O Brasil na vitrine de suas contradições no turismo
Artigo de Ricardo Amaral, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos [Diário do Turismo, 16/04/2013]
O Brasil precisa avaliar sua atuação no cenário turístico e intensificar sua prioridade na lista de ações pontuais no Turismo. A infraestrutura precisa melhorar muito, os preços das passagens aéreas e das taxas aeroportuárias são altos, “assim como os preços em geral”. Também é alta a carga tributária, os preços das acomodações e dos combustíveis. Adicione-se a isso a excessiva burocracia para o setor de viagens e turismo, tanto para os viajantes como para as empresas do setor, e a questão da segurança, que afugenta os turistas.
Eis o quadro altamente negativo traçado para o Brasil pelo Fórum Econômico Mundial em seu último “Relatório de Competitividade do Turismo de 2013”. Entre os dois últimos relatórios, o Brasil subiu apenas uma posição e ainda se encontra em um distante 51º lugar, entre 142 países. É apenas o sétimo colocado nas Américas, atrás do Panamá. Apesar de todos os problemas, este País ainda é um lugar de grande interesse para os estrangeiros, graças às suas características naturais e culturais.
É uma grande contradição – o Brasil poderia estar hoje entre os destinos mais procurados do mundo, não fossem os entraves criados por ele mesmo. No turismo em terra, diz o Fórum, as principais barreiras para tornar o Brasil mais atraente para viajantes estrangeiros ou locais são o precário sistema de transportes, a mão de obra especializada em receptivo e os preços altos.
“A rede de transportes permanece subdesenvolvida”, esclarece o relatório. Nesse quesito, o Brasil ocupa a 129ª posição, pois a qualidade das estradas, dos portos, dos aeroportos e das ferrovias “requer melhorias para acompanhar o desenvolvimento econômico do País”.
Só mesmo o Brasil não percebe o quanto perde de divisas ao dar tão pouca importância ao turismo, que responde por 9% do Produto Interno Bruto mundial, cerca de US$ 6 trilhões, e gera 245 milhões de empregos diretos e indiretos.
Num momento de crise econômica mundial, o Brasil poderia se beneficiar de toda a comodidade e a hospitalidade oferecida pelo turismo marítimo, para enfrentar este enorme contraste para os problemas enfrentados em terra. Mas seria preciso desamarrar as teias burocráticas e dotar os portos de melhor infraestrutura para receber os viajantes. E tirarmos proveito dos quase oito milhões de quilômetros da nossa belíssima costa marítima.
O relatório do Fórum informa que vários países adotam tratamento diferenciado para favorecer as viagens turísticas, como a facilitação do processo de visto para certos tipos de visitantes. A simplificação varia de acordo com o meio de transporte. Por exemplo, os passageiros de navios de cruzeiro são autorizados a desembarcar sem o visto, assim como os de aviões fretados têm tratamento especial para áreas geográficas específicas ou portos de entrada, especialmente turistas.
É inegável a contribuição do turismo marítimo paras os países mergulhados em grave crise econômica, como Grécia, Itália e todo o Mediterrâneo. São os turistas de cruzeiros desembarcados ali que levam seus dólares para movimentar e atenuar os efeitos das crises locais. Nosso País não precisa de divisas para turbinar também sua economia?
Convém notar que o Brasil ocupa hoje o quinto lugar entre os destinos de cruzeiros marítimos no mundo, mas o crescimento experimenta agora uma freada em razão de custos comparado a outros países sul-americanos, como a Argentina, fazendo com que fiquemos de costas para o mar.
E algumas razões disso estão bem explicitadas no relatório do Fórum Mundial, além dos já apontados na infraestrutura para o turismo terrestre. O Brasil está em 140º lugar no subitem de altos impostos em geral, em 72º no preço das acomodações, na 77º colocação na questão do preço dos combustíveis e entre os últimos (119º) na excessiva burocracia para o setor de viagens e turismo.
Vejamos o outro lado da moeda, que o País não sabe aproveitar. No estudo do Fórum Mundial, o Brasil é o primeiro do mundo em recursos naturais, o sexto em locais reconhecidos como patrimônio mundial e o 16º em locais reconhecidos como patrimônio cultural.
Ou seja, os dados estão postos. Só falta acordar.