Temporada de feiras internacionais 2017. Há oportunidades!
[Por Enzo Avezum, Brasilturis, 17/01/2017]
“O que leva muitos negócios a fechar as portas não é a falta de cliente e nem crises políticas ou financeiras, mas a falta de interesse em buscar informações, manter o cliente existente e atrair os novos”
Dois conceitos distintos, sobre áreas distintas, que podem se cruzar por completo quando o assunto é nosso turismo: benchmarking & Asperger. Vamos aos esclarecimentos técnicos, de forma bem literal.
Benchmarking* consiste no processo de busca das melhores práticas em uma determinada indústria que conduzem ao desempenho superior quando adaptadas e aplicadas em outra localidade ou negócio similar àquele estudado. Cabe a nós olhar, enxergar, aprender e aplicar.
Síndrome de Asperger* (SA) é um distúrbio de desenvolvimento que afeta a capacidade do indivíduo de socializar-se e comunicar-se de maneira efetiva. Aqui eu faço uma nota pessoal: pessoas com Asperger podem ser as mais amáveis, cultas e encantadoras do universo, apenas com uma forma diferente de se expressar. Cabe a nós olhar, enxergar e aprender.
Essas são as definições acadêmicas sobre ambos, uma prática para negócios e uma síndrome que pode ser confundida com autismo. Tão importante quanto enxergar e aprender é aplicar as melhores experiências devidamente adaptadas a outras realidades e necessidades, sem jamais colocar os interesses pessoais em primeiro lugar.
A pessoa com SA enxerga e absorve o mundo de uma forma muito mais intensa, como se os cinco sentidos sinestésicos fossem colocados em prática de forma cruzada, ou seja, ela pode sentir o cheiro do número 10 quando ele é visualizado e sentir a textura tátil do barulho de um escapamento de carro quando este é ouvido. Eles têm uma capacidade de aprendizado incrível e vivenciam as experiências sensoriais de uma forma bem diferente dos que não têm a síndrome.
São capazes de armazenar milhões de informações que, às vezes, uma pessoa dita ‘’normal’’ não consegue. Mas o timing de processamento e verbalização deste aprendizado adquirido acontece em outra escala. A sensibilidade de um Asperger é absolutamente mais desenvolvida.
Mas o que isso tudo tem a ver com o primeiro termo, o benchmarking? Estes programas possibilitam levar um profissional ou um pequeno grupo para visitar um destino e conhecer as melhores práticas em diferentes segmentos do turismo daquele local (esporte, aventura, incentivo, convenções, etc). Também podem ver modelos de sucesso em hotelaria e parques, entre outros produtos.
Durante a visita de alguns dias, o destino/negócio anfitrião terá a generosidade de ensinar como implementou alguma ação para que fosse bem sucedido, com práticas seguras, corretas e sustentáveis, desde a adaptação para a realidade até a gestão constante de processos.
O benchmarking é diferente de um famtrip, pois o visitante somente irá conhecer aquilo que realmente tem relação direta com o segmento pesquisado e aprendido, podendo ou não haver exceções.
Mais uma vez é importante ressaltar que os programas não são prêmios de férias para profissionais de governos, agências e operadoras, tampouco são destinados a profissionais juniores. Os custos e tempo das pessoas envolvidas que irão te receber são grandes, nada desprezíveis.
Durante a viagem a prioridade não é fazer selfies, fotos de comida ou compras. A prioridade é o APRENDIZADO. Por quê? Porque ao regressar para o escritório, o participante será o responsável por ser a ponte entre o conteúdo aprendido e a equipe, passando as informações da forma mais clara, realista e objetiva, para que tudo possa ser analisado, adaptado à realidade local, formatado, e finalmente implementado para o seu negócio/cidade/país. Este trabalho nunca termina, pois após a implementação de novas práticas o acompanhamento deve ser constante, com gestão adequada e apolítica.
Se você trabalha para governos, sua responsabilidade é ainda maior. Além da equipe há toda uma população que depende de que estas melhores práticas trazidas e adaptadas sejam bem implementadas e conduzidas para melhorar a vida de centenasou milhares de pessoas e, assim, melhorar os lucros, a economia local, a qualidade de vida, a autoestima.
E advinha quem não pode se sobressair em projetos como esse?! Ele mesmo, o EGO. O que deve ser colocado em primeiro plano: as pessoas que poderão ser atingidas, o desenvolvimento positivo de negócios, pessoas, comunidades.
É um efeito dominó que pode afetar positivamente muitas vidas e negócios. Todos devem se beneficiar.
