Entrevista especial: Centro de Convenções e aeroporto são as maiores carências do segmento de eventos no ES
Entrevista com o Ilson Milaneze, presidente da Abeoc-ES [Folha Vitória, 09/04/2013]
O mercado de eventos é um dos que mais crescem no Espírito Santo, impulsionando o turismo e a economia do Estado, fazendo girar os negócios, produzindo emprego e renda para os capixabas. Esta semana, vamos conhecer melhor essa cadeia produtiva conversando com o presidente da sede regional da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc-ES). Com quase 40 anos de experiência na produção de eventos, iniciada com a realização da primeira Cachoeiro Stone Fair, em 1977, ele está pela segunda vez à frente da Abeoc, entidade que reúne os profissionais do segmento e busca fomentar a qualificação e promover o crescimento da atividade em terras capixabas. Com vocês, Ilson Milaneze.
Ilson Milaneze, presidente da Abeoc-ES
FV: Como se constitui o mercado de eventos no Espírito Santo? (Nº e porte de empresas; movimentação financeira anual em R$; geração de empregos etc.)
Ilson Milaneze: A cadeia produtiva do setor de eventos é muito ampla. Incluindo prestadores de serviços e fornecedores de produtos, estima-se que sejam cerca de sete mil empresas no Estado. Cadastradas no Ministério do Turismo (Cadastur), temos mais de 120 organizadoras e produtoras de eventos. Os dados da Abeoc mostram que esse setor cresce cerca de 7% ao ano e o Espírito Santo deve superar essa média.
FV: A partir de sua experiência como dirigente de classe e também como empresário do segmento, como avalia o atual estágio desse mercado, em termos de profissionalização?
Ilson Milaneze: As empresas de eventos capixabas procuram o desenvolvimento e a qualificação para a realização de seus projetos com maior eficiência e menor custo. Em um mercado competitivo como o de eventos, as empresas precisam investir em tecnologia, gestão, capital humano e infraestrutura. Como associados da ABEOC, temos empresas altamente competentes e qualificadas para atender o segmento.
FV: Quais os maiores entraves à expansão das atividades do segmento de eventos no Estado? Quais são os nossos gargalos?
Ilson Milaneze: Uma das grandes carências do Estado é um centro de convenções que possa receber eventos de grande porte, além de mais áreas expositivas, tanto na Região Metropolitana como no interior. Obras estruturais, como a de ampliação do aeroporto, também são muito importantes, mas precisamos ainda de políticas públicas de incentivo ao setor.
FV: Por outro lado, quais os nossos pontos fortes quando se trata de eventos? O que nos diferencia de outros estados?
Ilson Milaneze: A localização estratégica do Espírito Santo é um fator muito positivo, já que mais de 50% dos eventos realizados no Brasil acontecem na Região Sudeste. Os arranjos produtivos da economia capixaba, como o mármore e granito, o agronegócio, a região litorânea, a rgeião das montanhas, a pesca oceânica, metalmecânico, petróleo e gás, e as nossas tradições culturais e religiosas também favorecem o mercado de eventos.
FV: Qual a importância desse trade para a economia estadual?
Ilson Milaneze: As grandes feiras setoriais e empresariais são um patrimônio brasileiro e também capixaba. Elas exibem o que se produz de melhor aqui e trazem benefícios para as empresas e visitantes que participam, injetam recursos na economia local e geram oportunidades de negócios por um longo período. Os dados da Abeoc apontam que o setor de turismo de negócios movimenta 56 outros segmentos da economia, como hospedagem, propaganda, alimentação, transporte, entretenimento, logística e vários outros.
FV: Qual a importância do setor para o turismo capixaba?
Ilson Milaneze: Os empresários desse mercado investem muito em mídias e materiais promocionais que circulam o país e o mundo, divulgando também os potenciais e atrativos do Estado. Sem falar que o setor de eventos á uma indústria de qualidade de vida, já que seu sucesso depende também de segurança, limpeza pública, transporte de qualidade, infraestrutura, que favorecem todos os turistas, como também a sociedade capixaba.
FV: Não existe uma “escola” de eventos; os profissionais do setor geralmente aprendem na prática. Como a Abeoc tem encarado essa questão da capacitação profissional?
Ilson Milaneze: A qualificação dos seus associados e de todo o trade é uma das principais preocupações da entidade, que conta em seu quadro com empresários e profissionais que são referência no país e sempre ministram cursos, palestras, workshops. Uma das iniciativas mais recentes é o Programa de Qualificação em Gestão & Certificação de Micro & Pequenas Empresas de Eventos, em conjunto com o Sebrae.
FV: Quais são as principais metas da entidade? O que motivou a sua fundação?
