Elza Tsumori: “A ordem é fazer mais com menos"
[Por Promoview, 06/05/2015]
Desenhista Industrial pela Faap, Elza Tsumori foi sócia da Cia Ativadora de Negócios. Atualmente é consultora da M.I.C.E Brasil Consulting e sócia da Casa Barcelona Gestão de Marcas e Design de Negócios.
Acadêmica Cadeira 37 da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, membro da Academia Brasileira de Marketing Esportivo, conselheira permanente da Ampro -Associação de Marketing Promocional, Elza Tsumori está também entre as “Mais Influentes” no Anuário Brasileiro de Live Marketing publicado pelo Promoview
Esta semana Elza conversou com a nossa editora Antonia Goularte e trouxe um pouco do seu conhecimento e sobre o desenvolvimento do mercado de eventos no Brasil.
ELZA TSUMORI
Promoview: Abril foi um mês de comemoração para o setor de eventos devido ao Dia da Indústria de Eventos (16/04) e o Dia do Profissional de Eventos (30/04). Como você avalia a importância dessas celebrações para a divulgação do setor?
Elza Tsumori: O setor de eventos no Brasil merece reconhecimento e todos os profissionais que contribuem para o crescimento do setor devem ser homenageados. Vale citar alguns números para que vejam o que representa o setor de eventos no Brasil. Esse setor movimenta atualmente mais de R$ 209 bilhões anuais, envolve mais de 40 segmentos da economia, representa 4,32% do PIB e gera 7,5 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo último levantamento Abeoc/Sebrae de 2014.
No dia 16 aconteceu a comemoração do Dia da Indústria de Eventos. É a primeira edição mundial chamado de North American Meetings Industry Day (Namid), criado e organizado nos EUA pela Meeting Mean Business (MMB) e estendido para países como Canadá, México e América Latina a partir deste ano.
No dia 30, o Dia do Profissional de Eventos, uma iniciativa da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, oficializada por intermédio de Lei proposta pela Deputada Estadual Célia Leão, em São Paulo em 2013 e foi escolhida por ser o dia do aniversário do precursor e responsável pela realização dos grandes feiras no Brasil, Caio de Alcantara Machado, com apoio de entidades que compõem o Fórum Nacional do Setor de Eventos – ForEventos.
Promoview: Levando em conta sua experiência profissional, você pode traçar uma timeline sobre o desenvolvimento do segmento desde o início de sua carreira até os dias de hoje? Como o Brasil evoluiu? Quais foram os principais desafios? De que forma o mês de abril se tornou um marco para o setor?
Elza Tsumori: Evento é uma atividade que nasceu com a coletividade humana, desde os tempo tribais e grandes civilizações. Através dos tempos foi se expandindo e hoje é notória a sua transversalidade com as diversas atividades econômicas e sociais.
Como este espaço não é o local para falar de História dos Eventos, o olhar que escolho para criar uma linha do tempo é a importância que foi adquirindo no mundo do Marketing e a Comunicação, principalmente a partir dos anos 80 no Brasil. Sejam feiras, congressos, convenções, reuniões, lançamentos de produtos e serviços, socioculturais, artísticos, esportivos e rurais; todos os eventos ganharam relevância no budget das empresas e os patrocínios, eventos proprietários e naming foram surgindo para ficar definitivamente no cenário de Marketing e Comunicação nas décadas seguintes.
Os eventos que reuniam dezenas e centenas de pessoas começaram a se agigantar a partir dos anos 90 e hoje reúnem centenas de milhares de pessoas de determinado perfil, idade e classe social.
Colaborou muito a tecnologia a partir do surgimento da informática, do LED, celular e Internet a partir de 2000. Novos negócios foram surgindo no setor. Hoje é inegável e condição sinequa non, ter em qualquer evento a soma e integração de equipamentos tecnológicos.
