Delegação da ABEOC participa da LAMEC e compartilha relato das palestras
Foi realizado nesta segunda-feira (12/12), em São Paulo, a Latin American Meeting & Event Conference (Lamec), que reúne profissionais e empresas ligadas ao setor de eventos de toda a América Latina. O evento é organizado pelo capítulo brasileiro da Meeeting Professionals International (MPI) e teve a participação de uma delegação da ABEOC – Associação Brasileira de Empresas de Eventos.
José Eduardo Rodrigues, presidente da ABEOC-SP, Ana Cláudia Bittencourt Claudino, presidente da ABEOC-RS, Regina Carvalho, vice-presidente da ABEOC-SP, André Kobal Souza Rodrigues, diretor da Office Brasil, Paulo Menezes, Diretor Regional Nordeste da ABEOC e presidente do Recife CVB, Anita Pires, presidente nacional da ABEOC e Fernando Francisco Moreira da Silva, Conselheiro Fiscal da ABEOC Nacional.
“Foi um evento muito interessante, que buscou abordar temas do setor de eventos com ênfase na tecnologia, nas marcas e nas tendências para o setor’, comenta a presidente da ABEOC, Anita Pires.
Veja abaixo o relato das palestras assistidas pelos representantes da ABEOC
No Painel Panorama Político Econômico da América Latina, os palestrantes falaram sobre a importância dos eventos como gerador de renda e fomentador do turismo. O ex-presidente da São Paulo Turismo, Caio Luiz de Carvalho apresentou o case da cidade de São Paulo, a cidade que mais recebe grandes eventos no país. Carvalho falou sobre as estratégias utilizadas para construir, junto do nome de um evento, uma marca forte e de qualidade e como isso acaba por refletir no mercado. Lembrou que a cidade de São Paulo recebe “uma Olimpíada por mês” em número de participantes de eventos.
O economista do BNDES, Fabio Giambiage, ressaltou a necessidade das políticas de desenvolvimento do turismo de negócios e eventos buscarem aproximação com a América Latina, visando o aumento das parcerias e o incremento econômico de todo o continente. Giambiage salientou o papel fundamental do Brasil neste desenvolvimento. Esta visão foi compartilhada pelo senhor Sérgio Fausto, membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP.
No painel sobre Eventos como plataforma para construção de marcas, os grandes produtores de eventos conversaram com os presentes sobre a importância dos eventos para a estratégia de marketing das grandes marcas. Destacaram que a mudança da visão sobre os eventos foi uma mudança gradativa. Segundo os painelistas, representantes da AMPRO e das empresas XYZ Live, GEO, Plano 1 e Banco de Eventos, hoje está claro para os grandes promotores de eventos promocionais que mídia a empresa compra no veículo que quiser expor sua marca, porém, a realização de um evento proporciona experiência aos seus participantes, criando formadores de opinião a respeito da marca, para além do público do evento. Além disso, a existência das mídias sociais também deu força aos eventos. Um participante que esteja num festival de música, num camarote de carnaval, estará realizando uma “cobertura informal” dos acontecimentos, citando a marca ao publicar seus comentários e fotos nas redes. Esse é um ganho intangível para os promotores.
Os palestrantes acrescentaram que para o sucesso de um evento promocional, além da boa organização e o cuidado com os serviços prestados, é fundamental a inteligência no planejamento de toda a logística do evento, começando na distribuição de convites, chegando na preocupação dos acessos e com a limpeza e organização do local.
Outro dado importante para o crescimento dos eventos promocionais, apresentado pelos palestrantes, foi que este aumento deve-se, também, a mudança social do país, com o aumento da renda do brasileiro, seu acesso à informação principalmente pela internet e pela busca da “nacionalização” das marcas, que procuram falar diretamente com o público brasileiro, fazendo ações focadas e específicas para o mercado nacional.
Na palestra sobre O Impacto econômico dos Eventos foi apresentada uma pesquisa realizada pelo MPI e pelo Instituto Alatur com as empresas que foram listadas na Revista Exame como as 100 maiores e melhores empresas. O cenário apresentado é diferenciado, principalmente por se tratar de empresas que possuem, em média, 13 mil funcionários e um recurso médio de 2,4 milhões/ano para a área de eventos. Foi constatado que a área de compras das empresas ainda é bastante decisiva na contratação dos serviços e que o item mais importante na avaliação dos serviços prestados pelos fornecedores é a qualidade, tempo de execução e o preço.
A coordenadora da pesquisa, Adelia Francheschini, informou também que as empresas trabalham com atenção especial no saving, ou seja, com a preocupação dos eventos em gerar receitas diretas para as empresas. Além disso, a participação em eventos de terceiros caiu, fazendo aumentar a criação e execução de eventos próprios, principalmente os promocionais. A pesquisa estará disponível para consulta no site do Instituto Alatur.
