Eventos: a redenção do turismo
[Por OJornalWeb, 11/09/2011]
No mês de outubro, o Centro Cultural e de Exposições de Maceió vai receber o 63º Congresso Brasileiro de Enfermagem. Durante quatro dias, cerca de seis mil participantes vão movimentar a economia de cidade, usando os serviços de hotelaria, transporte, alimentação, passeios, além de toda infraestrutura de montagem de estandes que envolvem marceneiros, eletricistas, decoradores e floricultura, entre outros profissioanais de mais de 40 segmentos. O caso traduz bem o significado dos eventos para o turismo. Por isso, eles são apontados como a redenção do setor, diminuindo a sazonalidade da baixa temporada, elevando o índice da taxa de ocupação da rede hotelaria.
Um bom exemplo da melhoria da taxa de ocupação é a do hotel Radisson de Maceió, que prevê fechar o mês de outubro com 75% de ocupação, em plena baixa temporada, graças a dois eventos nacionais que acontecem na capital alagoana: o de enfermagem e o de Patologia.
Mas, não é apenas o hotel cinco estrelas que lucra. Para o congresso de Enfermagem até outros meios de hospedagem também estão lotados. A informação é de Josie Mendes, do Departamento de Eventos da Transamérica Turismo.
“Até o momento, são R$ 175 mil em diárias vendidas aos congressistas de enfermagem. O perfil deste evento é da classe média, então eles lotam desde os albergues até os hotéis 3,4 e 5 estrelas. Além da hotelaria, esse tipo de turista tem gastos com translado aeroporto/hotel, taxistas, restaurantes, compras, e boa parte dos congressistas fica para conhecer a cidade por mais alguns dias, após o evento. Para o encontro de Enfermagem, estimamos o gasto médio de R$ 200 por dia por congressista”, disse.
RESERVA – Eventos de médio e grande porte é o sonho de consumo de qualquer hoteleiro, seja cinco estrelas ou pousadas, todos ganham. O Radisson de Maceió como hotel oficial do congresso de Enfermagem tem a reserva de 100 apartamentos, representando a média de R$ 140 mil em diárias , aluguel de salas e o serviço de alimentos e bebidas, durante os quadro dias de evento.
“Quando o Centro de Convenções capta eventos para Maceió é bom não apenas para hotelaria, mas também para toda a economia da cidade. Até mesmo quando acontece no próprio auditório do hotel, o participante gasta com restaurante, passeios, compras, táxis e geralmente vem acompanhado de outra pessoa, como a esposa. A vantagem para o nosso hotel de cinco estrelas é que além das diárias, os congressistas contratam as salas de convenções, alimentos e bebidas”, explica.
Não é à toa que as agências de turismo também estão de olho neste mercado, a exemplo da Transamérica Turismo, que desde 2008 criou um departamento especializado para o segmento de eventos.
Segundo a gerente da empresa, Josie Mendes, além do hotel Radisson, os congressistas de enfermagem vão deixar um volume significativo de recursos em outros meios de hospedagem. Já o evento de cardiologia para abril de 2012 em um único hotel já tem R$ 135 mil em reserva para quatro dias.
Josie Mendes revela que a empresa também faz captação de eventos para o Centro de Convenções e hotelaria. “Hoje temos muitas ofertas de espaço para todos os tipos de eventos. Dos menores que podem ser realizados no próprio hotel aos maiores, que são perfeitamente acomodados no Centro de Convenções de Maceió. Nosso grande entrave, infelizmente, é a nossa malha aérea, que é deficiente”, diz.
Climatização do Centro de Convenções só 2013
“Nosso foco é eventos”, ressalta o novo superintendente do Centro Cultural e de Exposições, Eduardo Toledo, que também afirma que o equipamento é viável, embora mensalmente o governo do Estado repasse entre R$ 150 mil e R$ 160 mil para o pagamento da folha de 11 funcionários e energia, o maior custo do equipamento. Atualmente o Centro é veiculado a Secretaria de Estado do Turismo e a Companhia de Empreendimentos, Intermediações e Parcerias de Alagoas (Cepal) responde pela consultoria jurídica e financeira.
Um dos gargalhos do Centro é a climatização dos espaços de exposição, um item essencial para tornar o equipamento mais competitivo no mercado. Porém, a refrigeração só deve ser uma realidade a partir de janeiro de 2013. O valor do investimento deve girar em R$ 10 milhões, entre recursos federais e do governo do Estado.
