Sob ameaça na Copa, PR libera mais R$ 39 mi para estádio
[Por BBC, 21/01/2014]
Após ter tido visitas consideradas “satisfatórias” na Arena Corinthians, em São Paulo, e na Arena Pantanal, em Cuiabá, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, saiu nesta terça-feira de Curitiba, a última cidade-sede da Copa do Mundo a ser vistoriada neste mês, bastante receoso.
Constatando o atraso nas obras da Arena da Baixada – estádio que pertence ao Atlético-PR e está sendo reformado para o Mundial com dinheiro do clube e também dos governos locais –, Valcke ameaçou excluir Curitiba da Copa do Mundo de 2014 caso as obras não sejam aceleradas. Por outro lado, o governo do Paraná respondeu com mais investimento e prometeu liberar mais R$ 39 milhões em forma de empréstimo ao clube paranaense para a reforma do estádio.
“O que eu posso dizer? A questão é delicada”, admitiu o secretário da Fifa em coletiva após a visita ao estádio em Curitiba.
“Sejamos francos e diretos. Como devem saber, a situação atual do estádio não é realmente do nosso agrado. O estádio não está apenas muito atrasado, mas foge a qualquer bom cronograma de entrega para a Fifa.”
‘Perigo’
A reforma na Arena da Baixada está 90% concluída, e a expectativa era que ficasse pronta até o fim de março, quando o Atlético-PR inauguraria o gramado em uma partida de comemoração pelos 90 anos do clube.
Mas a Fifa constatou que será preciso acelerar o ritmo de trabalho para que o estádio seja entregue a tempo da realização dos testes para o Mundial e, por isso, deu um ultimato a Curitiba.
“Daqui até 18 de fevereiro, eles terão de decidir. A partir de hoje até essa data, é necessário que sejam feitas as obras que nos permitam acreditar que é possível realizar a Copa do Mundo aqui. Como está hoje, é um perigo”, afirmou Valcke.
Com o ultimato, o governo paranaense entrou em um acordo com a Fifa e garantiu que o ritmo das obras no estádio irá aumentar daqui em diante. Os planos agora são ter um número maior de trabalhadores para que a Arena da Baixada possa ser entregue na data mais distante possível do dia 16 de junho – quando o estádio receberá seu primeiro jogo da Copa, entre Irã e Nigéria.
“Nós detectamos que mantido o ritmo atual da obra, ela não ficaria pronta em tempo com a qualidade e o cumprimento de exigências para a realização da Copa nesta cidade. Tivemos de tomar medidas. Essas medidas foram discutidas e aprovadas de forma unânime”, explicou o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes.
Três medidas
A Fifa, o Atlético-PR e o governo paranaense estipularam três medidas a serem tomadas imediatamente para que Curitiba continue como sede da Copa do Mundo de 2014.
O primeiro ponto é a formação de um comitê com representantes do governo do Paraná e da prefeitura de Curitiba para supervisionar os trabalhos na Arena da Baixada – antes, a gestão das obras era feita somente pela CAP/SA, empresa criada pelo Atlético-PR para a reforma do estádio.
Além disso, as partes acordaram o aumento do número de trabalhadores na obra. Atualmente, 1.084 operários trabalham no estádio e a ideia da Fifa é que esse número aumente para 1,5 mil.
A última medida diz respeito à liberação de mais R$ 39 milhões pelo governo do estado para investimento na reforma da Arena da Baixada. O investimento foi liberado em forma de empréstimo pela Fomento Paraná, empresa criada pelo governo paranaense para financiar projetos no estado.
Segundo o secretário de assuntos da Copa em Curitiba, Mário Celso Cunha, também presente na visita de Valcke, o Atlético-PR oferecerá os direitos de transmissão da Rede Globo como garantia de pagamento do empréstimo.
Problemas no financiamento
Desde o ano passado, o estádio de Curitiba é o que mais preocupa a Fifa. A entidade chegou a ter uma reunião à parte com representantes do Atlético-PR e do governo paranaense em dezembro para cobrar a cidade pelo aumento do ritmo nas obras.
Segundo o secretário da Copa em Curitiba, Mário Celso Cunha, o problema na demora da reforma da Arena da Baixada é de ordem financeira. Em entrevista à BBC Brasil no último mês, o secretário já havia admitido dificuldades para financiar o projeto – que já tinha o orçamento estourado – por conta da não liberação de parte da verba pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
“O problema é orçamentário, porque as três partes não cumpriram o prometido: nem o governo federal, nem o estadual, nem o Atlético-PR”, disse, ainda em dezembro do ano passado. Procurado pela reportagem nesta terça-feira, ele não respondeu às ligações.
Inicialmente, a reforma na Arena da Baixada estava com um custo previsto de R$ 184 milhões. No último balanço do Ministério do Esporte, porém, divulgado em novembro de 2013, o estádio que sediará quatro jogos da fase de grupos da Copa já estava custando mais de R$ 326 milhões. As obras são financiadas pelo Atlético-PR em parceria com o BNDES e com o governo estadual.
O BNDES já liberou o empréstimo de R$ 131,5 milhões para a reforma do estádio, enquanto o governo paranaense liberou mais R$ 30 milhões pela Fomento Paraná (instituição ligada ao governo do Estado) no início da obra. Além disso, outros R$ 143 milhões já haviam sido liberados em forma de títulos de valorização construtiva pela prefeitura de Curitiba.
Em dezembro, porém, o Atlético-PR pediu mais um empréstimo ao governo estadual no valor de R$ 65 milhões e apresentou garantias de valorização construtiva para conseguir a liberação do valor. À época, a Fomento liberou R$ 26 milhões e só agora, quando o clube apresentou as garantias dos direitos de transmissão da Globo – e sob a pressão e a ameaça da Fifa -, o governo do Paraná liberou os R$ 39 milhões restantes.