O papel do turismo brasileiro frente às economias emergentes
[Por Hôtelier, 16/01/2012]
O desenvolvimento significativo das economias emergentes – os chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) -, acompanhado na última década, tem viabilizado crescimento significativo na construção do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Ora, tal tendência segue de mãos dadas ao que acontece no turismo, e esses países – como não poderia ser diferente – patentearam-se como líderes de destinos turísticos nos últimos anos. Nas entrelinhas, para os olheiros do setor, entenda-se como mercados emissores – e, diga-se de passagem, em potencial; em especial no caso brasileiro.
No plano dos fatos, é preciso pontuar que a China vive grande parte deste movimento em decorrência do turismo de negócios, haja vista os baixos preços praticados na república mais populosa do mundo – onde a remuneração da mão de obra segue vinculada à exploração desenfreada, ranço de um regime pretensamente comunista que se perdeu nos séculos – atraem sorrateiros de todo o planeta na tentativa de angariar mercadorias comercializadas a valores baixíssimos.
Para se ter ideia da expansão, as economias emergentes detinham, em 2000, fatia de 38% das chegadas de turistas internacionais. Dez anos após, o índice era de 47% – ou seja, aproximadamente metade dos turistas que viajam pelo mundo vai para estes países. É um conglomerado que pode ser intitulado estelar na indústria turística e, por assim dizer, atrair todos os holofotes.
O Brasil faz jus à tendência, mas na outra ponta – sendo responsável pela parte emissora da efusão. Tal dimensão é afirmada, por exemplo, por números medidos em 2008, quando o País superou o México como mercado emissor das Américas (ficando atrás apenas dos EUA e Canadá).
O conjunto, se visto com olhar cirúrgico, acende um incômodo alerta: a euforia captada pelo turismo tupiniquim só faz crescer quando o País envia turistas a outras nações; e não no lado receptor, o que de fato encorajaria o mercado doméstico.
Pensando nas economias emergentes, os números confirmam tal disparate. A China contabilizou, em 2010, 56 milhões de chegadas de turistas; a Rússia, 20 milhões; a Índia, 6 milhões; e o Brasil, vale o riso, 5 milhões.
O que se desenha, esclareça-se, é um cenário propício para a debilidade econômica que as maiores potências do mundo vêm apresentando. E não seria por menos: nada mais usual do que tais países tentarem se rearticular frente à atual conjuntura econômica – o que pode vir a destituir o turismo nacional, tema discutido à exaustão por essas linhas.
Mas a contramão ocorre, como de costume, apenas com o turismo brasileiro. Os demais BRICs têm se munido para que a indústria turística siga profícua em ambos os sentidos – o que não é regra no Brasil.
O setor, se menos tributado e mais estimulado no País, pode vir a ser o maior disseminador da economia. Não que a atividade não faça seu papel, mas diante de uma nação fornida por natureza esplêndida, população amigável e elementos culturais pouco vistos em outros países, o que se vê é uma indústria refratária frente às imensas oportunidades possíveis.
O momento econômico é bastante delicado na esfera mundial, todavia, há especialistas afirmando que os ranços que alastram o continente europeu e os Estados Unidos não devem reverberar por essas bandas. E é, justamente por isso, que os olhos se voltam para o Brasil. Com a rachadura inédita na armadura dos gigantes da economia mundial, como não ocorre comumente, tais países não querem pagar a conta de medidas errôneas tomadas há tempos e que agora assolam suas respectivas moedas. Neste caso, a tendência é usurpar os mais de 60 milhões de turistas em potencial que as terras tupiniquins abrigam.
O Brasil precisa nascer para o turismo, profissionalizar-se e colocar o setor nos cadernos de economia, antes que o pesadelo maior se personifique – e o momento positivo da moeda nacional vire história. Está mais do que provado que a atividade é sinônimo de crescimento, no sentido de desenvolver uma localidade, uma região ou um país. Cabe abandonar a lisura e eleger uma postura mais enérgica, com menções que favoreçam o Brasil – e não países que, em outros aspectos, já extraem do País tudo o que podem.