Indústria de viagens. Quem se importa?
[Artigo de Artur Andrade, editor do Jornal Panrotas, 10/07/2013]
Saúde, educação e segurança. O tripé de mudanças que o Brasil pede, exige e merece. Com a seriedade e a honestidade que devem permear todos os passos profissionais e pessoais, públicos e privados.
Saúde e segurança precisam de choques imediatos. De ações que resolvam problemas a curto prazo. Não é possível ser governante nesse País ou diretor de órgão público e não tomar essas medidas “fora da caixa” para tratar desses dois assuntos. Os médicos fogem da rede pública, pois o dinheiro (e a fama) está na iniciativa privada, que só cresce porque a rede pública de saúde fica cada vez pior e o ciclo só piora. Trazer médicos de fora é a solução? Não sei, não sou especialista. Mas é preciso de algo assim, que assuste e faça todo o setor se mexer. Não dá para ver brasileiros morrendo por causa de descaso, corrupção, incompetência. Os holofotes se voltam para os hospitais de celebridades, tipo Eisntein e Sírio Libanês, mas são nos hospitais público que estão as notícias: não dá para continuar assim.
O mesmo com a segurança. Está quase impossível ler jornais diários ou na internet. Só desgraça. Só tragédia. Só assassinatos por trocados. E com a garantia de que os assassinos ou se livrarão da cadeia em curto espaço de tempo ou fugirão de penitenciárias sucateadas ou comandarão mais crimes lá de dentro. Também impossível que as autoridades não se comovam com tantas mortes estúpidas. Por que é interessante para o Estado manter um sistema judiciário tão ultrapassado, lento e com penas risíveis? Por que a indústria do “quanto pior melhor (para nós)” impera nessas duas áreas?
Em relação à educação infelizmente o choque não resolverá. O processo é mais lento, de longo prazo. E até agora não começou.
Aí, nós, que trabalhamos na indústria de viagens, vendo tanto “horror e iniqüidade”, como na canção de Chico (Geni e o Zepelim), paramos e nos questionamos: qual nosso papel diante de tudo isso? Temos prioridade zero no governo, não temos bandeira, não temos imagem como indústria… Somos supérfluos?
Mas nada de crise existencial… Em um país sério e com o potencial turístico que temos, seríamos sim prioridade. Primeiro porque a indústria de viagens inclui desde a viagem da presidenta ou a do papa e tudo aquilo que impactos, até as viagens necessárias que movimentam a economia, até as não menos importantes viagens a lazer, que tocam inúmeros outros segmentos, da gastronomia ao comércio, do setor de energia ao automobilístico, do ambulante vendendo camarão na praia ao restaurante excessivamente caro dos Jardins, na capital paulista, das compras na rua da Alfândega, no Rio, à Louis Vuitton da Oscar Freire, em São Paulo.
O turismo, nós, dessa indústria, já gera uma enormidade de empregos, receita, impostos… negócios. Impostos e negócios que seriam suficientes, em um país sério, para colaborar na construção e na qualidade dos serviços de hospitais, por exemplo. Rodovias. Presídios. Equipamentos para a polícia. Escolas…
Mas não sabemos quantificar e nos valorizar. Quando somos notícia, ou é o governo dizendo que os empresários, que até agora cuidaram sozinhos do turismo no País (com resultados), estão cobrando alto demais por hospedagens e passagens, ou quando há alguma notícia ruim, seja acidente, assalto, atraso, doença…
Assistindo a uma apresentação de Roger Dow, da US Travel Association, vi que os americanos sabem quantificar muito bem o que significa o turismo. E lá a indústria passou anos cobrando investimentos do governo federal, que só agora se mexeu. Até então, eram os Estados e municípios, em uma aliança com os empresários, que elevaram o país a potência turística e número um em receita gerada pelas viagens.
Para exemplificar a quantidade de empregos gerados pelo turismo, Dow foi bem claro: em cada Boeing 737 que aterrissa em um aeroporto, é o turismo gerando seis novos empregos (a conta é: a cada 33 visitantes, um emprego é criado com a ajuda do turismo). E aqui no Brasil? Em uma churrascaria como a Fogo de Chão, onde 90% dos pagamentos durante a semana devem ser de PJ (recebendo alguém de fora ou em viagem), quantos empregos são mantidos pela indústria de viagem? E em um shopping como o Rio Sul, ao lado de Copacabana, no Rio? E nos postos de gasolina? Em redações de jornal? Em teatros e cinemas? Em hospitais? Em cursos de idioma? Em refinarias? Em livrarias? Em supermercados? Em empresas de tecnologia? Na Louis Vuitton? Na Apple? Nas empresas de telefonia? Etc etc etc…
Qual nossa representatividade? Qual nossa força? O que emperra o incremento desse nosso poder de contribuir com o desenvolvimento do País? Gerando milhões em receita e empregos não deveríamos ser prioridade? Ser ouvidos? Ou continuaremos a ser tratados como vidraça ou como supérfluos? Como uma indústria menor?
Se o País não utiliza bem seu potencial, no que depende da “parte que cabe ao governo” (infraestrutura e estratégia, por exemplo) e se os recursos gerados são desviados, mal utilizados ou engolidos pelo custo da máquina pública, não é a indústria que deve ser marginalizada.
O meã culpa do lado de cá também é necessário: falta posicionamento. Falta gritar alto, pelo visto, como os que foram às ruas.
Ainda é tempo.