Calendário de eventos é chance para tirar Rio da crise
[O Globo, 08/10/2017]
Não deixa de ser simbólico que o anúncio de um calendário de eventos para o Rio tenha sido feito num momento em que a cidade era sacudida pelos tiros da guerra do tráfico na Rocinha. A violência é uma chaga, e combatê-la é essencial, mas a capital fluminense não pode ficar parada enquanto se travam essas batalhas, que costumam ser longas e árduas. Ao contrário, é justamente nessas horas que a cidade, que nos últimos anos sediou megaeventos como a Jornada Mundial da Juventude, uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, precisa mostrar que tem potencial para sair da crise e retomar sua vocação para organização de eventos.
O lançamento do programa “Rio de Janeiro a Janeiro” é um passo importante nesse sentido. A ideia é dotar o Rio de um calendário que vá além dos eventos tradicionais, permitindo que a cidade — que ampliou consideravelmente sua rede hoteleira para a Olimpíada — possa atrair turistas o ano inteiro. Com quase cem eventos já programados, o projeto, que será deflagrado no próximo réveillon, deverá receber R$ 200 milhões de patrocínio e propaganda do governo federal.
Entre os muitos eventos culturais, esportivos e de negócios previstos pelos organizadores, está um réveillon com duração de 12 dias (de 26 de dezembro a 6 de janeiro), a Maratona do Rio, o Velocity — maior congresso de ciclismo do mundo —, uma versão brasileira do tradicional Festival de Jazz de Montreux; o Veste Rio e o Rio Open, maior torneio de tênis da América do Sul. A lista poderá crescer, já que alguns eventos ainda estão sendo negociados.
O potencial do turismo para alavancar a economia da cidade é incontestável. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que um aumento de 20% no número de turistas injetaria R$ 6,1 bilhões na economia do Rio e geraria cerca de 170 mil novos empregos.
De fato, não há melhor caminho para tirar o Rio da crise. Veja-se o sucesso que foi o Rock in Rio, mesmo com todos os problemas enfrentados pela cidade. Nos dois fins de semana do festival, 700 mil pessoas foram à Cidade do Rock, sendo 65% de fora do Rio. Esses visitantes injetaram mais de R$ 500 milhões no comércio, segundo a Fecomércio. A ocupação média da rede hoteleira ficou entre 85% e 90%, superando a da edição anterior, em 2015 (80%), quando o número de quartos era menor. O movimento em bares e restaurantes aumentou até 40%, e estima-se que o evento tenha gerado 16 mil empregos diretos e indiretos.
Por tudo isso, um vigoroso calendário de eventos, como foi proposto pelo Conselho de Turismo da cidade, é hoje o caminho mais viável para tirar o Rio do atoleiro em que se encontra. É evidente que, paralelamente, precisará debelar a violência. Mas, também nesse aspecto, aumentar a arrecadação e o número de empregos certamente ajudará.