Centros de convenções, ainda necessários?
[Mercado e Eventos, 21/11/2017]
Por Luciane Leite
Sem dúvida alguma, a internet se tornou o maior, mais populoso, mais acessível, mais visível e mais prático ambiente de convenções da atualidade. Online, podemos fazer de simples conferência a treinamentos com centenas de pessoas plugadas em um link que é disponibilizado nacional e internacionalmente. Tudo isso a, literalmente, um ou dois cliques de cada um dos usuários conectados.
Mas isso significa que nossos mecas da exibição se tornaram elefantes brancos? Duvido.
É fato: de um lado, o universo digital facilita a conexão, no sentido literal, entre as pessoas. Mas, de outro, a complexidade das relações e dos negócios no mundo moderno tem nos levado, cada vez mais, a buscar soluções coletivas, em ambientes que nos garantam o relacionamento qualificado para além do tempo dedicado ao treinamento, capacitação ou reunião. Afinal, é possível imaginar uma Bienal do Livro exclusivamente online? Feira da Providência? Exponoivas? Feirão Limpa Nome? Fashion Week? Salão Internacional do Automóvel?
Sejamos sinceros, por mais que nossos olhos tenham se tornado digitais, existe uma demanda analógica que precisa ser atendida nos espaços de eventos.
Vejamos um exemplo. O mesmo Rio de Janeiro que, há cerca de dois meses, realizou o consolidado Rock In Rio, também recebeu, no Riocentro, mais 680 mil pessoas na Bienal. De acordo com o Mapa Estratégico do Comércio do Rio de Janeiro 2015-2020, relatório elaborado pela Fecomércio e o Senac, o setor de comércio, bens, serviços e turismo no estado do Rio gera quase dois milhões de empregos formais, o que equivale a mais de 40% dos postos de trabalho no estado. Acho que não preciso dizer onde as grandes convenções destas áreas são realizadas.
Sabemos que os megaeventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas não são frequentes – pelo contrário, alguns deles constituem uma “era” que não volta tão cedo. Mas também sabemos que existem inúmeras oportunidades para a retomada e consolidação de eventos menores. E que, na mesma proporção, os desafios são muitos.
Neste sentido, recentemente, muitos movimentos vem sendo observados.
Em setembro, lideranças da Associação Brasileira das Empresas de Eventos (ABEOC Brasil) estiveram reunidas no Palácio do Planalto, em Brasília, com o então presidente em exercício, Rodrigo Maia, para apresentar demandas do setor, entre as quais figuram o fim da bitributação e a licitação por técnica e preço, apresentadas pela entidade como fundamentais para o desenvolvimento da indústria.
No mesmo mês, praticamente “dentro” do já citado Rock In Rio, o Governo Federal anunciou o lançamento do programa “Rio de Janeiro a Janeiro”, um calendário de eventos culturais, esportivos e de negócios criado exclusivamente para movimentar a economia. Hoje, o turismo corresponde a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado. A expectativa é que o projeto gere 170 mil novos postos de trabalho nos 100 eventos dimensionados apenas para 2018 – e é importante lembrar que um dos cinco critérios para o estabelecimento do projeto é sua manutenção a longo prazo.
Com este exemplo, quero dizer que soluções como a encontrada no Rio de Janeiro, que conta com o apoio do Governo Federal, devem ser buscadas em outros mercados, entre os quais está a Bahia.
Sem entrar na polêmica e na política do tema e me fiando exclusivamente nos fatos, é preciso considerar impacto do fechamento do Centro de Convenções da Bahia (CCB) e quais são as alternativas possíveis para preservação das estruturas de eventos no estado.
Admito que me entristece ler sobre os impactos que este fechamento nos causou na Bahia. E, sob pena de chover no molhado, lembro que desde sua interdição, em 2015, milhares de empregos diretos foram colocados em risco. Além disso, há os indiretos, causados, por exemplo, pelo fechamento de 20 hotéis e de cerca de três mil bares e restaurantes em Salvador.
Chamo atenção para um indicador que não aparece nos números: além de todo enfraquecimento financeiro, é preciso considerar a perda do poder estratégico quando o destino não dispõe de centros de eventos.
E, mais uma vez sem entrar na polêmica e na política, um novo centro de convenções na Bahia permitirá reavivar uma economia que sofreu e ainda sofre grandes baques fora dos períodos de alta estação do turismo de lazer.
Mas é preciso lembrar que, seja qual for o porte do evento, as empresas organizadoras precisam oferecer serviços que transmitam confiança e segurança. Da inovação dos recursos tecnológicos que permitem ampliar a experiência dos participantes, passando pela segurança em termos de estrutura e a preocupação com o impacto ambiental dos eventos.
Tudo isso precisa estar no pipeline que quem quer inovar na área de eventos, considerando, além de sua estratégia de distribuição, perfil de público visitante e expositor, a necessidade de atualização e manutenção regular dos equipamentos de convenções, com suas estruturas, ao mesmo tempo, robustas e flexíveis que, sim, são imprescindíveis para nossa indústria.
* Luciane Leite é diretora da WTM Latin America e será uma das debatedoras do painel “Centro de Convenções e o Impacto no Turismo de Salvador”, que ocorrerá nesta quarta (22/11), durante o Fórum de Turismo e Hotelaria da Bahia, promovido pela ABIH-BA