Ana Maria Biselli: "O mercado só se desenvolverá se planejado"
[Por Hôtelier News, 23/08/2011]
A frase que intitula esta reportagem, proferida por Ana Maria Biselli, diretora Executiva do Fohb (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil), é indício de todo o norte que se dá a conversa. É justamente a discussão de como o mercado hoteleiro se engendra para a tomada de ações que fomentou tal debate.
Em editorial, o Hôtelier News questionou o custo de uma hotelaria pouco profissional, cuja produção de dados concisos sobre o setor ainda é uma aspiração que não tomou a onisciência desta indústria. A falta de mentalidade para se agir com embasamento em estudos e reflexões, espécie de cicuta para o amadurecimento de qualquer setor econômico, ainda perdura.
Todavia, no Fohb a via de regra não é esta. Notória exceção. “Nós temos pensado muito em gerar mais conhecimento para o trade”, diz. Por isso, Ana Maria ganhou voz para dar os pormenores das diferentes leituras que a entidade realiza, a exemplo do InFohb, estatística produzida com dados de ocupação, diárias média, RevPar (receita por quarto disponível) e outras reflexões e dividendos do mercado. Notadamente, o estudo, divulgado mensalmente, condensa as 24 redes associadas ao Fórum. E há outros – esmiuçados no decorrer da entrevista.
A diretora Executiva do Fohb, que atuou por anos como consultora, trabalha com uma equipe de mais quatro pessoas num conjunto no quinto andar de um prédio no Jardim Paulista, em São Paulo. De lá, articula todas as ações da entidade.
“A estrutura principal é essa. A cada dois anos é eleita uma nova diretoria. No final do ano passado foi eleita a diretoria deste ano, que segue até 2012, com cinco vice-presidentes e um presidente, que é o Roberto Rotter. E aí temos o Alexandre Gehlen, que cuida da área de TI, o André Monegaglia, que cuida do Administrativo / Financeiro, o Emanuel Baudart, que cuida do Comercial, o Julio Serson, de Relações Institucionais, e o Francisco Garcia, que cuida de Recursos Humanos e Responsabilidade Social. Cada um tem um olhar sobre a área na qual trabalham”, explica.
Já o presidente do Conselho Consultivo é sempre o último presidente, no caso Rafael Guaspari. O mesmo acontece com o vice-presidente, nesta gestão sob o nome de Roland de Bonadona. “Essa é a estrutura básica, mas o nosso braço mesmo tem uma estratégia de unir a equipe Fohb e a estrutura das redes associadas”, conta.
Com esta base é que a instituição tem desenrolado os quatro eixos de atuação da gestão de Roberto Rotter: fortalecer a integração, seguir compartilhando, capacitação e bem-servir sempre – melhores elucidados abaixo.
Deste direcionamento também tem surgido pleitos comuns ao mercado, como visitas ao MTur (Ministério do Turismo) para alinhar necessidades afins da hotelaria. Nesta entrevista exclusiva, Ana Maria Biselli dá luz do que são esses projetos, como eles têm sido conduzidos, quais as perspectivas de mercado, onde estão os buracos, quais as praças que vivenciam momentos positivos, quais as carências de formação da hotelaria e, principalmente, como tem sido o alinhamento de informações com outros representantes da indústria turística.
Por Dênis Matos
“É necessário haver uma saída porque não faz sentido você
criar uma oferta hoteleira pensando em Copa do Mundo”
Hôtelier News: O relacionamento com outras instituições do setor tem funcionado?
Ana Maria Biselli: O Rotter, quando assumiu, estabeleceu alguns eixos principais com focos de ação. E um deles é fortalecer a integração não só entre as entidades, mas também com o setor público. Nós somos um segmento único, não adianta agirmos separados. É claro que podemos ter alguns entendimentos diferentes ou algumas necessidades diferentes, mas certamente temos muito em comum.
Isso já vinha sendo feito desde o começo do ano, buscando aglutinar melhor as entidades que formam o setor hoteleiro, e termos conseguido esta audiência no MTur foi uma vitória, entregando um documento comum para as entidades.
HN: Algum fruto desta visita já?
AB: Foi muito produtivo. Tanto o Flávio Dino quanto o Pedro Novais se colocaram muito à disposição, inclusive nos trâmites do Legislativo.
