‘Reage, Rio!’: Hotéis da cidade entram em projeto contra a crise
[O Globo, 12/09/2017]
Diante da dura realidade de ver ociosos tantos quartos, construídos para atender à demanda da Copa do Mundo e da Olimpíada, os hotéis decidiram se juntar à campanha “Rio de Janeiro a Janeiro”, o calendário de eventos que promete deixar a cidade cheia o ano inteiro. A ideia é, por meio do turismo, virar a página da crise.
O projeto foi apresentado nesta segunda-feira aos representantes das principais cadeias hoteleiras, durante uma reunião no Copacabana Palace. No encontro, o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, deixou claro que a hotelaria tem de fazer a sua parte para o projeto deslanchar e atrair 20% a mais de visitantes. Ou seja, oferecer sem custo quartos para artistas internacionais, não aumentar os preços das diárias durante grandes eventos e aproveitar ocasiões de festa para fazer promoções casadas.
– Queremos engajar todo o setor de turismo no programa “Rio de Janeiro a Janeiro”. Vamos buscar também parcerias com companhias aéreas e agências de turismo. Conversar com todos – anunciou Sá Leitão.
Do encontro, participaram ainda o ministro Moreira Franco, secretário-geral da Presidência da República; o empresário Roberto Medina, um dos idealizadores do calendário; e os presidentes da Embratur e da Riotur, Vinicius Lummertz e Marcelo Alves, respectivamente. O projeto, ainda em fase de elaboração, já listou cerca de 150 eventos, entre grandes e pequenos, sendo pelo menos um âncora por mês. O lançamento oficial acontecerá em 24 de setembro, último dia do Rock in Rio. O primeiro evento do calendário anual, segundo Medina, será o réveillon.
– Será o melhor réveillon que o Rio já teve – prometeu o empresário, presidente do Rock in Rio.
A proposta de parceria com o “Rio de Janeiro a Janeiro” foi logo acolhida pelo presidente regional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Alfredo Lopes (ABIH-RJ):
– Praticamente duplicamos o número de quartos para a Copa e a Olimpíada. Fizemos um investimento de R$ 10 bilhões. Hoje temos 56 mil quartos. Ter eventos o ano inteiro significa mais ocupação para os hotéis, que são grande geradores de empregos.
Lopes já faz planos:
– Podemos divulgar os eventos no mailing dos hotéis. Podemos ainda fazer pacotes de promoções. O turista que vier para a maratona e ficar num determinado hotel, por exemplo, poderia ganhar ingresso para visitar o Corcovado ou o AquaRio. Assim, ficaria mais dias na cidade.
Para ser incluído no calendário, o evento precisa receber o selo da Fundação Getulio Vargas (FGV), que mede os impactos econômico para a cidade. Pelos estudos da entidade, um aumento de 20% de turistas (mais 1,2 milhão no ano) representaria uma injeção de R$ 6,3 bilhões na economia carioca e mais 170 mil empregos por ano.
Medina – que concebeu o calendário junto com os empresários Boni, Ricardo Amaral e Paulo Protásio – lembrou que a melhoria da segurança é importante para que os eventos aconteçam. No entanto, ressaltou que há um outro lado:
– Com o aumento do turismo, daremos uma injeção na economia. E a economia melhor traz, como consequência, mais dinheiro para o estado investir em segurança.
O empresário está convencido que o Rio pode dar a volta por cima:
– A gente não merece ficar só nas páginas policiais. Precisamos resgatar a autoestima do carioca.
Durante o evento, Moreira Franco destacou as três frentes que o governo federal está atuando no Rio: o Plano de Recuperação Fiscal, assinado com o governador Luiz Fernando Pezão; a segurança, com o envio de forças federais que permanecerão na Região Metropolitana até o fim de 2018; e a promoção de um calendário de eventos, que atraia turistas e proporcione renda e emprego.
– O Rio é a grande porta de entrada de turistas para o nosso país. E trabalhar pelo Rio é melhorar o Brasil – afirmou Moreira.
Moreira e Sá Leitão garantiram que os eventos do calendário contarão com recursos de patrocínios de estatais federais. Os valores ainda não estão fechados. No entanto, Leitão estimou que, se levar em conta eventos que, somados, custem R$ 1 bilhão e que 15% possam ser patrocinados por estatais, isso significaria um investimento de R$ 150 milhões.
– Mas estamos buscando patrocinadores tanto de estatais quanto de empresas privadas – afirmou o ministro da Cultura.
Além disso, o presidente da Embratur reafirmou que o Rio, por ser o principal cartão-postal brasileiro, terá prioridade na divulgação no exterior. Da parte da prefeitura, com a arrecadação em queda, o presidente da Riotur disse que, por enquanto não tem como garantir recursos. O que o município prometeu é assegurar a infraestrutura para os eventos, como guardas municipais, agentes de trânsito e garis.
O “Rio de Janeiro a Janeiro” terá eventos de música, esporte e moda. Ele chegará ainda às comunidades. Estão na programação o prêmio Favela Criativa e as Festas Literárias da Periferia. “Vamos promover ações que gerem emprego e renda, que afastem o jovem do enorme poder de atração do tráfico”, diz um vídeo de apresentação do programa. Entre os eventos, também haverá o Luau do Rio.