IPEA: aeroportos operam acima do limite e não estarão prontos até 2014
[Por globoesporte.com, 17/08/2011]
Pesquisador do instituto reafirma estudo de abril com dados atuais, diz que nada mudou e que concessões mal-feitas podem prejudicar passageiros.
A maioria dos aeroportos que serão utilizados na Copa do Mundo de 2014 podem não estar prontos para o ano do evento e, mesmo que fiquem prontos, podem não ser capazes de atender a crescente demanda. É o que diz o coordenador de Infraestrutura Econômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Carlos Campos.
O pesquisador reafirmou dados divulgados por ele mesmo em abril, agora atualizados até o início de agosto. Os novos números foram apresentados em seminário realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nesta quarta-feira, conforme o GLOBOESPORTE.COM antecipou na terça-feira. Participaram da mesma mesa de Campos o secretário de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, e o presidente da Infraero, Gustavo do Vale. A estatal foi duramente criticada pelo pesquisador durante a apresentação.
– Os investimentos programados são insuficientes diante do crescimento da demanda.
Segundo Campos, nos últimos anos a Infraero investiu apenas 44% do previsto, valor insuficiente para atender uma demanda que cresceria em média 10% ao ano. Hoje, 17 dos 20 maiores aeroportos do país estariam operando acima da capacidade, de acordo com o estudo.
Já em relação à Copa, o pesquisador se mostrou preocupado com o andamento das ações da Infraero. A três anos para o Mundial, muitas obras ainda estariam na etapa de projeto. Segundo o pesquisador, obras do porte da construção de um terminal aeroportuário têm levado aproximadamente 7 anos para serem concluídas. Com isso, o pesquisador prevê que 10 dos 13 aeroportos não estarão prontos até 2014. E, mesmo que sejam concluídos, muitos poderão já estar atuando acima da capacidade, devido ao crescimento da demanda.
Sobre as concessões de aeroportos, o pesquisador disse que elas não podem ser consideradas alternativas para o Mundial.
– Abrir o capital da Infraero levaria três anos. Mesmo concessões simples e PPPs demandam normatização rígida, não são triviais e demandam longos prazos. Alternativas de abertura de capital não devem ser computadas como alternativa para 2014.
O coordenador disse ainda que as concessões devem ser feitas de forma cuidadosa devido às possíveis consequências.
– Concessão é uma boa saída mas não pode ser feita de maneira açodada. Tem que ser muito bem avaliada e analisada. Para contratos de longo prazo, os equívocos, as falhas e as omissões serão perpetuados.
Peculiaridades
O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, defendeu os números da estatal. Segundo ele, as projeções do Ipea não levaram em conta as peculiaridades regionais dos aeroportos e trabalham com um ritmo de investimentos que não vai se repetir. Ainda segundo ele, tudo é feito baseado em previsões, que podem mudar.
– É claro que se daqui a um ano as nossas projeções forem para cima ou para baixo, tudo isso será corrigido. Porque é assim mesmo, você não faz uma projeção para três, quatro, cinco anos esperando que ela seja rigorosamente o que você projetou.
De acordo com Vale, praticamente todos os aeroportos já começaram suas obras, e ele manteve a previsão de que eles conseguirão atender à demanda. Por outro lado, o presidente da estatal disse que realizará reuniões periódicas com o TCU para que o tribunal já conheça partes dos contratos quando eles estiverem prontos, o que poderia acelerar as obras.
Vale disse ainda que uma preocupação atual é com a quantidade de aviões executivos esperada nos jogos da Copa para as etapas após as quartas-de-final.
– Na Alemanha, chegou-se a ter mil aviões no pátio da cidade onde foi a final da Copa. É uma preocupação. Estamos trabalhando na adequação de alguns aeroportos de aviação exclusivamente executiva, como Jacarepaguá e Campo de Marte, de modo que, se for necessário, esses aviões executivos possam ser direcionados para esses estacionamentos.