Graças a isso, somado ao talento e criatividade humana, hoje temos a condição de produzir eventos gigantescos com possibilidades presenciais, interativos e virtuais que fazem público delirar e ficarem extasiados em diversos locais e ao mesmo tempo.
Eu considero também importante o investimento na Educação, Cultura, Sustentabilidade, Transversalidade e Hospitalidade e o Brasil despertou para isso mais recentemente. O número de cursos focados em eventos cresce a cada ano, assim como a qualidade das suas grades curriculares.
Nota-se também, um crescimento na busca de certificações das empresas e profissionais do setor a partir de 2010, o que demonstra aumento na qualificação dos serviços. Esse é um reflexo de um mercado em crescimento, que busca o fortalecimento profissional, apesar dos desafios enfrentados.
Promoview: Nesse ano, o Fórum das Entidades do Setor de Eventos reuniu 18 entidades da área para incentivar associados a comemorarem a data. Qual é o seu feedback sobre o encontro?
Elza Tsumori: O ForEventos apoiou as duas iniciativas, criando a Quinzena dos Eventos e fez tudo de forma virtual, utilizando a união das suas entidades-membros e por intermédio de mobilização da mídia especializada.
Aqui eu aproveito para falar um pouco sobre quem é o ForEventos que tenho orgulho de coordenar.
O Fórum Nacional das Entidades de Eventos – ForEventos foi criado em julho de 2011 e é um grupo de discussão e articulação estratégica; de caráter permanente e transversal, que tem por finalidade o reconhecimento e o fortalecimento econômico, social e político do setor de eventos junto aos mercados, à sociedade civil e às esferas governamentais
As entidades participantes do ForEventos representam cerca de quatro mil empresas, com geração de mais de 5,1 milhões de empregos diretos e indiretos. Atualmente, é composto por 17 associações de representatividade nacional: Abeoc, Abih, Abrace, Abraccef, Abrafec, Alagev, Ampro, Bito, CBC&VB, Eventpool, FBHA, Ifea, MPI Brazil – Meeting Professionals International, Resorts Brasil, Skal Internacional Brasil, SPC&VB – São Paulo Convention&Visitors Bureau.
O ForEventos participou e apoiou ativamente o II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil 2013, feito pelo Observatório de Turismo da UFF, lançado em outubro de 2014 pelo Sebrae e Abeoc.
Promoview: Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado no mercado internacional por se mostrar capaz de receber megaeventos de diferentes segmentos. Em sua opinião, que medidas o País deve tomar para continuar a crescer e se destacar no setor?
Elza Tsumori: A indústria de eventos deve ser vista e planejada considerando sua principal característica: a sua importância socioeconômica e a transversalidade com as diversas atividades econômicas e sociais.
Os desafios continuam e cresce com a extensão territorial, diversidade cultural e diferenças econômicas. Mas, é inegável sermos um País de imensurável potencial de desenvolvimento de sua indústria de eventos. Por isso mesmo é imprescindível que algumas providências sejam tomadas para mantê-lo viável economicamente e atrair mais investimentos, com o objetivo de tirar o máximo proveito de seu potencial e elevá-lo ao nível de uma atividade prioritária no Brasil e reconhecida internacionalmente.
Para exemplificar somente alguns pontos, cito a necessidade de aprimorar a legislação trabalhista, modernizando e adequando à realidade produtiva, como a criação de normas que permitam a contratação de mão de obra por tempo determinado, temporário e em razão da sazonalidade. Além disso, há que se realizar uma reforma tributária para o setor principalmente a bitributação. A necessidade de investimentos e incentivos governamentais para construção de Centros de Convenções. Essa falta dificulta a vinda de grandes eventos para o Brasil e na produção de eventos corporativos no País.
A melhoria da mobilidade urbana para proporcionar uma interligação entre os pontos turísticos e equipamentos de hospedagem, gastronomia e eventos da cidade, principalmente nos transportes públicos. O livre acesso a turistas ao território nacional, mediante a isenção de obrigatoriedade de visto ou facilidade de obtenção. E, incentivo fiscal às empresas que investirem, com recursos próprios, na capacitação de seus colaboradores.
