a rede hoteleira. Por outro lado não pode negar o caráter político disso: a decisão se dá em âmbito de presidência de associação ou comitê diretor e isso, muitas vezes, o dirigente da associação é quem tem o poder de decidir. O destino ter profissionais de área como influência e poder de decisão naquela entidade interfere bastante.
Maurício Durval Macedo é administrador do Centro de Convenções da Federação da Indústria do Estado do Rio Grande do Sul. É presidente para o Brasil Associação Internacional de Congresso e Convenções (International Congress and Convention Association – ICCA), órgão que reúne os órgãos de turismo, congregando os empresários do setor.
A capital potiguar vai sediar o Encontro Latino-Americano do ICCA, evento que ocorrerá entre os dias primeiro e quatro de setembro, no hotel Serhs. O evento reunirá cerca de 70 dos maiores organizadores de eventos e autoridades de turismo dos países da América Latina. Nesse período também ocorrerá em Natal o 9º Client Suplyer Business Network, onde participam presidentes e diretores das maiores associações médicas, científicas e empresariais do Conesul. São eles os responsáveis por escolhas de sedes dos grandes eventos