Entrevista com Beatriz Lage, do Observatório do Turismo, da SPTuris: 'Cada pesquisa é uma descoberta'
[Por Diário do Turismo, 20/06/2013]
Beatriz Helena Gelas Lage é doutora com Livre Docência pela Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), e assessora da Diretoria de Ações Estratégicas e Comunicação da São Paulo Turismo (SPTuris), órgão municipal gestor do turismo e de eventos da cidade de São Paulo. Com sua experiência acadêmica, foi convidada pelo ex-presidente da SPTuris Caio Carvalho para ser a coordenadora do Observatório do Turismo da Cidade de São Paulo, núcleo responsável pelas informações, estudos e desenvolvimento de pesquisas do turismo na capital.
Beatriz coordena uma equipe de seis pessoas (analistas e estagiários) e semestralmente projeta, coleta, analisa e divulga uma pesquisa sobre os turistas que visitam São Paulo, especialmente aqueles que ficam em hotéis e hostels. É dela, de sua equipe e de outros colaboradores a elaboração do Platum – Plano de Turismo Municipal Cidade de São Paulo – o principal documento do município que apresenta as características socioeconômicas da capital, tendo como base o turismo.
Beatriz aceitou o convite do jornalista Paulo Atzingen, editor do DT, para um café no Theatro Municipal e concedeu a entrevista abaixo:
DIÁRIO – Qual o impacto econômico e social dos turistas na metrópole paulistana?
BEATRIZ LAGE – Assumindo que nós temos turistas que vêm e pernoitam na cidade, que são os turistas que chamamos de verdadeiros, esses trazem um impacto muito grande, especialmente em alguns tipos de serviços, por exemplo, na hotelaria. A hotelaria representa, praticamente, 50% dos gastos dos turistas. São números redondos. Nós fazemos uma pesquisa nos meios de hospedagem, semestralmente, e avaliamos isso. Depois nós temos, também, a área de alimentação que tem outro impacto grande, mas é mais difícil de ser analisado, porque envolve justamente essa cadeia de serviços de consumo que não é só focada no turista, é focada também na população, nos paulistanos, nascidos aqui ou não. Por exemplo, o segmento de compras; cada vez mais a gente percebe que esse turista que fica em hotéis está gastando muito em compras, então é um dos itens que se destaca. Temos o item lazer, que fica sempre num patamar de 12% a 14% dos gastos do turista. Na média de dias na capital paulista, nós temos duas variações: o estrangeiro e o brasileiro; o estrangeiro fica um, dois dias a mais que o brasileiro e os brasileiros ficam dois, três dias e meio na cidade e gastam, em média, uns 500 reais por dia.
DIÁRIO – É o FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil – que apresenta os números da hotelaria para vocês?
BEATRIZ LAGE – Não. O FOHB nos dá muito apoio, entre outras entidades que trabalhamos. Eles nos facilita chegar aos hotéis, deixar os questionários, que é um número muito grande: são 14 mil fichas que utilizamos. Distribuímos um número considerável e também temos um retorno muito grande, eu diria 25%, 30% dessas fichas, cerca de quatro mil fichas. É uma das amostras mais consideráveis. É uma pesquisa forte, uma pesquisa confiável da hotelaria e sempre com a ajuda dessas entidades. Estamos ainda finalizando o recebimento em junho e vamos mandar para tabular, porque mesmo tendo três estagiários não temos braço para tabular. Mas fazemos.
DIÁRIO – Quais são as fontes dos seus relatórios e balancetes?
BEATRIZ LAGE – Existem duas maneiras. Tem fontes secundárias, através de um acordo, de uma aproximação, de um entendimento dos órgãos, não são todos, mas eles nos passam os dados mensalmente. Então Secretaria de Finanças do município nos passam os dados do ISS do Grupo 13, todo mês. A gente faz uma pesquisa junto aos hotéis, no período de 1 a 10 do mês e eles nos passam as taxas de ocupação e as diárias do mês anterior. Com isso, nós temos um acompanhamento do desempenho da hotelaria em São Paulo. Nós temos, também, os terminais rodoviários que nos passam dados e nós temos as Centrais de Informação Turística, da São Paulo Turismo, que nos ajuda muito com informações e contagem de atendimentos nas principais centrais. Esses são fontes secundárias. Fontes primarias são os dados apresentados nos relatórios, a que obtemos nos hotéis, as pesquisas nos megaeventos, Virada (Cultural), (Fórmula) Indy, que foi feita recentemente, nós geramos algumas informações. Nós fizemos algumas pesquisas pontuais com taxistas, em pontos turísticos da cidade, como por exemplo, o Mercado Municipal, que foge um pouco do turista que vem para o evento, mas o turista que consome o lazer da cidade. Aeroporto nós fizemos uma em Guarulhos, em 2011.
DIÁRIO – Com esses números nas mãos, o Observatório aponta tendências, perspectivas do turismo em São Paulo?
BEATRIZ LAGE – As pesquisas que fazemos – já estamos na nona edição – apresenta o perfil dos hóspedes nos hotéis, ou seja, há quatro anos estamos trabalhando e verificando uma certa regularidade nos resultados. Ela varia às vezes menos, às vezes mais, mas o que eu posso te dizer desses últimos dados comparados com o anterior é que os estrangeiros, nesses últimos anos, vieram menos para o Brasil, em função da crise. A Fórrmula Indy, por exemplo é um evento que quase não tem estrangeiro, já na Formula 1 sim. Então eu acho que os estrangeiros diminuíram os gastos em São Paulo. Já os brasileiros, como sempre, são muito gastadores, os indicativos apontam um crescimento, embora a permanência continue, relativamente, a mesma. O turismo de negócios predomina, 50% vêm a negócios. Esse seguimento é muito forte, é nele que fazemos a pesquisa. Então ele aumentou um pouco o gasto, antigamente falávamos de R$ 300 a R$ 350 a média do gasto diário, hoje posso dizer que esse número é R$ 400, R$ 500 o turista que vem a negócios, não a lazer.
Mas respondendo a sua pergunta, a tendência é o turismo de negócios, turistas que ficam hospedados em hotéis gastando, relativamente mais, consumindo, além da hotelaria, e fazendo compras.
DIÁRIO – Teve alguma pesquisa que a surpreendeu?
BEATRIZ LAGE – Cada pesquisa é uma descoberta e cada uma tem uma característica especial. Principalmente quando temos uma série histórica, que eu acho que a importância do Observatório é essa, é não ter dados estáticos, hoje pode nem ser importante, mas o ano que vem ele vai ser, porque vai comparar com o que aconteceu no ano interior, então você vai construindo o conhecimento. Mas uma pesquisa que eu acho que foi importante, não tanto o resultados de números, foi o Platum. O Platum foi um trabalho, um estudo muito grande que nós fizemos em São Paulo, no começo do Observatório, contamos muito com outras áreas da empresa como a Diretoria do Turismo, e foi construído de oito a nove meses, durou praticamente um ano. Ele foi construído com informações de outras entidades e quando ele foi lançado e não imaginava a importância que ele iria ser para o turismo da cidade, como ele iria ser encarado com tanto respeito. Eu fico um pouco receosa com o próximo Platum, que vai ter que ser preparado o ano que vem, ele dura quatro anos e nós temos a Copa agora.