Nós vamos fazer também um evento com os parlamentares. Os projetos de lei do Turismo são, normalmente, absurdos, sem consulta do setor. Temos feito um trabalho no Fohb de acompanhar os projetos de lei que vêm saindo. De um lado observamos o que tem saído e de outro analisamos questões que de fato precisam ser trabalhadas como projetos para favorecer e não truncar.
Por isso faremos o Encontro Estratégico do Setor Hoteleiro com os Parlamentares. Possivelmente vai acontecer até o final de agosto. O que vale deixar claro é que não é um evento do Fohb, mas sim do setor hoteleiro. Precisa haver uma liderança senão não funciona, para tratarmos desde aspectos relativos à Copa do Mundo até coisas específicas.
A Câmara dos Deputados, além de fazer os projetos de lei, também funciona como órgão que fiscaliza o Executivo e as obras. Por isso eles também querem saber qual é o posicionamento do Fohb em relação à Copa, então o tema será abordado – mas não será o único, vamos falar de outros pontos que empacam ou podem favorecer o setor.
HN: E a ideia é levar esses estudos do Fohb ao Ministério?
AB: Uma das metas importantes é a ideia de seguir compartilhando. Isto sempre foi o DNA do Fohb ao dividir as informações. Sabemos que o mercado só vai se desenvolver bem se planejado. Você não sabe nem o que desenhar se isso não estiver alinhado. E levar isso ao Ministério é parte do plano.
Nós temos se preocupado bastante em ter uma informação confiável, além de estimular que outras entidades façam isso. O InFohb é um exemplo e já existe há mais de cinco anos. E nós temos percebido, mesmo dentro do Fohb, um crescimento muito grande de amostragem. Hoje estamos beirando uma média de 90% de amostragem, sinal que todo mundo quer participar pois sabe da importância que isso pode trazer para o mercado. A falta de informação engana muito, você acha que pode trazer benefício mas, de repente, você tem dez hotéis sendo construídos na mesma rua pois não há dados corretos. Tudo bem, todos sabem que o mercado está bem, mas isso não significa que há viabilidades econômica e financeira. Esta cultura da entidade já vem sendo ampliada para dentro do Fohb e para fora também.
Sabemos o quão complicado é. Aqui no Fohb estamos falando com 24 redes, ou seja, já são 80 mil quartos. Imagina como isso ocorre na ABIH [Associação Brasileira da Indústria de Hotéis], quando você tem que falar com todos os estados, que têm lideranças específicas, há regionais que são mais ou menos favoráveis. Na ABIH de Minas Gerais, por exemplo, há um sistema de estatística e monitoramento super bacana. A Silvania Capanema, que é a presidente de lá, desenvolveu junto com os hoteleiros um bom projeto. Ela faz isso há muito tempo, o que traz um benefício enorme. Sem contar que ela se dedica a comprar os números de lá com o InFohb. São pessoas que dão valor às estatísticas.
HN: E o Placar da Hotelaria neste meio?
AB: É um material que contribuímos com informações do Fohb tanto no que diz respeito a histórico de desempenho e também na tomada de decisões. Elegemos uma empresa isenta nisso, que é a Hotel Invest, para fazer a análise. Há dez anos eles atuam no segmento hoteleiro e conhecem bem o mercado. A ideia é que eles também utilizassem a base de dados deles e a metodologia.
Por isso, quando falamos das estatísticas do Fohb, estamos falando da amostragem da entidade. Agora, com o Placar da Hotelaria, justamente para podermos fazer mais projeções, analisar a expectativa de crescimento da demanda e da oferta, nós não poderíamos ficar restritos à base do Fohb. Além disso, nós fizemos questão de chamar uma empresa isenta para que não dissessem que o Fohb está fazendo reserva de mercado. Não é isso, queremos de fato mostrar o que está acontecendo, quais são as perspectivas. Foi então que unimos essa empresa parceira e o Senac São Paulo, outro grande aliado, para analisar as informações e complementar. A HotelInvest já tinha uma base de dados, já tem um relacionamento com as ABIHs, permitindo que eles complementem e ponderem as estatísticas do Fohb. Assim, as análises são feitas em cima de uma base maior.
“Iniciativas já existem, somos favoráveis a este tipo
de pesquisa, é um dos princípios do Fohb”
HN: E qual é a participação dos hotéis neste sentido?