Ao visitar um novo destino, uma fábrica, uma nova loja, é possível realizar alguns exercícios: primeiro, tente se colocar no lugar da pessoa local que está transmitindo todas as informações. Tente enxergar as coisas como os locais e, imediatamente, você poderá estabelecer um paralelo com a sua realidade. Depois, tente ver além do que está escutando e olhando e ver de onde veio e para onde pode levar. Mais uma vez, você irá exercitar a pratica para a sua realidade. São momentos únicos e muito ricos.
Feiras internacionais de turismo
Estas práticas também valem para outra situação: quando somos visitantes de uma feira de turismo, principalmente em outros países. Além de buscar novas parcerias com fornecedores antigos ou recentes, essas são excelentes oportunidades para aprender; conhecer novos formatos de negócios já tradicionais, novas tecnologias, etc. Nem só de reuniões são feitos esses eventos internacionais. Há seminários imperdíveis sobre temas atuais ou antigos, com novas práticas, palestrantes com muito conteúdo, e muito mais.
A experiência positiva com boa parte das feiras internacionais começa logo ao nos registrarmos. Um sistema operacional que funciona para cadastramento, visualização de expositores e seminários ou workshops e, finalmente, o tão importante agendamento das reuniões que precisamos ou queremos fazer.
Este modelo de feira é o que melhor traz resultados. Você otimiza seu tempo, aprende e, por tabela, mostra respeito pelo seu investimento feito ou da empresa que o enviou. São feiras que propiciam a realização de negócios como prioridade e não de festas ou ‘’agendas sociais’’.
Infelizmente, o mesmo não ocorre com a maioria das feiras de turismo no Brasil. Sem um sistema informatizado que otimize o investimento de visitantes e expositores, com poucas palestras e seminários de conteúdo relevante e com organizadores querendo ganhar muito dinheiro dos expositores, elas estão ultrapassadas.
Como renovar? Enquanto o próprio profissional do turismo não demandar mudança, nada será feito. Comece por aí e, em outro momento, podemos abordar mais a fundo o tema. Mas saiba que é o seu interesse por um mercado melhor e renovado que vai modificar esse sistema.
E como este tema está relacionado com benchmarking & o Asperger? Fácil! Ao visitar uma feira podemos trocar a agenda do ‘’mais social’’ por uma mais profissional, com conteúdo e enxergar de verdade quais são as novidades. Você vai levar não somente o seu negócio mais longe, mas vai atrair a atenção de um público que está carente de novidades.
Assim como um funcionário de órgão público, nós do setor privado temos a obrigação de inovar, abrir mais portas, mais opções. Muitos que, por motivos financeiros, não podem atender a estes eventos internacionais, contam com aqueles que podem para ter acesso às novidades, e não o ‘’prato frio’’ e embolorado do “mais do mesmo”.
Trazer a prática de novos conhecimentos e como implementar, trazer novas sensações e usa-las, enriquecer o profissional do turismo e o mercado como um todo.
Não há problema nenhum em querer vender o mesmo destino constantemente. Mas existe um vício por práticas ultrapassadas quando fechamos a porta para conhecer atrações ainda mal exploradas deste mesmo local. Estas novidades podem vir com parcerias, novos fornecedores, novos olhares.
Há um movimento sendo detectado com maior frequência no exterior, e ainda muito pontual no Brasil: o BACK TO THE BASICS, ou seja, oferecer um serviço customizado no sentido pleno que esta palavra traz. Com leituras, pesquisas, conversas, troca de experiências é possível você oferecer um trabalho primoroso, que nenhuma OTA (mas nenhuma mesmo) tem condições de oferecer.
Isso significa trazer de volta aquele atendimento direto e pessoal, pois o que importa é o seu CLIENTE, a EXPERIÊNCIA que irá levar até ele para, assim, poder criar MEMÓRIAS felizes da viagem. Este cliente volta, com toda certeza – se você for correto e não quiser tirar o lucro do ano todo em uma única venda.
Existem agências espalhadas pelo mundo se reformulando, sem que para isso tentem reinventar a roda. O que leva muitos negócios a fechar as portas não é a falta de cliente e nem crises políticas ou financeiras, mas a falta de interesse em buscar informações, manter o cliente existente e atrair os novos.
Hoje, com acesso à internet, só ‘’fica no escuro’’ quem tem preguiça e quem não gosta de trabalhar. Mas tenha cuidado! Ao pesquisar, sempre se certifique sobre a veracidade de fatos. Seja consciente sobre o que existe ao seu redor. Há muito mais no mundo a ser explorado que vai além de onde sua visão alcança.
Há muito, mas muito mesmo acontecendo em todo o mundo, coisas que nem podemos imaginar. Mas podemos ir atrás, aprender e compartilhar.
Uma ótima semana a todos!