Debate acalorado revela principais gargalos do turismo catarinense
[Por Diário Catarinense, 28/05/2014]
Após a apresentação de Anita Pires, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Eventos (Abeoc), seguiu-se um debate entusiasmado entre alguns dos principais agentes do turismo catarinense.
Dos assuntos discutidos, receberam maior atenção a qualificação dos profissionais e gestores da atividade e a divisão de responsabilidades no turismo entre o setor público e privado. Também foi lembrado o impacto das manifestações populares a alguns dias do início da Copa do Mundo.
João Eduardo Amaral Moritz, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-SC), deu início ao debate argumentando que o trade turístico catarinense vem fazendo a sua parte, enquanto os governos estão deixando de dar o incentivo esperado. Moritz destacou o exemplo de Florianópolis:
— Podemos chegar à cidade por terra, mar e ar. Mas por terra, pensando na BR-101, não temos boas estradas. Por mar, não temos marinas e atracadores suficientes. E por ar, temos um aeroporto atrasado em 30 anos — criticou.
O presidente da ABIH citou ações pontuais, que qualificariam a estrutura turística do Estado, como a reforma do mirante do Morro da Cruz, em Florianópolis, a construção do Caminho das Neves entre a Serra gaúcha e catarinense, a implantação da Casa do Turista na Praia Grande, no Sul, com ênfase na visitação dos cânions e, ainda no Sul, a adequação das minas de carvão para o turismo.
Questionada pela plateia se o setor precisa realmente ser dependente das políticas públicas, Anita Pires respondeu que nos países mais desenvolvidos em turismo as empresas são as únicas agentes. Mas no Brasil, para ela, o governo precisa fazer a sua parte.
— O turismo não é uma atividade de governo, é de mercado. Mas o governo tem que fazer o dever de casa, promovendo e incentivando, e principalmente entregando infraestrutura e saneamento — disse.
O presidente da Santur, Valdir Walendowsky, destacou a diferença do turismo no Estado entre os anos 2000 e agora, depois do foco dado na atividade por região e em todos os dias do ano. Para ele, Santa Catarina tem apelos consolidados, como o sol e mar, e precisa atualmente criar novos contextos.
— Somos parecidos com a Itália em geografia, cultura e colonização. Nós fomos criados por 23 etnias e devemos explorar este aspecto cultural — disse.
Os participantes do debate concordaram que uma das principais reclamações no turismo da temporada no Litoral é quanto à qualidade dos profissionais. Moritz ressaltou que há uma dificuldade de preenchimento de vagas oferecidas pelo Senac e pelo Pronatec em diversas funções ligadas ao turismo, como camareira, garçom, agentes turísticos e cursos de línguas.
Já o presidente do Convention & Visitors Bureau de Florianópolis, Marco Aurélio Floriani, afirmou que não se faz turismo de eventos apenas com centro de convenções. Ele destacou a importância do Centrosul para a cidade, inaugurado em 2008, e da construção do Centro de Canasvieiras para a região Norte, mas ressaltou que turismo de negócios também se faz com transporte de qualidade, atendimento médico, segurança e até mesmo vagas nas ruas para estacionar.
“Não basta ser destino bonito, tem que estar preparado”, afirma presidente da Abeoc sobre Florianópolis
[Por DC, 28/05/2014]
Anita Pires, presidente da Associação Brasileiras das Empresas de Eventos (Abeoc) e considerada uma das 25 personalidades brasileiras mais influentes do turismo pela revista especializada Panrotas, que iniciou o segundo dia de debate do Cresce SC, destacou a importância da qualificação e investimento no setor de turismo no Estado.
A especialista citou como exemplo São Joaquim, que é destacado em matérias sobre tempo, mas questiona se a cidade sabe aproveitar essa visibilidade.
— A Serra catarinense tem atraso de pelo menos 15 anos em relação a Serra gaúcha, não basta ter beleza, tem que se profissionalizar — afirma.
Ela destacou que em Santa Catarina o turismo representa 12,5% do PIB estadual. No Brasil, o turismo responde por 9,2% do PIB nacional. Além disso, o setor gerou 510 mil empregos em SC em 2013, embora ela destaque que esse número seja muito maior, já que em eventos, por exemplo, até 90% das contratações são informais.
— O Brasil é a 6ª economia do turismo do mundo. Nos últimos 10 anos, o turismo cresceu 51% no Brasil. É o quinto pais na geração de empregos na área de turismo. E 2013, foram 8,5 milhões de emprego no setor, representando 8,4% do total gerado no ano passado.
Conforme Anita, a previsão é que o turismo brasileiro cresça 12,37% em 2014. Em 2013, o setor cresceu 13,83%. Em relação a Florianópolis, Anita ressaltou que “o sonho de todo brasileiro é morar na Capital catarinense”, mas ainda há desafios.
— Não basta ser destino bonito, tem que estar preparado, ter bom atendimento, saber receber — comentou.
Ela destacou os principais gargalos para o desenvolvimento do setor, como infraestrutura, regulamentação e qualificação. Em Santa Catarina, a presidente da Abeoc, ressaltou a troca de seis secretários de Turismo em três anos e meio, o que impede a continuidade de projetos.