AB: É importante dizer qual é o papel das empresas neste projeto. A função do Fohb é passar as estatísticas e as expectativas para os próximos anos e para futuros projetos. A HotelInvest pega esses dados do Fohb, os dados da própria empresa, complementa com pesquisa na cidade, pega a oferta futura do Fohb, avalia cada projeto desta oferta, mescla com a oferta futura de outras unidades que não são Fohb e só então analisam tudo isso. É aí que o Senac entra, fazendo a divulgação deste conhecimento. Cada um tem seu papel.
Por isso eu fico muito tranquila em dizer que o Placar da Hotelaria, apesar de ser uma iniciativa do Fohb, não é uma análise apenas dos nossos dados. Quando você observa os resultados é possível verificar que há locais que não existe projeção por não haver uma amostragem significativa. Eles se preocupam muito em apresentar os resultados de forma fidedigna. Desde o início do projeto deixamos claro que ele não era um produto do Fohb, que a ABIH precisaria estar junto conosco. Então enviamos um ofício para o Enrico Fermi Torquato, presidente da ABIH Nacional, para que ele encaminhasse a todas as ABIHs estaduais convidando todos a contribuir com informação, pois esta é uma ferramenta útil para o setor.
E foi até engraçado porque quando apresentamos o estudo ao ministro do Turismo ele se espantou: “É daqui que estão saindo todas as informações”, já que há outros ministérios fazendo uso desse conteúdo.
HN: O setor ainda não tem essa mentalidade de produzir informações?
AB: De fato é complicado. Nós temos muitas iniciativas nesta linha. O InFohb é um caso, nós já conseguimos fazer com que ele seja mensal. Pode até atrasar um pouco, porque depende do preenchimento das redes e por isso é necessário esperar uma boa amostragem. Agora vamos fazer algumas análises trimestrais, semestres, para ter uma leitura diferente. O Placar da Hotelaria, que até 2015 vai acontecer, sendo alimentado de seis em seis meses, nós já estamos na produção da terceira edição. O Hotelaria em Números, que é um produto que já existe e é muito bom, nós sabemos que ele pode crescer se houver maior participação das empresas. Fechamos uma parceria com a Jones Lang LaSalle com intuito de aprimorar esse estudo, que também olha para o passado e faz uma análise aprofundada dos resultados. Ele é um parâmetro muito importante para as redes utilizarem nas previsões orçamentárias. Este já é um estudo que pretendemos aumentar, estimulando as empresas que não participam a participar.
Há ainda outras iniciativas, como com o Senac São Paulo e com a Fecomercio [Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo], na qual estamos avaliando para fazer um balanço socioeconômico do Turismo. Iniciativas já existem, somos favoráveis a este tipo de pesquisa, é um dos princípios do Fohb.
HN: Como é mensurado isso com as redes?
AB: Quando começamos a construir o InFohb havia grande preocupação com a veracidade da informação. Para que isso ocorra, é necessária uma condição muito séria: que é a confiabilidade desta informação. O hoteleiro só vai ser verdadeiro se ele souber que o conteúdo não será utilizado de outra forma, de forma individual. Existe um sistema no site do Fohb que gera esta informação. Cada rede tem o seu login e senha, e aí eles entram e preenchem, mensalmente, dados de cada unidade hoteleira. Ele também pode importar uma planilha em Excel, que já tenha os dados dele – senão a Accor, que tem muitos hotéis, ia querer nos matar. É possível importar a informação para o sistema. Depois de mensuradas, eles conseguem ver a rede em relação ao mercado de várias praças.
É possível fazer filtros, com o que lhes interessam, e aí se faz um comparativo com a praça. Tanto o Fohb, para fazer as análises, e até mesmo as informações que passamos para o Senac, só consegue ver a média do mercado. Nós mesmos só conseguimos ver se tiverem três hotéis preenchidos, para que haja um número razoável para a amostragem e, principalmente, por conta da confiabilidade – porque eu sei quais hotéis estão lá já que o informativo me mostra qual é o set competitivo analisado.
Porém, se uma rede tem dois hotéis numa praça em que um deles já preencheu, nós deduzimos a informação. Para que isso não aconteça tem que ter, pelo menos, três empresas com informação naquela praça. Isto nos limita porque, de certa forma, somente podemos trabalhar em praças que tenhamos uma amostragem de no mínimo três empresas – senão não conseguimos analisar a média daquela praça.
