WTM Latin America se consolida como plataforma de negócios
A WTM Latin America 2014 terminou nesta sexta-feira, dia 25, em São Paulo, com um saldo extremamente positivo. Durante os três dias em que foi realizada no Transamerica Expo Center, em conjunto com o 41º Encontro Comercial Braztoa, a feira se consolidou como poderosa plataforma de negócios. Foram inúmera assinaturas de contratos, milhares de visitantes, representantes de produtos, destinos e serviços de todas as partes do mundo, rodadas de encontros entre compradores e expositores e palestras e seminários sobre praticamente todos os temas da indústria do turismo.
O terceiro dia do evento foi marcado pela rodada de negócios entre compradores estrangeiros convidados pela Embratur e operadores brasileiros de turismo receptivo da Braztoa. Os profissionais convidados são de países na lista de maiores emissores de turistas para o Brasil.
“A feira está sendo muito produtiva. Nossos mercados são especialmente a Europa e a América Latina e estamos buscando novos produtos para nossos clientes. Viemos principalmente para entrar em contato com agências receptivas brasileiras, de diferentes regiões. A demanda pelo Brasil está crescendo muito, tanto no mercado corporativo quanto no de lazer. Hoje, o que mais se vende no Peru é Florianópolis. Mas sempre procuramos inovar e estamos vendo alternativas em São Paulo, não somente no turismo de negócios, mas também de lazer, e Rio de Janeiro. Fizemos boas negociações com novos contatos e fechamos entre 20 e 30 negócios até agora”, afirma Carlos Viso, gerente geral do DMC (Destination Management Company) Solange Reps.
Vicente Neto, presidente interino da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), destacou a importância das parcerias entre os setores público e privado na promoção do turismo. “A WTM é a prova de que a parceria entre as iniciativas públicas e privadas produzem oportunidades reais para a geração de negócios dentro da América Latina, reforçando assim o turismo intrarregional”, afirmou.
O ministro do Turismo, Vinicius Lages, que também esteve presente na feira, falou sobre a participação institucional da pasta e ressaltou a iniciativa da Embratur ao trazer os profissionais. “O Brasil precisa ser mais competitivo para garantir a expansão do Turismo e, como órgão responsável pela promoção do Brasil no exterior, a Embratur aproveita eventos como esses para inserir cada vez mais o País no imaginários dos profissionais estrangeiros”, destacou o ministro.
O Programa da Embratur agregou profissionais ao programa de Compradores Convidados da própria WTM Latin America 2014, que contou com cerca de 150 profissionais representantes dos segmentos de Turismo de Lazer e MICE (Meetings, Incentives, Congresses e Exhibitions). Durante os três dias, eles participaram de um extenso quadro de atividades e reuniões, criando assim novas oportunidades de negócios. O evento Compradores Convidados foi realizado pelo Instituto em parceria com a Braztoa.
De forma semelhante, Lisandro Rimoldi, gerente comercial e de capacitação técnica da argentina Interlands, afirma que fechou vários negócios durante a WTM. Como a agência está há mais de 30 anos no mercado, o executivo diz que aproveitou o ambiente para discutir o relacionamento cliente-fornecedor: ”Tivemos mais de 50 reuniões e todas com níveis muito bons de resultados”.
Frederico Maidana Franco, executivo de vendas da agência paraguaia Vips Tour, fechou dois contratos durante a feira para novos destinos no Brasil. Segundo ele, os principais destinos procurados atualmente pelos turistas paraguaios no país são praias de Santa Catarina, como Balneário Camboriú e Florianópolis, mas a agência tem procurado diversificar as opções com destinos do Nordeste e também São Paulo.
No Brasil com um objetivo bastante específico, o venezuelano Felix R. Martinez, da Macanao Tour & Travels, de Isla Margarita, garante que vai fechar vários contratos nos próximos meses, resultado dos contatos feitos na WTM Latin America. “Há um voo semanal entre Manaus e Isla de Margarita, mas sete dias é muito tempo para ficar só em Manaus. Então, viemos para fazer contato justamente com o Nordeste do país, para montar pacotes mistos de duas noites em Manaus e as quatro outras noites em cidades como Fortaleza, Salvador e Belém. Era nosso objetivo e encontrei aqui todos os destinos que estava procurando”, diz o executivo.
Google Glass
Foi apresentado na feira também o primeiro aplicativo para o Google Glass voltado ao setor de turismo. A mooveTeam, empresa espanhola responsável pela novidade, desenvolveu um sistema que apresenta na tela dos óculos informações de rotas customizadas pré-estabelecidas enquanto o turista se movimenta pelo destino. As informações podem ser acessadas com comandos de voz. “Trata-se um poderoso recurso de realidade aumentada”, afirma Albert Roca, executivo da mooveTeam. “É só começo do que vem por aí em inovações tecnológicas para o setor de turismo“, garante David Benitez, gerente internacional de vendas da WTM Latin America e responsável pela área Travel Tech, que reuniu empresas do setor de tecnologia para o turismo.
Turismo Responsável
Além do estabelecimento de novos contatos e do fechamento efetivo de contratos, a WTM Latin America 2014 foi palco da discussão de temas de alta relevância para a indústria do turismo, como o turismo responsável. Segundo Harold Goodwin, professor de Turismo Responsável na Universidade Metropolitana de Manchester e mediador de painel sobre o assunto na feira, o modelo de turismo responsável compreende diversos conceitos, desde “a coisa certa a se fazer” até vantagens de mercado e economia de custos. “A qualidade do produto oferecido reflete em vantagens de mercado, na licença para operar o atrativo turístico e até no moral da equipe, que sente-se envolvida numa causa comum”, disse o acadêmico.
