Lady Gaga cancela show e seguro entra em cena
[Exame, 15/09/2017]
O Rock in Rio tem início hoje em meio à materialização de um dos grandes pesadelos de organizadores de eventos musicais: o cancelamento de uma de suas principais atrações, no caso, a cantora Lady Gaga. Se para os fãs nenhuma justificativa serve de consolo, para a empresa organizadora esse tipo de contratempo – com efeitos em custos envolvendo bilheteria, gerenciamento de crise, contratação de atração substituta e outros problemas potenciais – é coberto com apólices de seguros contratadas previamente.
“Fazer eventos é trabalhar com imprevisto. Fazemos seguro de tudo e mais alguma coisa”, comenta Roberta Medina, vice-presidente do festival, sem abrir o valor da apólice. O serviço foi contratado da seguradora Chubb via a corretora Aon Brasil.
O contrato feito pelos organizadores do Rock in Rio, que têm a expectativa de receber mais de 700 mil pessoas, prevê desde custos com danos corporais e materiais do público presente, perdas causadas por eventual cancelamento, condições climáticas, além de danos aos equipamentos. Midiã Borges, especialista no ramo da Aon Brasil, explica que o seguro contratado se divide em três blocos.
O primeiro, e mais completo, fica com a apólice de risco de responsabilidade civil. “Esse seguro tem uma série de subdivisões e funciona para suprir as preocupações com imprevistos que poderiam afetar a reputação do organizador. A cobertura vai desde a instalação até a desmontagem do evento, passando por coberturas de danos morais, acidentes com morte ou invalidez, até o fornecimento de alimentos e bebidas.”
Além disso, explica, existe um seguro de acidentes pessoais focado em sinistros mais simples e rápidos que pode ser usado, por exemplo, para a indenização de um espectador que sofrer algum acidente mais leve. Existe ainda uma apólice de seguros gerais, que cuida da possibilidade de cancelamento do evento, não comparecimento de um artista – caso da Lady Gaga – objetos cinematográficos, equipamentos musicais e vai até à possibilidade de um problema climático.
Conforme afirma Juliana Santos, responsável pela área de seguro de entretenimento da Chubb, o processo de mitigação dos riscos associados a grandes eventos começa sempre com um estudo feito por uma equipe especializada de engenheiros. Nessa análise, são levantadas as chances de tumulto, queda de estrutura, incêndio e uma apólice de seguros é proposta.
Dados da Associação Brasileira de Empresa de Eventos (Abeoc) mostram que o mercado de eventos cresce, em média, 14% ao ano no Brasil, com movimentação de recursos de R$ 209,2 bilhões. O tamanho do mercado de seguros voltado para o ramo, no entanto, é difícil de ser mensurado porque envolve vários tipos de serviço. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) não possui estatística específica para isso.
Atualmente, no Brasil essa contratação se limita a grandes eventos, sobretudo os internacionais, enquanto os menores, como congressos, exposições e até eventos esportivos seguem sem cobertura. Também não é grande o número de seguradoras que oferecem o serviço. A Chubb lidera esse mercado, e instituições como Allianz, Berkley, HDI e Tokio Marine também vendem a apólice.
“No Brasil, verificamos a tendência de contratação entre os grandes eventos. Observamos, contudo, que os organizadores dos eventos pequenos e médios no país ainda não descobriram a excelente relação entre custos e benefícios oferecida pela proteção”, diz Juliana, da Chubb. Midiã, da Aon, diz que é necessário uma quebra de paradigma, uma vez que o custo da contratação do seguro não chega a 1% do orçamento do evento.
A regulação passou por mudanças recentes em decorrência do incêndio na Boate Kiss, que há quatro anos matou 242 pessoas e feriu outras 680 na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Em março, a Presidência da República sancionou a Lei 13.425, concebida com o objetivo de evitar outra tragédia semelhante ao estabelecer normas mais rígidas em termos de segurança, prevenção e proteção contra incêndios em estabelecimentos frequentados pelo público. O novo regulamento ainda determina deveres específicos a serem seguidos por proprietários, autoridades públicas e profissionais.
Tramita na Câmara também um projeto de lei que torna obrigatório o seguro para eventos, de autoria do deputado Lucas Vergílio. Conforme o projeto, o seguro obrigatório oferecerá cobertura para danos pessoais em casos de incêndio, destruição ou explosão de qualquer natureza. A contratação ficará a cargo de organizadores de eventos artísticos, culturais e esportivos.
Lady Gaga, que sofre de fibromialgia, cancelou o show que faria hoje e a saída encontrada pelos organizadores foi repetir a apresentação do grupo Maroon 5, que acontece também no sábado. A organização do festival garante que irá reembolsar quem desistir de ir ao evento hoje. (Colaborou Daniela Chiaretti)