O turismo é a grande oportunidade para novos negócios
Com o Brasil sediando eventos internacionais e sendo o centro das atenções até 2016, faturamento para o mercado de turismo é o que não faltará.
Há os pessimistas que argumentam dizendo que a movimentação de turistas durante a Copa do Mundo ficou muito aquém das expectativas, mas segundo o Ministério do Esporte, são esperados 600 mil turistas para o megaevento que começa nesta semana.
Nesta véspera de estreia do Mundial não vimos ainda essa grande movimentação. Os brasileiros estão timidamente entrando no espírito futebolístico, em função dos protestos sociais e pela utilização de verbas públicas e dos atrasos na entrega dos estádios, aeroportos e adaptações urbanas.
Apesar de tudo, milhares de estrangeiros começam a chegar ao País, e o Promoview foi conversar com uma especialista no mercado de turismo e eventos, Anita Pires. Este diálogo acontece no momento em que esta empresária catarinense – listada entre as 20 mulheres mais influentes do mercado promocional brasileiro – há 20 anos inserida no mercado de turismo, está no seu último ano na gestão da Abeoc Brasil.
Na gestão da Associação, Anita Pires retomou o congresso Eventos Brasil, que está há sete anos sem edição. Ele será realizado nos dia 07 e 08/12, em São Paulo.
Em um bate-papo com o Promoview ela nos falou sobre o turismo brasileiro, Copa do Mundo, expectativas para os Jogos Olímpicos e deu até conselhos para quem está começando no mercado de eventos. Confira.
Promoview: Você assumiu a presidência da Abeoc em 2011 em um momento em que o País estava passando pelo processo de sediar a Copa do Mundo, qual era a sua visão em relação ao mercado de turismo naquela época? Ela mudou de lá para cá?
Anita Pires: Primeiramente não sabíamos o que era uma Copa, nunca tínhamos vivido essa experiência em nível de País, mas tínhamos uma expectativa bastante otimista.
Hoje, a nossa avaliação é que se cometeram alguns erros no início do processo, porque quando o presidente Lula da Silva acertou a vinda do Mundial e das Olimpíadas deveríamos ter passado por um processo de planejamento muito intenso, não só do Governo Federal, Ministério de Esporte, de Turismo ou da presidência da República, mas também do Poder Público, juntamente com as cidades-sedes e o setor empresarial.
Aconteceu que o setor público não tem uma cultura de planejamento, e o setor privado, que não fica longe também no sentido de planejamento no entanto tem bem mais que o setor público, não fez proposta e não alinhou-se com o governo.
Dois anos antes da Copa todo mundo começou a correr atrás, e de certa forma já era tarde, por isso hoje nós estamos com os aeroportos inacabados, estádios sendo acabados de uma forma que não é a melhor. Falta de capacitação, você não ensina ninguém a falar uma língua em seis meses e nem em um ano, infraestrutura, que nos editais necessários para construção dos estádios às reformas dos aeroportos, nada disso foi feito.
Bom, como é que vemos a Copa agora?. Com muito otimismo, apesar das dificuldades que tivemos e que vamos ter, mas com a certeza de que o Brasil vai dar o que tem de melhor, que nós vamos ganhar essa Copa, que vamos falar dela para o mundo de uma forma muito otimista de um País que tem muito a dar. Acreditamos que temos que mostrar para o mundo o que nós queremos que ele veja a respeito do Brasil.
Entendemos também que as cidades-sedes jamais teriam certas oportunidade se não fosse a Copa. Quando é que o mundo estaria olhando para Cuiabá, ou quando a Amazônia estaria exposta para que as pessoas se sentissem atraídas e viessem.
E depois da Copa temos que integrar o legado, ou seja, nós tivemos e teremos uma exposição extraordinária da imagem do Brasil para o Exterior, e precisamos transformar isso em negócios, e nós do setor de eventos queremos que o Ministério de Turismo e a Embratur tenham uma política clara de capitação de eventos internacionais, que o Ministério reveja e refaça a estrutura da Embratur, pois ela tem uma estrutura velha, atrasada e burocrática, eu sei disso porque a Abeoc acabou de sair de uma relação com a Embratur que foi de ir a Guatemala, onde houve a Cocal 2014.