No Painel Eventos que impactam uma sociedade em transformação, uma discussão interessante sobre a grande mudança que está acontecendo no mercado. A visão dos promotores de eventos, gestores públicos e da sociedade está se modificando, trazendo um novo cenário para o setor de eventos. A sociedade está mais aberta para eventos diferenciados, procura participar daqueles que estão vinculados a um estilo de vida ou a uma visão do mundo compatível com a sua. O Brasil vem recebendo eventos importantes mundialmente, principalmente os focados na sustentabilidade.
O diretor do Campus Party Brasil, Mauro Teza, lembrou que os eventos podem acontecer, ser um sucesso e alcançar seus objetivos mesmo não tendo um público completamente definido. O público da Campus Party é completamente diversificado e tem sido utilizado para analisar protótipos de produtos, vivenciar lançamentos prévios, servindo de termômetros para as empresas.
Já o fundador da Trip Editora, Paulo Lima, lembrou que a geração Y vem com uma postura diferente da geração anterior. “A cultura do ganhar para ter já não é o meio de vida mais utilizado. Hoje temos uma mescla de gerações que, ao buscar conviver no mesmo espaço de tempo, estão fazendo surgir idéias, formas de interagir com o outro muito inovadoras.”
O diretor da Virada Cultural de São Paulo, José Mário Gnaspini, mostrou que o poder público pode e deve atuar na área dos eventos, principalmente quando a idéia é nutrir a população de cultura. A Virada Cultural é um evento patrocinado exclusivamente pela prefeitura de São Paulo, fazendo com que a organização consiga trabalhar sem vinculação a uma marca, uma gravadora, uma produtora. “A idéia é agregar e oferecer ao público boas surpresas. Além dos artistas conhecidos e da música como carro chefe, a Virada vai atrás daqueles grupos que estão fora da rota comercial, que já não se apresentam mais, que marcaram seu nome na história. Assim, os pais conhecem o mundo dos seus filhos e os filhos vivenciam o que marcou a época dos seus pais. Outra curiosidade está em agregar os talentos de rua: os peruanos que tocam no metrô, o saxofonista da esquina da paulista, esses artistas são chamados a participar. A prefeitura ajuda na parte burocrática, como a emissão da nota fiscal, para que todos sejam remunerados e também tenham o compromisso de trabalho”.
Citado como um exemplo de plataforma de ações, que termina como uma grande celebração, o Star With You (SWU), foi apresentado por sua gerente, Ingrid Francine. “O SWU vai muito além do show de música, durante todo o ano são organizadas ações, em conjunto com ONG’s e grupos organizados, visando discutir a prática da sustentabilidade. O show é o grande final, a celebração de meses de trabalho.”
Também estava no painel o Renê Silva, criador do “Voz da comunidade”, que começou com uma conta no twitter narrando as ações buscando a pacificação do Complexo do Alemão do Rio de Janeiro. Um exemplo de como as redes sociais têm força de mobilização, Renê tem conseguido realizar uma série de ações e eventos dentro da comunidade, sempre recebendo o apoio angariado pelas redes. Ele afirmou que a sociedade ainda precisa mudar seu olhar para as comunidades, pois ao buscar a proximidade com seus moradores, é preciso fazê-los participar, entender as particularidades de cada uma delas. “Não adianta uma empresa ir ao Alemão para colocar uma árvore de natal grande na entrada da comunidade, quando todos acham que ela ficaria melhor em outro lugar; Não adianta o Governo Federal chegar na comunidade com o PAC, com as obras já definidas e prontas para começar, sem perguntar para os moradores o que eles esperam”.
Já a apresentação do case: Sapphire Now Session (SAP) abordou a importância dos eventos híbridos, que nada mais são do que os eventos realizados presencialmente com uma forte atuação das mídias ligadas à internet. Os palestrantes, Mathias Sondermann, que estava em São Paulo e Mary Boone, que palestrou dos Estados Unidos, apresentaram a idéia do evento, que reuniu dois continentes, sete cidades satélites, 16.000 delegados, 35.000 participantes on line, dois estúdios de televisão, 600 programas customizados e 1.200 sessões educacionais.
A grandiosidade do evento, a participação do público das mais diversas formas, interferindo inclusive na programação e principalmente colaborando na geração de conteúdo sobre o evento foi impressionante. Foi uma ação grandiosa, com números ainda maiores. Um bom exemplo para que o setor de eventos busque também esta opção, de utilizar os recursos presenciais somadas ao que a tecnologia oferece para a realização e transmissão de eventos on line, ampliando o alcance do evento.