Quando os hoteleiros começam a perceber a ferramenta e a confiabilidade que ela tem, finalmente observam que aquilo é perfeito. Mas ele só pode ver a ferramenta se é associado ao Fohb, o hotel pode até ter um cadastro no site, mas para isso é desativado. É uma forma de estimular para que ele utilize a ferramenta contribuindo para o estudo fique completo.
HN: E como é conscientizar as empresas para isso? Os hoteleiros, principalmente independentes, têm isso amadurecido?
AB: Já melhorou bastante. Trabalhei por muitos anos com consultoria, antes de vir para o Fohb, e às vezes cruzava com situações nas quais você liga para pedir a taxa e ocupação e a pessoa nem sabe o que é isso. Hoje a ABIH também cumpre um papel de formação relevante, o Fohb também contribui nesta linha também. Já existe um entendimento dos parâmetros principais para isso. Agora é preciso partir para um próximo passo: de que compartilhar só pode trazer benefícios e possibilitar ferramentas também.
A Resorts Brasil [Associação Brasileira de Resorts], inspirada também no InFohb, já está em conversa com o Senac para desenvolver algo semelhante. Isso é positivo, sinal de que estamos replicando um modelo que já funciona para o Fohb e que pode servir à outra entidade. Eu espero que a ABIH comece com o mesmo procedimento, seja dentro da ferramenta do Fohb ou de uma ferramenta própria.
HN: A questão cultural, nesta hora, é mais complexa do que viabilizar uma ferramenta?
AB: É cultural, isso é inegável. Nós já vemos uma profissionalização. O Fohb também vem disseminando isso por ter sido criado para dar um tom diferente ao mercado. No Conotel [Congresso Nacional de Hotéis], que tem muitos hoteleiros independentes, nós tentamos disseminar isso com palestrantes ou até mesmo com conteúdo. O Placar da Hotelaria, inclusive, será mais uma vez lançado no Conotel. No ano passado nós apresentamos o Placar e alguns hoteleiros questionaram os dados. Não há essa cultura no setor, mas nós fizemos o estudo de forma correta. Quanto mais nos conseguimos envolver e trazer a ABIH para próximo na realização de projetos como este é melhor.
HN: E em relação aos apontamentos do Placar da Hotelaria, o que vocês encontraram de problemas mais latentes de excesso de oferta?
AB: Nesta edição não houve muitos resultados diferentes da primeira. Houve algumas mudanças em termos de crescimento da oferta em certas cidades. Os locais que mais nos preocupavam praticamente permanecem, que seria Manaus, Cuiabá e Salvador. Natal um pouco também. Manaus e Cuiabá têm uma situação semelhante, com uma oferta muito pequena em termos de quantidade de apartamento. Por isso qualquer evolução na oferta gera um impacto muito grande, pois acaba dividindo a demanda: você tem uma base pequena e aí rapidamente acabam entrando novos empreendimentos para dividir essa mesma demanda com um volume muito maior do que você já tinha. Temos preocupação com o número de empreendimentos que possam vir a surgir por conta da Copa do Mundo de 2014.
É até recorrência em alguns depoimentos do Fohb, pois as pessoas quando veem Placar da Hotelaria pensam que estamos falando da Copa, de como acomodar o turista neste período. E não é isso. O objetivo do Placar é que não haja um desiquilíbrio no mercado.
Quando fizemos a primeira edição do Placar, inclusive, alguns hoteleiros de Manaus e Cuiabá ficaram um pouco desconfortáveis, com medo de perder a possibilidade de ser uma cidade-sede da Copa.
Eu assisti recentemente uma palestra interessante na Secovi [Sindicato da Habitação e Condomínios] sobre essa preparação, tendo como exemplo Londres. E é incrível o processo, eles estão a praticamente um ano das Olimpíadas e já está tudo pronto. E o interessante é que no orçamento previsto eles economizaram 3 bilhões de libras por conta do planejamento.
A mensagem do Fohb, neste sentido, não é que Manaus e Cuiabá não devam ser cidades-sede. Pelo contrário, se elas forem é preciso ter criatividade, fazer planejamento, ter uma boa articulação. Quem sabe até pensar em hospedagens alternativas: escolas, universidades. É necessário haver uma saída porque não faz sentido você criar uma oferta hoteleira pensando em Copa do Mundo.
HN: Fora estas cidades o que há de mais complexo?
