Associativismo empresarial no turismo
Artigo de Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação [FBHA, 2013]
Transversal, e por ser uma atividade econômica de grande envolvimento da sociedade, o turismo gera um valor extremamente benéfico para todos os agentes com participação direta neste mercado. Porém, em sua grande maioria, governos, os legislativos e judiciários parecem desconhecer os meandros do funcionamento destas figuras empresariais. Tendem a encará-los como apenas mais um setor prestador de serviços, gerando uma interpretação pasteurizada do segmento. Como consequência, obter um ambiente empresarial mais estruturado, o que propiciaria um crescimento exponencial em nosso funcionamento, torna-se algo distante e difícil.
Este desconhecido deriva, em parte, da falta de pesquisa, de dados sistêmicos e de estatísticas apuradas e compiladas cientificamente e da pouca produção acadêmica sobre esta área da economia nacional. E também, deve-se fazer um mea culpa, da dispersão do empresariado, que se revela sinérgico em seu relacionamento corporativo, mas fraco quando é preciso reunir-se para encaminhar pleitos, reivindicar direitos, defender posições, corrigir distorções e eleger seus representantes.
Esta fragilidade vem do fato de sermos, em grande número, micro e pequenos empresários, mais preocupados com a sobrevivência de seu próprio negócio do que em constituir uma visão holística dos problemas que nos afetam. Somos débeis por não pensar estrategicamente, apesar de sabermos do potencial que temos como grupo – organizado – de pressão.
Todas as pontas da cadeia de turismo, como hotéis, estabelecimentos de alimentação e entretenimento, agentes de viagens, locadoras de automóveis, transportadoras turísticas terrestres, produtores de congressos, feiras e eventos, empresas de aviação, operadoras de cruzeiros marítimos, centros de convenções, conventions bureaux e demais elos desta corrente desenvolvem sua estratégia política setorial com foco nas suas reivindicações imediatas. Só que, muitas vezes, elas podem ser conflitantes entre si.
Além do mais, vemos que as representações sindicais ou associativas formais de primeira instância tendem a replicar o padrão de disseminação e falta de foco, isso quando, não raro, têm objetivos ambiciosos, mas carecem de representatividade, de adesão e de boa arrecadação. Há exceções. Porém, estas ainda precisam conviver com demandas contraditórias de grandes e pequenas empresas.
Diante deste cenário, torna-se necessário alterarmos nossa performance, a partir de um novo paradigma, ao qual chamaríamos de associativismo do patronato. Ao abrigo da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) poderíamos consolidar, por meio da Câmara Empresarial do Turismo, nossas principais exigências. Poderíamos hierarquizá-las com a ajuda de uma metodologia que vislumbrasse seus impactos benéficos a toda a cadeia produtiva e, assim, trabalharíamos unidos pela consecução de maneira cronológica e persistente, podendo utilizar todo o potencial político, logístico e institucional de nossa confederação.
Isto não significa que vamos abrir mão de nossas atuações individuais. Porém, exercitaríamos, no âmbito da câmara, um debate democrático do que deve ser priorizado, começando pelo que trouxesse mais consequências positivas para todos. Este hábito nos daria visibilidade e musculatura para juntos encaminharmos nossos interesses como sendo o do setor, unido e incontentável.
O mesmo ambiente de debate e convergência deve ser estendido a todos os estados, através das câmaras empresariais de turismo das Fecomércios, produzindo efeitos regionais com o encaminhamento de ações junto aos governos estaduais e municipais. No momento atual, o associativismo empresarial do setor é crucial para a consolidação do Brasil como destino turístico mundial.
Teremos renovação no governo federal, nos governos e assembléias estaduais, assim como no Congresso Nacional. As reivindicações serão muitas, como obras de infraestrutura, projetos de desoneração fiscal, previdenciária e trabalhista, essenciais a toda a nação. Entretanto, os novos parlamentares e dirigentes precisam conhecer as questões que afetam o setor turístico e que devem, igualmente, ser corrigidas.
O Brasil experimentaria, nos próximos anos, uma conjuntura contínua de crescimento. Os gargalos estruturais que afetam nosso empresariado devem ser objetos de embate, sob pena de não desenvolvermos todo nosso potencial. Cabe, a nós mesmos, a responsabilidade desta iniciativa, que deve ser realizada de maneira diferente do que temos feito até agora, pois o país não nos esperará.