Na palestra sobre Certificações que aumentam sua competitividade, o Vice Presidente do MPI, Didier Scaillet, apresentou o programa de cursos de especialização que a MPI possui. No Brasil, o curso é oferecido em parceria com a Universidade Anhembi Morumbi. Ele destacou que “o mercado passou a olhar os profissionais também de forma competitiva e diferenciada e aqueles que possuírem especializações, participarem da organização de eventos certificados, serão mais requisitados e melhor remunerados.”
No último painel, As Melhores Práticas dos Três Continentes – O Legado deixado pela Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, os convidados conversaram com o público sobre os pontos mais relevantes da organização para os dois eventos e do que ficou como legado aos países e cidades.
Airy Garrigosa da Barcelona Convention Bureau, Nomasonto Ndlovu, diretora de Turismo da África do Sul e Walt Juda, diretor de Turismo de Vancouver falaram sobre os desafios ao se produzir um evento esportivo. A mediadora, Jeanine Pires, presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio-SP, pediu que cada um pontuasse dois grandes obstáculos a serem vencidos na organização dos eventos esportivos e dois grandes legados.
A representante da África do Sul disse que precisaram realizar estratégias de marketing internas, com foco na população, pois o futebol não é o principal esporte do país. Sendo uma democracia jovem, nascida com a independência em 1994, a população precisa criar vínculos também com os símbolos do país, como as suas cores, a bandeira e o próprio hino nacional.
“Além disso, o mundo tinha uma visão da África do Sul que precisou ser trabalhada e durante os dois anos que antecederam a Copa do Mundo foi desenvolvida uma campanha mundial de turismo e marketing do país, enaltecendo suas belezas, suas conquistas, buscando diminuir a idéia de país inseguro, completamente pobre e praticamente selvagem que o mundo tinha,”
Outro desafio na África foi configurar o Turismo de Negócios, inexistente antes da Copa do Mundo. Hoje, o país recebe eventos das mais diversas áreas e busca ações para manter a estrutura construída para a Copa do Mundo em atividade.
Já no Canadá, a principal dificuldade estava na falta de apoio da população. O país tem diferenças culturais entre as regiões e era preciso criar uma identidade nacional para os Jogos Olímpicos de 2010. Além disso, a escolha de Vancouver e não a capital do país, para sediar os jogos também causou estranheza. Essa falta de apoio foi trabalhada junto da população, através de campanhas visando a mudança de pensamento de cada região do país. Outra dificuldade encontrada foi o desconhecimento da população mundial sobre o Canadá, o que também foi trabalhado com campanhas mundiais.
O representante do Barcelona CVB, que possui uma longa carreira na organização de jogos olímpicos, jogos de inverno e copas de futebol, lembrou que todos os países inicialmente lidam com a incompreensão da população. “A resposta natural é questionar o dinheiro investido pelo país e o retorno disso. O retorno não é mensurável no seu todo. Lembro que nos acompanhamentos que fizemos, 90% dos turistas que vão a um evento esportivo, não vão para ver um dia de competição. Geralmente vão assistir uma partida de futebol, ou determinada competição olímpica, que pode durar no seu todo, um, dois ou três dias, dependendo da modalidade. Mas seus pacotes são de uma semana. Nos outros dias eles fazem turismo na cidade, muitos migram de região. Isto é mensurável.”
“O imensurável está no retorno deste turista para a casa, nos seus comentários com os amigos e a família. Está nas matérias produzidas pelos canais de televisão, que são divulgadas entre uma competição e outra, entre um jogo e outro. Está na cultura daquele país sendo propagada pelo mundo. Se esta mídia não vale o investimento? Não sei o que poderia ser melhor”.
Jeanine Pires destacou algumas particularidades das ações da África do Sul, como a sexta-feira do futebol e da campanha “adote uma seleção”, quando a África do Sul foi desclassificada da Copa. Lembrou também do episódio das “luvas de Vancouver” quando as luvas utilizadas na corrida da tocha olímpica viraram artigo de colecionador no país.
Todos foram unânimes em dizer que o receptivo é fundamental. “É preciso lembrar que virão turistas do mundo inteiro, que os idiomas serão muitos e que todos devem estar preparados para esta aproximação do mundo com o Brasil.”
Jeanine Pires terminou o painel dizendo que “é importante reconhecer as experiências anteriores, a realidade do país que recebe os megaeventos, buscando sempre construir um modelo próprio de organização e gestão. O Brasil está num excelente momento interno e devemos realizar os nossos jogos e a Copa considerando todas as normas que o próprio comitê internacional dos jogos olímpicos e a Fifa apresentam aos países sede. Mas devemos, acima de tudo, realizar estes mega eventos esportivos com a nossa maior característica: a brasilidade”.