AB: O caso de Belo Horizonte aparece como risco moderado. A preocupação é que houve uma lei, publicada recentemente, alterando o zoneamento da cidade. Isto para estimular que houvesse investimentos pensando na Copa. Isto até é positivo, mas precisa ser feito com cuidado. Você não pode pensar numa série de projetos sem pensar nas viabilidades econômica e financeira. Parece que são mais de 30 projetos esperando aprovação da Prefeitura, e se todos eles entrarem talvez pode haver um impacto complicado de excesso de oferta. A HotelInvest vai acompanhar o caso da capital mineira a cada edição, para ver se isso se estabiliza.
Salvador também tem sofrido muito. Há uma oferta considerável entrando nos próximos anos, mas neste ano tem ocorrido uma recuperação interessante da demanda. No entanto, a cidade tem sofrido muito em relação da segurança, o que tem impactado diretamente na hotelaria. Existe uma preocupação não só com a oferta que vai se desenvolver, mas também com a retração da demanda em função da situação do entorno.
Fala-se muito de um vazamento da demanda. Na costa onde fica Sauipe e Praia do Forte você tem um volume de empreendimentos muito grande. O lazer acaba atraindo a demanda para essas regiões vizinhas, e por isso a competitividade não se dá simplesmente em Salvador. Existem muitas praias também fora da capital baiana que, em alguns casos, são mais agradáveis.
Essas são as cidades que chamaram a atenção. Isso não diferiu muito da primeira edição. No entanto, é importante pensar que o que já foi anunciado por se concretizar até 2015, porque um empreendimento hoteleiro demora mais ou menos três anos para ser construído. Basicamente são esses os destaques.
HN: E positivamente, o que se viu?
AB: As outras cidades têm uma taxa de ocupação bastante interessante. Isso não significa que esteja tudo certo, nós prezamos muito a questão da viabilidade econômica e financeira. Quando você faz estudo de viabilidade é preciso olhar qual é a perspectiva de gerar demanda e em quanto tempo isso vai se pagar em relação ao valor aplicado. E nós sabemos que em muitas dessas cidades há um boom imobiliário muito grande que fez com que os terrenos subissem muito os preços.
É raro, por exemplo, você encontrar um terreno em São Paulo e, quando encontra, ele vai competir com os mercados comercial ou residencial.
HN: A expectativa de retorno deles é muito mais rápida?
AB: Normalmente é. Então quando você analisa esse estudo é preciso tomar muito cuidado por conta da interpretação. Você pode dizer que são mercados com demanda e que têm crescido. Mas é preciso aprofundar a análise para ver se o investimento feito vai trazer o retorno esperado. O que vemos aqui é se vai haver super oferta ou não.
O nosso entendimento é que as questões da Copa dependem unicamente de organização. Isso até mesmo no fluxo aéreo. Se dermos agilidade para facilitar a mobilização, não vai haver problemas. As pessoas que visitaram a Copa da África do Sul não necessariamente dormiram nas cidades onde aconteceram os jogos. Depende do nível de articulação que nós fizermos com as cidades vizinhas. Se pensarmos num jogo Brasil e Itália aqui em São Paulo, possivelmente vamos precisar de cidades vizinhas. Isso porque estamos falando de um município com 40 mil quartos. Mas temos Guarulhos, Campinas, outras cidades que funcionariam.
“O hoteleiro só vai ser verdadeiro se ele souber que o
conteúdo não será utilizado de outra forma, de forma individual”
HN: E o que o Fohb tem desenvolvido frente à capacitação para que todo esse trâmite funcione?
AB: A capacitação é parte dos pontos da gestão do Rotter. O outro é o bem-servir sempre, mensagem que queríamos que estivesse no dia a dia do Fohb. Nós nos preocupamos com a Copa do Mundo mas precisamos se preocupar com o que vai ocorrer com São Paulo amanhã, com os eventos, enfim, em qualquer outra cidade que o Fohb está presente é preciso se intensificar.
No que diz respeito ao bem-servir sempre, nós nos dedicamos muito dentro dos grupos de Recursos Humanos e Responsabilidade Socioambiental no que diz respeito aos projetos de capacitação. Apoiamos os projetos do Bem Receber Copa do MTur para disseminar isso, com uma mobilização voltada à divulgação. Demos até algumas sugestões no conteúdo, na carga horária, metodologia, mas temos contribuído mais mobilizando. No Olá, Turista! nós também ajudamos a divulgar.