Segundo o superintendente Eduardo Toledo, também estão programados para este ano a informatização do estacionamento, uma nova pintura e monitoramento em vídeo com 30 câmeras. A reforma do segundo piso, mas precisamente no auditório com capacidade para três mil assentos está programado para 2012.
Atualmente, o Centro dispõe de 11 funcionários do governo e o serviço de limpeza é terceirizado. Para outras atividades, como iluminação para o teatro, são contratos profissionais de empresas prestadoras de serviço, desde que estejam conveniadas com o Maceió Convention.
Já o estacionamento é locado para as empresas detentoras do evento e o preço máximo é tabelado em R$ 5,00. “As empresas não podem terceirizar. Mas, em 60 dias o estacionamento será automatizado. Faremos também uma licitação pública para a escolha da empresa de segurança ”, explica.
Segundo ele, o preço do metro quadrado na aérea de eventos é o melhor do Nordeste no valor de R$ 1,00, mais taxa de energia. Mas, o superintendente do Centro adianta que está fazendo uma pesquisa de mercado para saber os preços do metro quadrado nos outros estados para também não ficar devassado. Atualmente, para o aluguel de um dia no Teatro Gustavo Leite existem três tabelas de preços. A cultural, com valor de R$ 3.200,00. A de formatura – R$ 5.700,00 e a de eventos, cujo valor é de R$ 5.100,00.
Qual o futuro do Centro
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Carlos Gatto, defende o debate sobre a gestão do Centro Cultural e de Exposições, que atualmente esta sob a batuta do governo do Estado. Para ele, uma empresa especializada tem condições de captar mais eventos para a cidade.
“Novos hotéis estão sendo instalados, aumentando a oferta de leitos para 15 mil até 2014 e o turismo de eventos é essencial para a sustentabilidade do setor na baixa temporada. Acreditamos que a gestão do Centro de Convenções, através de contratação ou concessão por um determinado tempo para uma empresa especializada, seja a alternativa para se trazer mais congressos e feiras. Nosso objetivo é garantir uma gestão voltada para captar eventos”, avalia Carlos Gatto.
O empresário da hotelaria, Glênio Cedrim, também compartilha da mesma opinião do presidente da ABIH, de uma gestão empresarial. “Hoje temos um governo comprometido com o turismo e o Maceió Convention captou bons eventos para 2012, mas, no futuro se houver mudanças, quem garante que o Centro será ocupado por um politico em vez de profissional da aérea. Em 2008 e 2009, o Centro foi mais cultural e precisamos de um equipamento com foco na geração de diárias”, alerta Cedrim.
Segundo ainda o empresário, o centro é um equipamento bem localizado e estratégico, mas é preciso de mais investimentos como a climatização e a construção de um edifício garagem para ampliar a área de exposições. “Mesmo com estas obras concluídas, precisamos a partir de agora planejar o futuro, porque de 2014 a 2015 serão mais leitos e mesmo o Centro de Convenções aumentando sua capacidade ainda será pouco. A cidade comporta outro equipamento para buscar novos mercados”.
Para o presidente do Maceió Convention & Visitors Bureau (MC&VB), Alfredo Rebelo, o turismo de eventos é a solução, se não vai ter muito hotel quebrando depois da Copa e das Olimpíadas. “A alta temporada se resume apenas a dois meses por ano (somando férias, réveillon e carnaval). É preciso que o governo continue investindo pesado para consolidar o turismo de eventos na capital alagoana. Nossa autarquia tem feito um bom trabalho para 2012 e estamos com agenda lotada no Centro de Convenções. Captar eventos é um trabalho contínuo”, diz.
Sobre a gestão do Centro, Rebelo defende uma gestão compartilhada entre governo e MC&VB. “ O turismo de eventos é a solução para reduzir os efeitos da sazonalidade. Em janeiro, a ocupação é acima de 90%, já em maio, junho e agosto, são meses críticos, com a ocupação girando em torno de 20 a 35%. Na minha opinião uma gestão compartilhada entre Maceió Convention e governo é a alternativa para ser discutida”, diz.
Tanto o governo, quanto os empresários concordam que o grande entrave do turismo de eventos é a deficitária malha aérea. “Para viajar para Recife vamos para Salvador. Saindo de Vitória (Espírito Santo) para Maceió é uma viagem internacional, são muitos horas de voo e escalas. Acessibilidade é item importante para captar um evento”, diz Rebelo.
Entrevista/ Jeanine Pires
“Maceió tem os apelos turísticos e aspectos positivos que podem atrair eventos”
Com sua experiência de sete anos na Embratur, qual a posição do Brasil no turismo de eventos?
