O amadorismo do turismo brasileiro: lições para 2014
[Por Panrotas, 03/01/2014]
Promoção, profissionalização dos órgãos oficiais, mecanismos nas cidades (como informações bilíngues dentro dos meios de transportes públicos, nos aeroportos, rodoviárias, e nas áreas de segurança turística), conscientização turística por parte da população, parceria público-privada, e pesquisas são as seis lições que, segundo o professor universitário Bayard Do Coutto Boiteux *, o turismo do Brasil precisa aprender para deixar de ser amador. Ele escreveu um artigo sobre os temas. Confira abaixo:
“O amadorismo do turismo brasileiro: lições para 2014″
Comemorar seis milhões de turistas em 2013 parece uma brincadeira. Aliás, brincadeira de mal gosto, que não trouxe efetivamente nenhum resultado para o Brasil. Caminhamos num mar de gastos públicos, sem planejamento efetivo, priorizando grandes eventos, além do Carnaval e do Réveillon, sem que se estabeleça prioridades básicas no dia a dia da sustentabilidade das cidades.
O Brasil vive um sonho de que somos um país turístico. Precisamos, antes de mais nada de nos profissionalizar e sobretudo termos coragem de gritar, muito forte, que a atividade está com um amadorismo, nunca visto. Imaginem turistas buscando documentos no chão numa delegacia em Copacabana, estádios caindo, motoristas de taxi em bermudas e camisetas sem mangas nos aeroportos molestando clientes na chegada, além de preços exorbitantes praticados nos setores de gastronomia e hospedagem. Mais tristes são os empresários com discursos prontos de que houve melhor ocupação, de que os fogos foram muito mais bonitos do que nos anos anteriores e que finalmente as cidades ganham melhorias, em função da Copa. Sinceramente, precisam de melhorar suas auto-estimas e exigir do governo algumas providências.
A primeira lição é aprender que um país só consegue aumentar o número de turistas, se houver promoção. Promoção significa recursos alocados para anúncios em revistas, televisões, participação em feiras internacionais, de forma profissional e um olhar técnico sobre mercados prioritários, sem sonhar com captações de países longínquos. A imagem do Brasil não está ainda determinada. Queremos trabalhar todos os segmentos, ao mesmo tempo, com abertura de escritórios, de forma indiscriminada no exterior. Vamos inovar na promoção, buscar um slogan forte e que traduza um produto diferenciado e competitivo. Vamos aproveitar experiências bem sucedidas e criar um entendimento de que promoção pressupõe um plano, elaborado por brasileiros.
A segunda lição é profissionalizar os órgãos oficiais. Criar menos cargos em comissão para protegidos do Poder e investir na capacitação dos colaboradores existentes e na abertura de concursos públicos, para profissionais que tenham formação na área, incentivando que grandes profissionais se interessem por trabalhar no setor público. Hoje, os salários não são atrativos e a maior parte das empresas brasileiras vive com um staff ultrapassado, muitas vezes esperando a aposentadoria ou alguma viagem nacional ou internacional, para os mesmos eventos, que cada vez mais vão se afastando de uma verdadeira forma de comercialização.
A terceira lição é criar mecanismos nas cidades, que as profissionalizem, como informações bilíngues dentro dos meios de transportes públicos, sinalização bilíngue em todas as atrações das cidades, dos aeroportos, rodoviárias, servidores públicos nas áreas de segurança turística devidamente qualificados e remunerados e não apenas batalhões e delegacias, para inglês ver, assim como estudos de capacidade de carga e operação dos atrativos, que se traduzem hoje por filas enormes, para algumas visitações, que chegam a cinco horas, numa temperatura que poucos aguentam, sem banheiros, marquises ou bebedouros.
A quarta lição é fazer da população, uma grande aliada no desenvolvimento turístico, criando programas de conscientização turística nas escolas, igrejas, repartições públicas o ano inteiro, assim como descontos para os nacionais. Não podem ser ações pontuais mas devem fazer parte dos planos de turismo, nos municípios, nos estados e na União, que hoje são meros instrumentos, quando existem, de promoção pessoal e política de titulares, que querem se canditar a cargos eletivos.
A quinta lição é que turismo se constrói ao longo do tempo, com iniciativa privada e poder público, buscando soluções conjuntas e que precisam de fóruns competentes para estabelecer um dialogo, que tenha em mente, um desenvolvimento criativo e verdadeiro.
A sexta lição e última, num pequeno artigo é que precisamos de metas mensuráveis em nossas ações, que devem se apoiar em pesquisa. Pesquisa é a palavra chave de qualquer desenvolvimento turístico e nasce de uma parceria com instituições de ensino.Tais instituições são incubadoras e assim devem ser aproveitadas.
Não sou mago, quero apenas que o turismo aconteça e que possa ser uma resposta para a melhoria de vida da população. É triste sermos repetitivos mas significa que pouco é feito e que os recursos existentes e anunciados precisam ser melhor equacionados. 2014, ano da Copa, ano de um Brasil, pelo menos mais maduro e que pode ser de uma retomada do profissionalismo e da inovação. Lutarei, com todas as minhas forças para que tenhamos, pelo menos um país com cidades preparadas…..”
* Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, pesquisador, escritor e preside o Site Consultoria em Turismo. (www.bayardboiteux.com.br)