O Legado para o Castelão
[Por O Povo, 06/07/2014]
O torcedor, ainda que dos mais apaixonados, tem deixado, nas últimas semanas, o time do coração de lado para se render aos encantos da Copa do Mundo. No gramado do Castelão, Ceará e Fortaleza deram lugar a Holanda, México, Colômbia, Grécia, Costa Rica, Costa do Marfim, Gana, Alemanha, Uruguai e Brasil. Além do futebol, no entanto, o Mundial tem chamado a atenção do torcedor que começa a reivindicar organização, segurança e mobilidade “padrão Fifa” para as partidas do Estadual e do Brasileirão.
O POVO escutou torcedores que frequentam as duas competições sobre o que a Copa tem a ensinar para a organização de jogos entre os times locais. A maioria destacou a convivência entre torcidas adversárias na arquibancada e a segurança, dentro e fora do estádio, como os dois grandes legados que poderiam ser vistos após o Mundial.
“Torcida mista é mais divertido porque dá para um zoar com o outro de uma forma sadia”, comenta o profissional de educação física Jailton Ximenes, 25. O analista de negócios David de Castro, 27, concorda: “Todo mundo tem amigo que torce para outro time. A gente torce junto e não tem problema”, diz. Os torcedores acreditam que, para repetir a festa do Mundial em dia de Clássico-Rei, é preciso uma mudança de cultura. “Aqui você vê a não-rivalidade, mas no Cearense é mais difícil”, aponta o empresário João Alexandre, 42. O empresário levou o filho João Vitor, 8, que nunca viu um Ceará e Fortaleza, pela primeira vez ao Castelão durante a Copa do Mundo. “Esse deveria ser o legado: educação e civilidade nos estádios”, diz.
Todos os torcedores ouvidos pelo O POVO foram unânimes: a sensação de segurança prevaleceu no Castelão em dias de Copa do Mundo. A operação organizada para o Mundial recebeu elogios quando comparada ao esquema utilizado para jogos do Campeonato Cearense.
O que diz a SSPDS: Segundo o tenente-coronel Fernando Albano, relações públicas da Polícia Miliar (PM), o legado deixado pela Copa do Mundo para a segurança em eventos é o da capacitação dos profissionais e do aparato tecnológico. Para o tenente-coronel, no entanto, a ausência da PM dentro do estádio observada na Copa ainda não é possível em jogos de times locais. “Esse policiamento da Fifa tem como base torcedores que sabem se controlar de forma costumeira. A educação do torcedor tem que ser mudada primeiro”, completa o oficial.
TORCIDA
Em arquibancada de Copa do Mundo, nada de lado A ou lado B. Os torcedores são unânimes: torcer misturado é mais divertido. A maioria, no entanto, acredita que a realidade ainda está longe do futebol estadual. “Pra quem é torcedor e vem para assistir ao futebol, fica esse legado em relação à cultura de companheirismo de torcidas adversárias. Hoje o poder atua na grande torcida. Deveria ser o contrário”, afirma o administrador Max Vidal, 28.
O que diz a Federação Cearense de Futebol: O POVO tentou entrar em contato com o presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmélio, durante dois dias. As ligações, no entanto, não foram atendidas ou retornadas até o fechamento desta matéria.
ESPLANADA
Nos jogos de Copa do Mundo, a esplanada do Castelão comportou estandes e lanchonetes que fizeram a festa do torcedor antes do início das partidas. O espaço de 55 mil m² foi utilizado para a venda de produtos licenciados e promoção de ações das empresas patrocinadoras do evento. “Esse espaço é muito bom. Os patrocinadores poderiam aproveitar e fazer algo parecido nos jogos daqui”, aponta o empresário João Alexandre, 42.
O que diz a administração do Castelão: O POVO tentou entrar em contato com a BWA Administração, empresa responsável pela operação do Castelão, durante dois dias. As ligações, no entanto, não foram atendidas ou retornadas até o fechamento desta reportagem.
INTERNET
O Cinturão Digital prometido pelo Governo do Estado foi alvo de críticas durante a Copa. A conexão WiFi, prometida para 25 mil acessos, não deu conta da média de público do Castelão. Os usuários, no entanto, reivindicam que a rede permaneça no estádio para jogos dos times cearenses. “O WiFi deveria permanecer para que a gente possa acessar e postar fotos com rapidez”, opina o comerciante Manuel Deodato, 31.
O que diz a Etice: Uma rede WiFi fixa para o Castelão já está em fase de planejamento. A informação é do presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), Fernando Carvalho. Segundo Fernando, a rede utilizada na Copa do Mundo era provisória. A previsão é que os estudos para uma nova rede sejam concluídos em 15 dias, quando deve ter início o processo de licitação.
ESQUEMA DE TRÂNSITO
O plano de mobilidade utilizado na Copa do Mundo facilitou a ida do torcedor ao Castelão. Segundo o promotor Saulo Moreira, 44, a organização na chegada ao estádio é “a maior diferença” entre os jogos de Copa do Mundo e do Estadual. “Esse esquema de deixar o carro longe e vir de ônibus é bem mais organizado”, comenta.
O que diz a AMC: O esquema utilizado na Copa do Mundo foi bem avaliado pela Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC). Segundo o chefe do núcleo de operações da AMC, Disraeli Brasil, no entanto, o esquema dos bolsões seria impossível de ser reproduzido em jogos das equipes locais. “Mas a ideia que fica é que não é interessante utilizar o transporte individual para ir aos jogos, porque você vai gerar um volume muito grande de veículos”, aponta.
OPERAÇÃO E INFRAESTRUTURA
A organização dos jogos da Copa do Mundo foi elogiada pelos torcedores. Banheiros limpos, agilidade no momento da entrada e auxílio na busca por informação foram pontos positivos quando comparados às partidas de times locais. O ponto negativo ficou por conta das lanchonetes, que não deram conta de todos os torcedores que foram ao Castelão. “A diferença é absurda.
Aqui a gente vê a vontade de querer organizar o evento para os torcedores, que são quem faz o evento”, afirma o analisa de negócios David de Castro, 27.
– O que diz a administração do Castelão: O POVO tentou entrar em contato com a BWA Administração, empresa responsável pela operação do Castelão, durante dois dias. As ligações, no entanto, não foram atendidas ou retornadas até o fechamento desta matéria.
ACESSIBILIDADE
A acessibilidade nas partidas da Copa foi elogiada por cadeirantes. O acesso ao Castelão foi possibilitado pelo uso de ônibus adaptados e de micro-ônibus que levavam o torcedor durante a fan walk. Para a paratleta Fafá Fonseca, 25, o mesmo sistema poderia ser repetido. “Quando venho para um jogo normal, tenho que passar mais de uma hora esperando por um ônibus adaptado. Tenho que sair de casa com duas horas de antecedência”, critica.
– O que diz a Etufor: A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) informou, por meio de assessoria de imprensa, que, atualmente, a Capital possui 1.382 de 1.900 ônibus e 206 de 302 vans adaptados para cadeirantes. Segundo a Etufor, a frota é “constantemente renovada” e há previsão de aumento no número de ônibus adaptados.