Ilson Milaneze: A Abeoc atua no fomento do setor de eventos através de ações de autorregulamentação e na discussão das regras de relacionamento entre os contratantes e as empresas do setor de eventos. A entidade de classe trabalha pelo fortalecimento, desenvolvimento e qualificação do mercado, como, por exemplo, através da divulgação da tabela de remuneração de serviços e do edital de concorrência para selecionar empresas especializadas no planejamento, organização, produção e gestão de eventos. No Espírito Santo, a Abeoc surgiu do crescimento do setor e da necessidade do empresariado no associativismo como forma de defesa dos interesses em comum e busca por melhores resultados.
FV: Aqui no Estado temos importantes eventos técnicos e de negócios, mas poucos eventos culturais; por que essa diferença? E por que os eventos culturais em praticamente 100% dos casos precisam contar com apoio/patrocínio governamental?
Ilson Milaneze: Os eventos empresariais geram um retorno mais imediato, que se reflete em contratos e lucros, enquanto nos culturais os resultados são mais subjetivos, como a manutenção e divulgação de tradições regionais, difusão de manifestações artísticas, entre outros. Mas temos importantes eventos culturais, como o Festival de Música de Domingos Martins, o de forró, em Itaúnas, o de teatro, em Guaçuí além de eventos religiosos, como a Festa da Penha e Passos de Anchieta, esportivos e gastronômicos. Os patrocínios são importantes nos dois casos, assim como para as empresas que querem ter suas marcas associadas a eventos de sucesso e grande repercussão.
FV: Este mês teremos a realização de mais uma edição da Qualieventos, a feira do setor. Qual sua avaliação sobre os resultados dessa iniciativa e quais o sr. destaca como os mais importantes?
Ilson Milaneze: A Qualieventos é voltada para o setor e visa a apresentar aos contratantes os produtos e serviços que as empresas têm a oferecer. Faz parte da programação o Inside Abeoc, que contará com palestras de renomados profissionais da entidade e mesas-redondas para troca de informações e apresentação de propostas. Será uma oportunidade de discutir e mostrar o potencial do setor.
FV: No mês passado, a Abeoc nacional e o Sebrae firmaram um convênio para qualificação de micro e pequenas empresas atuantes no segmento. Quando as ações previstas no convênio começarão a ser implantadas no Estado?
Ilson Milaneze: O lançamento do Programa de Qualificação em Gestão e Certificação de Micro e Pequenas Empresas de Eventos (Programa de Qualidade Abeoc Brasil) no Espírito Santo acontecerá durante a programação da Qualieventos/Inside Abeoc, no dia 7 de maio, aqui em Vitória, quando será apresentado o cronograma do projeto que, na sua primeira etapa, inclui um diagnóstico, realização de palestras e oficinas e consultorias diretas às empresas. A segunda fase prevê uma auditoria nos empreendimentos participantes, para certificação pelo Selo de Qualidade Abeoc Brasil, caso seja atingido o desempenho necessário.
FV: Quantas empresas estarão aptas a participar do programa aqui no Estado, de quais ramos, e em quanto tempo poderão obter o selo de qualidade?
Ilson Milaneze: O Programa de Qualidade Abeoc Brasil é uma parceria com o Sebrae, que realizou um estudo que aponta 21 tipos de negócios de micro e pequeno porte que podem ser explorados no setor de eventos. Entre eles, aparecem serviço de confecção de brindes, serviços de iluminação, montagem de provas desportivas de competição e entretenimento, sonorização e credenciamento, entre outros. O selo será entregue após a conclusão das duas etapas do programa.
FV: O que muda para as empresas que obtêm o selo?
Ilson Milaneze: O selo, concedido por entidades que são referência, como Abeoc e Sebrae, já é um diferencial em relação à outras empresas, mas o principal é estarem aptas a oferecer serviços mais eficientes e que atendam às demandas de mercado através da melhoria dos processos de gestão.
FV: Para finalizar, hoje muitos eventos já são realizados com preocupação ambiental (como a neutralização das emissões de carbono, descarte adequado de resíduos etc.). Como é vista essa questão entre os promotores de eventos aqui no Estado? Ainda temos um baixo nível de conscientização ou isso encarece o custo de realização?
Ilson Milaneze: Hoje está inserido na forma de atuação das empresas, independentemente do setor, o respeito à legislação ambiental e a preocupação com as consequências do seu descumprimento. As empresas de eventos sérias têm uma política de responsabilidade com o meio ambiente e buscam o desenvolvimento sustentável.
O entrevistado
Ilson Milaneze é natural de Marilândia (ES), onde nasceu em 20 de setembro de 1948. Filho de Maximiliano Milaneze e Josefina Tozzi Milaneze, fotógrafo autodidata, é casado com Cecília Milanez Milaneze e pai de Andre, Flávia e Marcos. Formado pela Universidade Federal do Espírito Santo, é diretor da Milanez & Milaneze S.A, da Multiservice e da Norte Eventos. Preside, em segundo mandato, a ABEOC – ES para o triênio 2012-2014.