Há dois aspectos interessantes. O primeiro é relacionado à realização de eventos de promoção do Brasil no exterior, o que proporcionou um melhor conhecimento de como diversos países trabalham o setor. O mais importante está na criação da Política de Captação e Promoção de Eventos, que elevou o Brasil da 19ª colocação mundial em número de eventos associativos internacionais para a 9 ªem 2010. Promover o País como destino de eventos faz compreender a importância da área para atrair visitantes de alta renda, com grau de escolaridade elevado. Este público levou uma imagem mais positiva sobre o País. A Embratur também buscou trazer os eventos para cidades que nunca recebiam esses visitantes, que anteriormente eram concentrados em São Paulo e Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo promovemos as cidades e as oportunidades de aproveitar a viagem ao Brasil, estendendo a estadia e conhecendo mais lugares. Cerca de 67% das pessoas que vêm ao Brasil para participar de eventos nunca haviam estado aqui. Da mesma forma, o gasto médio desses visitantes é de US$ 285, ou seja, três vezes maior que o visitante a lazer.
Como a senhora avalia o destino Maceió no turismo de eventos? O fato de Alagoas ter pouca indústria (comparando com Recife) influi na capacitação de eventos?
As atividades econômicas, acadêmicas, industriais influenciam de certa forma a vinda de eventos. Também a atuação de profissionais liberais e empresários em entidades associativas. Quem candidata a cidade a receber o evento de sua categoria, normalmente é o presidente de uma associação ou um professor de alta produção acadêmica.
Neste sentido, fica difícil comparar Maceió com Recife, mas também é preciso olhar para as atividades que existem em Maceió, os eventos regionais, os apelos turísticos e aspectos positivos que podem atrair eventos. Com um Centro de Convenção e espaços em hotéis, é necessário ter uma política de longo prazo, continuada e agressiva de captação de eventos para a cidade. Isso irá beneficiar, sobretudo, os períodos de menor ocupação hoteleira e outras empresas da cadeia de serviços ligadas à realização de eventos.
Na sua opinião a privatização do Centro de Convenções é uma alternativa para incrementar o turismo de eventos no Estado?
Acredito que para incrementar o turismo de eventos é preciso ter ótimos equipamentos, adequados ao perfil dos eventos e serviços de alta qualidade em hotéis, restaurantes e apoio às realizações. Também, como mencionei, uma política de captação de longo prazo. A privatização do Centro de Convenções deve ser precedida de um estudo de viabilidade para isso. As experiências de locais privatizados para eventos estão em cidades maiores, com um nível de desenvolvimento e demanda muito diferente. Acredito também, que o Centro é um meio e não um fim para a indústria de turismo e viagens, portanto, precisa do investimento e incentivo público para se viabilizar no atual estágio. Considero ainda muito importante a climatização do Centro, sua manutenção e a permanente prestação de serviços de alta qualidade de todos os envolvidos e prestadores de serviços que atuam em Maceió. Recursos tecnológicos sempre atuais e compreensão das necessidades dos organizadores de eventos e entidades também são fundamentais no sucesso desse negócio.
Brasil passou de 63 eventos para 300 por ano
Para o ex-presidente da Embratur e diretor da Próxima Estação Consultoria e Pesquisa, Eduardo Sanovicz, o Brasil evoluiu da 21ª para 7ª posição no ranking mundial da ICCA (nternational Congress and Convention Association) a partir do lançamento do programa nacional de captação e promoção de eventos, em 2003, programa que, conduzido pela Embratur que segue até hoje”. O programa trouxe resultado positivos. Passamos de 63 eventos internacionais para quase 300 por ano. Isso significa que no segmento eventos, o peso do Brasil no mundo, agora corresponde ao peso da economia brasileira no cenário internacional” analisa Sanovicz.
Ainda na opinião do especialista, Maceió é um belo destino e tem capacidade de crescer ainda mais no segmento. “O destino tem desafios a enfrentar, como qualquer outra capital do Nordeste. Está muito bem posicionada no mercado nacional, sustentada pela beleza e pela qualidade dos recursos naturais – destacadamente praia, mas tem que implementar avanços em infraestrutura e qualidade de serviços para crescer no cenário internacional”, diz.
Sobre a privatização do Centro de Convenções, Eduardo Sanovicz, avalia que pode ser uma alternativa, mas não de forma isolada. Na opinião do especialista, um programa consistente de ampliação do mercado alagoano em eventos tem que incluir varias outras questões, como a articulação publico/privada e o papel do setor nisto.