No ano passado participamos muito de um projeto coordenado pelo Instituto Marca Brasil que se chama Capacitação da média gerência. É um projeto no qual eles trabalham o multiplicador principalmente. E aí cada unidade envia um gerente geral ou um líder de departamento que são treinados para a gestão de pessoas, de liderança, sustentabilidade – e eles repassam este conteúdo aos seus colaboradores. É um trabalho muito interessante, que participamos ativamente e depois até demos um retorno para o Ministério. Ainda não tivemos retorno ainda, mas é um projeto que está caminhando no MTur.
No que diz respeito à EVMH [Escola Virtual dos Meios de Hospedagem], que é um projeto da ABIH feito com o IBH [Instituto Brasileiro de Hospedagem], no ano passado nós não tivemos nenhum envolvimento. Até tentamos contribuir, fizemos algumas articulações, mas eles fizeram tudo pelas ABIHs estaduais. Neste ano foram feitas até algumas divulgações, mas não estamos participando das articulações do projeto.
Já no ano passado nós desenhamos um projeto junto de uma consultoria e as redes hoteleiras. Fomos a campo para ver as necessidades de um hotel econômico, de um midscale, de um luxo. E agora estamos tentando viabilizar isso. Fomos até o MTur para ver se era possível tocar o projeto, mas todo o recurso já tinha sido disponibilizado para as ABIHs com outras frentes. Por isso estamos procurando alternativas, não tem problema algum, temos criatividade para isso e estamos discutindo alternativas para consolidar esse trabalho.
HN: A ideia é oferecer isso apenas para associados Fohb?
AB: Queremos até estender isso para associados e para a comunidade local. Não queremos ficar restritos ao Fohb, mas sim ser uma porta de entrada para o segmento hoteleiro.
HN: E por que esta análise de campo?
AB: Este foi o primeiro passo. Antes de inventar um curso nós fomos ver o que as redes já têm, pois elas já desenvolvem várias coisas. Num projeto deste nós não queremos mais do mesmo, e sim complementar com o que eles não fazem e nós podemos fazer, agregando valor. Por isso primeiramente fizemos um estudo. O próprio Ministério tem as ações deles, por isso a necessidade de complementar, aprimorar.
Considerando que o Fohb está em 110 cidades, não dá para pensar em iniciativas que não sejam criar multiplicadores para estudo à distância. Queremos ver se ainda este ano colocamos isso em prática.
No Bem Receber Copa, conforme fomos nos envolvendo, foi possível constatar algumas barreiras, desde estrutura até questões como inclusão digital. O Olá, Turista! mesmo é feito todo na internet, então quem não tem isso em casa tem problemas de não saber nem entrar na internet. Não adianta você discutir gestão financeira ou sustentabilidade se a pessoa não sabe ler e escrever.
Percebemos também que em alguns perfis, em cidades mais pobres, era importante dar um passo para traz, pois havia pessoas pretensamente alfabetizadas que não sabiam interpretar um texto.
HN: Esta é uma lacuna para o Supletivo Virtual?
AB: Exatamente, o Supletivo Virtual tem como mote dar base para essas pessoas com mais dificuldade, mais carentes, para que depois elas possam participar dos outros projetos de qualificação ou capacitação, seja do Ministério ou iniciativa do Fohb. Mas primeiro ele precisa do Ensino Médio, para depois, quem sabe, até fazer uma faculdade ou um curso técnico.
Temos outras iniciativas pontuais do Bem Receber Sempre, por exemplo, um encontro comercial que fazemos uma vez por ano, quando discutimos temas como distribuição. É uma iniciativa também de capacitação. Com o Convention de São Paulo isso ocorre, tentando fazer algo nesta linha. São pontuais, mas tem a ver com o foco de atuação do Fohb.
Outra questão é que lutamos para que isso ocorra de maneira sustentável. Não só na questão econômica, mas também ambiental e social. O próprio Supletivo Virtual tem esta natureza de trabalhar a questão social. Mas dentro dos núcleos de Recursos Humanos e Responsabilidade Socioambiental trabalhamos também projetos que auxiliem a questão social e ambiental dentro do Fohb como um todo. O primeiro deles foi o termo que assinamos do combate à exploração sexual. É uma causa que já trabalhamos há tempos, as redes já fazem suas ações e nós queremos agora tocar isso como entidade. Queremos ampliar o escopo de atuação do Fohb em todo o País.
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