Promoview: No próximo ano, o Brasil recebe as Olimpíadas Rio 2016. Qual é a relevância de mais esse megaevento, não só para o setor de eventos, mas também para os segmentos ligados a ele – tais como turismo, comércio, hotelaria entre outros?
Elza Tsumori: A indústria de eventos, como outros segmentos, deve ser considerada como uma atividade fundamental e transversal em relação às atividades econômicas e culturais existentes.
As Olimpíadas, como os demais eventos mundiais, devem ser entendidas por todo o povo brasileiro como importante evento ao País e não somente à cidade-sede.
É preciso que o Governo planeje para saber que legado queremos de cada evento. É importante que existam ações públicas que estimulem os empresários do setor a adequarem as suas atividades, melhorando o atendimento e desenvolvendo ações criativas.
Com base nisso, é possível fazer um mapeamento de oportunidades, e, assim, atrair cada vez mais novos eventos. Cursos, palestras e campanhas de sensibilização por meio de agentes credenciados são um dos meios capazes de estimular o desenvolvimento desta capacidade empreendedora. E isso pode começar bem cedo, já no Ensino Fundamental e Médio, proporcionando um sentimento de pertencimento, mediante atividades práticas, inclusive com a implantação de Cartilha de Evento & Turismo que ilustre o respeito aos valores culturais, esportivos, históricos, solidariedade, hospitalidade e sustentabilidade.
Importante também a adequação dos cursos superiores e técnicos à realidade dos mercados estadual e municipal, com respectivos reconhecimento das profissões.
Promoview: Quais são suas expectativas para o mercado de eventos no segundo semestre de 2015?
Elza Tsumori: Eu sinto que não haverá muita retração no mercado e diminuição de número de eventos. O que acredito é que haverá diminuição de verba. A ordem é “fazer mais com menos” e é onde precisamos tomar cuidado para que não haja simplesmente corte de verba por parte dos clientes e organizadores.
Com criatividade e talento, podemos desenvolver os eventos regionais presenciais, acoplar eventos virtuais à distância com uso de tecnologia de ponta. Assim como tecnologia para inscrição, recepção, conteúdo e programa via APP e transmissões segmentadas.
Promoview: Você foi presidente da Ampro. Como encara esse novo momento da Associação? O mercado já assimilou o termo live marketing de uma forma ampla?
Elza Tsumori: Eu considero o live marketing como uma denominação que veio para facilitar a venda dos serviços de marketing que é um setor complexo e complexado.
Às vezes é bom ter um apelido novo que traduza rapidamente o que faz e que tenha o som da sua época. É claro que no começo cria reboliço, precisa de legenda, nota de rodapé, mas como todo posicionamento novo, a assimilação só acontece com a identificação da empresa com o nome e com o conceito.
Hoje o mundo da Comunicação e Marketing vive um momento onde convivem tantas nomenclaturas que cada empresa pode escolher a que melhor traduza seus serviços e a sua contemporaneidade e tudo bem.
Eu vi nascer o below the line, a promoção, o merchandising, o trade marketing, o incentivo, o relacionamento, a comunicação 360º, o non advertising, a comunicação integrada, o marketing promocional, o dark marketing e agora o live marketing.
Eu vi a coexistência nesses 40 anos de profissão e acho que não vai acabar por aqui.
Promoview: O que esperar do mercado de live marketing em um ano de economia instável como está sendo o de 2015?
Elza Tsumori: Eu sempre vejo uma luz no fim do túnel, olho o lado positivo e acredito que num ano de crise podemos encontrar muitas oportunidades de negócio.
Eu tive mais sucesso nos anos difíceis economicamente, porque os clientes precisam investir mais na área comercial, de solução criativa e inovadora. E, a minha área é de inovação e sustentabilidade em Marketing e Comunicação.