Empresas trocam convenção por estádio
[Por Folha de São Paulo, 24/11/2013]
Empresas que atuam no segmento de eventos corporativos, que movimenta R$ 9 bilhões, temem pelo efeito deslocamento –com os investimentos das empresas em eventos sendo substituídos por ações de incentivo como compra de ingressos para funcionários e clientes.
Entre as agências de turismo, o sentimento é que ficarão fora da festa, uma vez que a venda de ingressos para os jogos está concentrada nas mãos da Match, a agência oficial da Fifa.
“A Copa vai ser bacana como festa. Não esperamos vender mais no ano que vem por causa do Mundial”, afirma o presidente da CVC, Luiz Eduardo Falco.
A presidente da Abeoc (Associação Brasileira das Empresas de Eventos), Anita Peres, diz que já há empresas cancelando convenções anuais e redirecionando as receitas para a compra de ingressos para distribuir como incentivo para funcionários.
Os preços altos praticados pelas empresas que atendem ao segmento de eventos corporativos também são um inibidor para o mercado de eventos.
Para o presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau, Toni Sando, a Copa “serve apenas de pretexto” para resolver problemas de infraestrutura”.
“O país vai parar, e os eventos vão deixar de acontecer.”
A experiência da Copa das Confederações, que atraiu 20 mil turistas estrangeiros, foi mista. Os eventos corporativos não pararam. Mas alguns destinos registraram queda na ocupação de hotéis. Foram os casos de Salvador, Rio e Belo Horizonte.
Estudos econômicos sobre os efeitos de grandes eventos esportivos apontam que, no médio e longo prazo, o efeito pode ser positivo dada a enorme divulgação do país como destino turístico. No entanto, esse benefício não é automático e varia de país para país.
A Alemanha subiu no ranking de competitividade do WTTC (World Travel and Tourism Council), enquanto a África do Sul caiu.
“As vinícolas que se prepararam para atender o turista durante na África do Sul em 2010 ficaram a ver navios. Quem foi foi só pra Copa”, diz Trícia Neves, consultora de hospitalidade para hotéis e restaurantes e que esteve recentemente na África do Sul pesquisando sobre a herança do Mundial de 2010.
Ela teme pela capacidade do país de aproveitar a Copa e dar um salto na qualidade do atendimento ao turista.
“Para virar um destino para eventos corporativos internacionais, o país precisa estar preparado. Fora de São Paulo, os hotéis são geridos de forma amadora, e os destinos não sabem trabalhar de forma coletiva”, afirma.