Dentro dessa ideia de uma ação bastante positiva, por exemplo, nós estivemos em uma reunião no Rio de Janeiro, com empresários do setor de turismo discutindo a Copa, e o setor automobilístico disse que estavam trazendo para o Brasil dois mil investidores para assistir aos jogos da Copa e fazer negócios. Ela é uma oportunidade extraordinária para o Brasil, você imagina lá nos Estádios as pessoas com os seus celulares divulgando e postando para o mundo inteiro, isso tudo é visibilidade e vende o nosso País, que já tem uma imagem muito bonita lá fora.
Promoview: Segundo a Associação Nacional de Aviação Civil, apenas 26,5% das passagens aéreas para as cidades-sedes do Mundial foram vendidas até agora. Na sua opinião, o turismo para o megaevento está caminhando devagar ou haverá um “boom” quando a Copa começar?
Anita Pires: Nessa reunião que tivemos no Rio de Janeiro, houve a apresentação de uma pesquisa da FGV e as operadoras confirmaram que entrarão no Brasil 560 mil turistas que já compraram as passagens, então realmente aquela previsão de 600 mil está de pé, inclusive a imprensa também divulgou isso. E nós só estamos falando de turistas internacionais, não estamos falando de descolamentos regionais, então na realidade nós vamos ter uma movimentação boa.
A pesquisa da FGV disse que desses desembarques 26% das pessoas entrevistadas disseram que pretendem viajar pelo Brasil e 69%, se não me engano, estão vindo preparados para viajar regionalmente e as cidades que eles têm a intenção de conhecer é o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Brasília.
Promoview: E nas Olimpíadas de 2016 qual é a sua expectativa para o turismo?
Anita Pires: Os Jogos Olímpicos são mais especificos, a Copa do Mundo vai estar diluída em 12 cidades e as Olimpíadas vão ser apenas no Rio de Janeiro. Na nossa avaliação vai ter uma movimentação muito boa, mas para ela eu não tenho dados por enquanto porque até então nós estamos mais preocupados com a Copa e não nos dedicamos às Olimpíadas, mas acabando o Mundial nós vamos entrar de cabeça.
Promoview: A falta de planejamento na construção dos estádios e adaptação urbana do País para a Copa do Mundo é um assunto que ganhou mídia esse ano. Na sua opinião, esse problema irá retornar nos Jogos Olímpicos de 2016?
Anita Pires: A única preocupação são os espaços no Rio de Janeiro, que para variar, as construções estão atrasadas. Eu acho que a experiência da Copa vai ser fundamental para corrigir aquilo que não foi feito até agora, temos aí dois anos ainda, vamos ter a oportunidade de rever muitas coisas e nos prepararmos melhor para os Jogos Olímpicos. Eu tenho certeza também que as Olimpíadas serão um momento extraordinário para o País.
Promoview: Quais são os desafios da autorregulamentação do setor de eventos, e como a Abeoc trabalha em cima disso?
Anita Pires: Estamos em um processo de construção dessa autorregulação, como nós somos uma atividade de mercado temos que trabalhar a regulamentação de como é que o nosso setor tem que funcionar, por exemplo, você não pode ter na Amazônia uma forma de fazer um orçamento na prestação de serviços e no Rio Grande do Sul ter outra.
Vai estar à disposição, dentro de uns dois ou três meses, uma série de normativas para auxiliar as empresas organizadoras de eventos para preparar um bom orçamento, a ver as suas obrigações tributárias, ter uma tabela referencial de preços para se orientar, enfim, conhecer o setor para ter um ambiente de negócios muito melhor, que faz parte dessa nossa política de capacitação e preparação das empresas para um novo momento na vida do turismo de negócio no Brasil.
Promoview: Como está o seu mercado natal no que diz respeito ao turismo. Por que o Estado de Santa Catarina acabou ficando de fora da Copa? Quais são os desafios para o futuro?
Anita Pires: Eles falaram que Florianópolis é uma ilha muito limitada por pontes, montanhas e que teriam dificuldades de mobilidade, enfim, acho que foi uma série de razões, mas hoje nós achamos que vamos poder usufruir do momento da Copa como já está acontecendo. Nós temos alguns torcedores que vão ficar hospedados aqui na cidade e vão viajar para o Interior do Estado.
Na época não foi uma coisa que nós nos preocupamos, sei lá se não foi bom ter ficado fora da Copa, mas não está dentro dessa situação de tantas dificuldades e nós somos uma cidade com muitas limitações em termos de espaço, construção e deslocamento.
