Depois da euforia dos grandes eventos, Rio vive a realidade dos hotéis vazios
[CBN, 03/08/2017]
Dos rastros de prejuízos que a crise deixa no Rio, um em especial afeta diretamente o segmento de turismo: a imagem arranhada pela violência. A associação de hotéis do estado diz que pelo menos quatro estabelecimentos fecharam as portas esse ano. Entre os hostels, também há impactos. A empresária Juliana Grazzottin, dona da unidade de Ipanema do Hostel Che Lagarto, conta que, esse ano, seu negócio bateu recorde negativo.
“Eu tô no ramo desde 2009. Em maio foi a primeira vez que a ocupação da minha casa caiu abaixo dos 60%. Fechou com 58%. Foi a minha pior ocupação”, diz.
A unidade comandada por Juliana conta hoje com 136 leitos. Pra tentar evitar que eles permaneçam vazios, a empresária passou os últimos meses em busca de algumas saídas. Juliana conseguiu reduzir em 10% o aluguel do imóvel e passou a comprar itens mais econômicos pro café da manhã. Mesmo assim, não foi possível evitar demissões.
“A gente tem que se adequar de todas as formas. Desde o preço do pão francês que a gente serve no café da manhã até a folha de pagamento. Infelizmente eu tive que cortar na folha, estou trabalhando hoje com três pessoas a menos que o normal, renegociamos os nossos produtos de café da manhã, de lavanderia. A gente atacou em todas as frentes, praticamente”, relata.
A baixa procura também forçou Juliana Grazzottin a baixar a tarifa cobrada no hostel. Hoje, os preços partem de 29 reais, em baixa temporada – uma queda de 40%. A média atual praticada pelo mercado chega a 34.
“A tarifa que o Rio de Janeiro exercia não é mais a mesma. Aqui a gente caiu mais de 15 reais. Em baixa temporada a gente está trabalhando com uma tarifa de R$ 29. Mas os custos não seguiram e mesma lógica. Nem os custos nem o que hóspede espera que nós sirvamos para eles”, aponta.
A busca por soluções mais econômicas também foi o caminho encontrado por Paula Gelbert, dona do Hostel Kaza Rio, que fica no Estácio. Pra ajudar a fechar as contas, até a ajuda dos hóspedes é bem-vinda.
“A gente tem reduzido bastante os custos que a gente pode, adotando práticas de conversar mesmo com os hóspedes, pra evitar o desperdício de luz, desperdício de água. A gente trocou todas as lâmpadas que a gente tinha por lâmpadas de LED, que são mais duradouras e utilizam menos energia”, observa.
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio calculou uma queda de R$ 320 milhões na receita do turismo fluminense em função da violência. Esse total representa 42% do total da perda do faturamento do setor, que foi de R$ 768 milhões, entre janeiro e abril desse ano, em comparação com o mesmo período de 2016. Esse prejuízo fica bem claro no negócio de Patrícia Etchecoin. Dona de uma rede lojas de souvenir, ela relata que o medo dos turistas tem deixado suas lojas vazias.
“Caiu muito mesmo porque a gente lida diretamente com a imagem do Rio de Janeiro. Eu tive que fechar duas ou três lojas. É o que a gente tem que fazer, recuar um pouco para se preparar para tentar sobreviver, porque eu acho que não vai melhorar muito por enquanto”, aponta.
Desde a Olimpíada do Rio, Patrícia fechou duas lojas que ficavam na Barra da Tijuca. Ela também teve que recorrer a demissões, especialmente nas unidades que funcionam dentro de hotéis.
“Teve e deve ter mais ainda. Se eu tinha duas, agora eu tenho uma pessoa só. Nos hotéis eu fecho na hora do almoço. Estamos nos adequando conforme o movimento. Estamos evitando o máximo possível fazer cortes, porque além de encarecer são pessoas que estão com a gente há muito tempo”, finaliza .