Segundo Cássio Garkalns, da Garkalns Consultoria, para que os negócios com o perfil deem certo no longo prazo, como em praticamente todo ramo de atividade, é preciso, porém, seguir algumas regras para a criação de um plano de negócios sólido. Entre elas estão o alinhamento de interesse das partes interessadas; integração de ações de forma clara, com atribuição de responsabilidades no plano de trabalho; comprometimento dos resultados em qualidade e quantidade; visão a curto, médio e longo prazos, com metas para cada etapa; e presença de lideranças locais que estejam comprometidas com a continuidade do projeto.
Como case de sucesso na área, foi apresentada a experiência da cidade de Bonito (MS), eleita 13 vezes como melhor destino de ecoturismo do Brasil pela revista Viagem & Turismo. Marcos Dias Soares, presidente do Conselho Municipal de Turismo de Bonito, falou, entre outras coisas, sobre o modelo de voucher digital de acesso aos atrativos turísticos, premiado na WTM de Londres. O voucher controla o acesso de visitantes aos atrativos e já faz a destinação correta de custos e impostos automaticamente. A informalidade da mão-de-obra é praticamente nula, e os envolvidos passam por constante capacitação. De acordo com ele, atualmente a cidade conta com 60 guias formados pela Embratur e outros 35 que acabaram de se formar. Nos últimos 25 anos, a atividade foi um dos principais motores do crescimento expressivo de Bonito, que recebe dois voos charter e um comercial por semana.
Por sua vez, Ricardo Shimosakai, diretor da ONG Turismo Adaptado, falou sobre a inclusão no turismo. Segundo ele, que é cadeirante, de acordo com o Censo 2010, 29,3% da população brasileira tinham algum tipo de deficiência. Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número supera 1 bilhão. “O turismo acessível é uma realidade e necessidade do setor”, afirma o empresário, cuja Organização trabalha a acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida no lazer e no turismo.
Shimosakai ressaltou que em países como os Estados Unidos, onde o turismo adaptado é bastante desenvolvido, deficientes adultos movimentam mais de US$ 13 bilhões em turismo. Desenvolver projetos de acessibilidade para participar desse mercado, porém, requer vários cuidados: a definição de rotas acessíveis; fornecimento de informação sobre a acessibilidade de hotéis e roteiros turísticos; sinalização adequada para os diversos tipos de deficiência; variedade de transportes; guias e monitores preparados e arquitetura adaptada.
Tecnologia
O uso de ferramentas de tecnologias de sistemas de busca e redes sociais para gerar negócios também esteve em pauta. Leonardo Vieira e Vinicius Landucci, do Google Brasil, apresentaram um interessante panorama do uso do sistema de buscas pelos brasileiros na hora de programar viagens e adquirir pacotes turísticos.
Segundo os dois executivos, o Google registra 625 mil buscas por hora de assuntos relacionados a viagens, desde horários de voos até informações sobre destinos, restaurantes e reservas de hotéis. No universo de 105 milhões de brasileiros conectados, 82% fazem pesquisas online antes de escolher um destino e 69% dos viajantes compartilham seus conteúdos e experiências em redes sociais.
João Carlos Pastore, Diretor de negócios, viagem, educação e governo do Facebook Brasil, ressaltou justamente o alcance das redes sociais como ferramenta de mídia a serem consideradas no planejamento de marketing das empresas. Segundo ele, só no Brasil, há 83 milhões de usuários ativos mensais do Facebook, que gastam em média 30 minutos por dia navegando nela, através de dispositivos médios, e 51 minutos, quando o acesso é através de computador.
Um exemplo de como a Internet tende a ter impacto profundo na indústria do turismo são os indicativos apresentados por empresas que surfam na nova onda. A Airbnb, por exemplo, espera ter um forte desempenho durante a Copa do Mundo no Brasil em função de questões relacionadas à disponibilidade de leitos em hotéis durante o período do evento, conforme divulgado em pesquisa lançada nesta sexta-feira, dia 25, durante o painel “WTM Vision Conference”.
A pesquisa, conduzida pelo Euromonitor International, diz que o Brasil irá receber 1,6 milhão de turistas durante o evento e vai se beneficiar no longo prazo da exposição global que terá no período e também das melhorias na infraestrutura de turismo.
Não à toa, Alexis Thuller Pagliarini, da MPI (Meeting Professionals International), durante o Fórum MICE, afirmou que a tendência, no setor de eventos, é de aumento da interatividade, da imersão em tecnologia, eventos verdes e com maior responsabilidade social.
Jogos Olímpicos
A Olimpíada de 2016 e as oportunidades e desafios que oferece à indústria do turismo também foram tema de uma das palestras na programação da WTM Latin America 2014. Segundo Martine Ainsworth-Well, diretora de marketing e comunicação da agência internacional de promoção da prefeitura de Londres, sede dos jogos de 2012, a realização do evento, pura e simplesmente, não é automaticamente uma oportunidade de ouro para o turismo.
No caso londrino, por exemplo, a expectativa de que a cidade ficasse lotada durante os jogos fez com que muitos turistas comuns, motivados por outras razões que não o evento, optassem por não ir. E atrações tradicionais, não ligadas aos jogos, tiveram redução de demanda. No fim das contas, não houve aumento do fluxo de turistas no período e alguns negócios, dependentes da população local, que fugiu para outras regiões do país, também foram afetados negativamente.
Por outro lado, segundo Martine, a cidade aproveitou a visibilidade garantida pela mídia para mostrar o que tinha de melhor, o que proporcionou um aumento do turismo no período posterior aos jogos.