Promoview: Anita, qual é o caminho que você está trilhando na condução da Abeoc Brasil?
Anita Pires: A minha atividade profissional há mais de 20 anos está relacionada ao desenvolvimento sustentável, desde como trabalhar com cidades e regiões para que o desenvolvimento seja implementado e que haja um ambiente de geração de negócios saudável e sustentável.
Dentro desse processo que trabalhamos direto com o poder público e entidades, eu terminei derivando muito para a área de turismo, porque há 20 anos ele não era valorizado, era mais visto como lazer e não como uma ferramenta de desenvolvimento. Foi quando eu comecei a me dedicar ao turismo, desde missões empresariais e técnicas para a Europa, América Latina, geração de eventos ligados à construção de cidades, recuperação de centros históricos.
Nesse processo de entender que nós só sobrevivemos em um país com uma cultura de cooperação, ou seja, tem que estar junto para resolver os problemas, e por acreditar nisso, fiquei aqui seis anos na Abeoc-SC depois fui para a Abeoc Nacional e hoje estou no último ano da minha gestão na diretoria que tem feito um trabalho extremamente dinâmico e profissional com aquela ideia de que as entidades precisam repensar, inovar, agregar inteligência na sua entidade para que dessa forma possamos buscar soluções inteligentes.
Não basta você sentar na cadeira de presidente de um sindicato, associação ou de qualquer outra coisa e fazer tudo o que você fez a vida inteira, isso não traz inovação, então nós da Abeoc chegamos à conclusão que tínhamos que desconstruir aquela entidade velha, atrasada e conservadora para construir uma nova, com visão de um novo mercado, exigências, nova postura profissional e de como transformar o nosso negocio em algo dinâmico.
Promoview: Quais as vantagens para os empresários participarem do programa de qualificação Abeoc/Sebrae?
Anita Pires: Temos um programa de qualidade, com o apoio do Sebrae nacional e da CNC, que é uma capacitação na gestão e preparação das empresas para um selo de qualidade da Abeoc, nós estamos há um ano e meio já trabalhando com esse projeto.
Fizemos o primeiro módulo de capacitação na gestão de empresas para os associados da Abeoc, no outro mês estamos entrando na fase de auditorias nas empresas, que serão feitas pela ABNT, para ver quais realmente estão preparadas para receber esse selo.
É uma iniciativa inédita que a Abeoc está realizando em 12 Estados e o resultado tem sido extraordinário, em torno de quase 90% das empresas do nosso setor são de pequenas e microempresas e nós sabemos que há uma dificuldade bastante grande para que os dirigentes das pequenas empresas avaliam a sua gestão, porque a característica dessa empresa é geralmente familiar não há uma cultura de capacitação.
Eu acho que há necessidade de que a empresa tenha uma gestão com uma avaliação constante, porque não adianta você ter muito trabalho, mas a situação financeira da sua empresa não está boa, por que você não sabe fazer preço. Esta primeira etapa teve um impacto maravilhoso junto às empresas a maior parte delas já reviu os seus processos e gestão.
Esse programa abriu essa possibilidade de poder preparar as empresas para esses eventos que falamos anteriormente e que estamos pedindo para Embratur e Ministério de Turismo que no pós-Copa se tenha uma promoção do Brasil no Exterior para captar eventos internacionais, turistas de negócios, promotores e associações que fazem eventos pelo mundo todo encontrem no Brasil um ambiente de negócios propícios e preparados para recebê-los.
Promoview: Que dicas e conselhos você pode dar para os organizadores de evento que estão começando no mercado?
Anita Pires: Em primeiro lugar, se profissionalizar, montar uma empresa com colaboradores que entendam de turismo e eventos, porque não tem mais lugar no mercado para aquela mulher que não tinha nada para fazer e resolveu fazer uma festinha, isso não existe mais, o nosso cliente hoje é extremamente exigente e o organizador de eventos é um profissional de estratégias, que deve entender de finanças e ter um olhar global, que não é só o Brasil, ele tem que saber o que está acontecendo lá na China, Nova Iorque ou em Londres, ser estudioso e falar outras línguas.
Se você quer entrar no mercado, entre, mas entre preparado. E, principalmente, se associe a uma entidade que está promovendo esse tipo de ação, no nosso caso a Abeoc.
[Por Promoview, 22/06/2014]