Yes! Queremos mais turistas. Problema é investir para trazê-los
[Sputnik, 10/08/17]
A criação da Agência Brasileira de Promoção do Turismo por si só não vai fazer com que triplique a receita brasileira com turismo dos atuais US$ 7 bilhões por ano para algo em torno de R$ 20 bilhões como quer o governo. A opinião é do presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais de Turismo (ABBTUR), Elzário Pereira Jr.
A proposta da agência, que consta no Projeto de Lei 7425/2017, tem como objetivo formular e desenvolver ações de promoção de produtos, serviços e destinos turísticos brasileiros no exterior. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o presidente da ABBTUR diz que a iniciativa é bem-vinda, mas deve ser complementada por uma série de ações por parte do governo, entre elas a valorização dos profissionais do setor, que ainda carecem de maior qualificação profissional.
Hoje, o turismo é uma das atividades que mais emprega no Brasil, tendo um contingente de quase 8 milhões de trabalhadores em diversas áreas de atuação, que vão da hotelaria, passando por transporte e receptivo.
“Se for só com promoção eu não creio muito (em triplicar a receita). Promoção é um dos instrumentos de captação de visitantes. Temos que fazer outros deveres de casa.A gente perde para o México e a Argentina em termos de investimento em promoção. Avançamos muito com a criação do Ministério do Turismo de 2003 para cá na questão do ordenamento das atividades, da criação de novos produtos, mas temos muito que fazer. Não sei se com essas medidas estamos colocando a carroça na frente dos bois”, afirma Pereira Jr.
Brasil e Argentina investem no turismo bilateral para reaquecer suas economias
Estudo do Fórum Econômico Mundial revela que, no ano passado, o Brasil ocupou o 27º lugar no ranking mundial de turismo composto por 136 países. Foi um avanço considerável, levando-se em conta que o país avançou do 51º lugar para o 27º em apenas quatro anos. No ano passado, graças às Olimpíadas e Paralimpíadas, o Brasil recebeu o recorde de 6,6 milhões de visitantes estrangeiros, um aumento de 4,8% em relação ao ano anterior, injetando US$ 6,2 bilhões na economia. A maior parte foi de visitantes latinos, seguidos por americanos e europeus. Só dos Estados Unidos vieram 600 mil turistas, seguidos de chilenos, paraguaios, uruguaios, franceses, alemães, italianos, ingleses, portugueses e espanhóis. Para esse ano, assim como acontece com países que sediam Olimpíadas, a expectativa é de um aumento de 6% no número de turistas estrangeiros.
Para o presidente da ABBTUR, é preciso sobretudo investir na formação dos profissionais de turismo. Segundo ele, o Brasil está hoje na 96ª posição em termos de absorção de mão de obra qualificada.
“Estamos fazendo 40 anos de existência como entidade, já são 42 anos do primeiro curso de turismo no país, com a Anhembi-Morumbi (faculdade) de São Paulo, mas ainda temos muito que caminhar na questão da legalidade, da valorização e da absorção da mão de obra qualificada para tocar as diversas atividades, seja hotelaria, agenciamento, transporte, sem falar na questão dos investimentos públicos das localidades, segurança pública, infraestrutura. Precisamos estimular que os transportes, principalmente os aéreos, possam ampliar a malha, que é nosso calo: atravessar o Atlântico e trazer a demanda europeia e americana para cá”, diz Pereira Jr., que defende um trabalho maior junto ao turismo interno e aos países latinoamericanos.
Esse esforço, porém, esbarra no problema de caixa do governo e das limitações orçamentárias que se arrastam nos últimos anos. Em 2016, por exemplo, a verba do Ministério do Turismo foi de R$ 671 milhões, o terceiro menor orçamento entre os ministérios.
“Essa questão orçamentária para o turismo sempre foi um calo. Não se dá a importância necessária a esse setor com tanta potencialidade que precisa ser desenvolvida e transformar esse país no país turístico, onde as potencialidades naturais são consideradas as de primeiro lugar no mundo”, conclui o presidente da ABBTUR.